"Literacia da inteligência artificial" tornou-se "fundamental"

O professor do ISEG Jorge Caiado defende, em entrevista à Lusa, que a literacia em inteligência artificial (IA) é fundamental e considera que o ensino desta tecnologia deve ser introduzido nas escolas desde o início.

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Lusa
12/05/2025 09:35 ‧ há 6 horas por Lusa

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Jorge Caiado

Jorge Caiado lançou o livro 'Inteligência Artificial: Guia para iniciantes', em que ao longo de mais de 180 páginas explica os conceitos da tecnologia, a sua história e desafios.

 

"Acho que da mesma forma que a literacia digital se tornou essencial, agora estamos - digamos - na era da literacia da inteligência artificial", afirma o académico.

A literacia em IA "é fundamental, é uma competência fundamental que temos que transmitir aos cidadãos, aos profissionais, aos estudantes", salienta, porque é "importante compreender" o que é esta tecnologia e desmistificá-la.

"É importante promover esse conhecimento, acho que as pessoas precisam perceber que a inteligência artificial também tem enviesamentos, também tem falhas que pode tomar decisões injustas", até porque "sabemos que os algoritmos são treinados com dados", prossegue.

Em determinadas áreas como a justiça, por exemplo, "a inteligência artificial pode prejudicar as minorias", tal como no recrutamento, em que normalmente os dados existentes têm mais profissionais do sexo masculino.

"Obviamente é importante as pessoas perceberem as limitações" da inteligência artificial, daí que seja preciso "promover a literacia" nesta área, até dando a possibilidade, por exemplo, de colocar uma área de IA na escola logo de início, da mesma forma que se fez há uns tempos com a religião moral ou com outras áreas de cidadania", aponta.

E também é importante dar formação às empresas, defende.

Por exemplo, "criar cursos customizados de introdução à inteligência artificial e promover também manuais, livros, divulgação com uma linguagem simples, acessível para que as pessoas possam facilmente entrar neste mundo", diz Jorge Caiado.

Depois de ter editado um livro sobre 'Python', que é a principal linguagem de programação em IA e ciência de dados, o professor do ISEG foi desafiado pelo editor a escrever o livro sobre IA para leigos.

"Quanto mais cedo as pessoas entrarem neste momento" irão "interpretá-lo de uma forma mais fácil e vão perceber as suas oportunidades, ameaças e limitações", considera.

Jorge Caiado defende também investimento em plataformas educativas, ou seja, há "um conjunto de coisas que se pode fazer para melhorar a literacia" em IA.

Há quatro anos, o académico propôs criar uma pós-graduação em IA no ISEG.

Recorda que a IA não foi inventada agora, reforçando a partida de xadrez entre o campeão mundial Kasparov e a máquina programada pela IBM ('Deep Blue') que o venceu em seis partidas e que tinha sido treinada com algoritmos de 'machine learning'.

As limitações que a máquina tinha na altura hoje já não existem, refere.

Atualmente, "temos mais capacidade computacional, temos mais dados, porque de facto a inteligência artificial é esta combinação de capacidade dos computadores, dados, disponibilidade de dados, não é só dados estruturados, mas sobretudo dados não estruturados que vêm das redes sociais", entre outros.

Depois "temos a computação na 'cloud', que é pôr isto tudo armazenado, processado e de facto é esta combinação destes três fatores que fazem com que a inteligência artificial hoje seja uma realidade", salienta.

Agora, o grande desafio "é preparar uma pessoa para saber utilizar a inteligência artificial", diz.

O académico adverte que um grande desafio é "esta guerra tecnológica" a que se assiste entre EUA, China e UE que "vai fazer com que haja uma maior fragmentação tecnológica de regulação e cada país" criar os seus próprios regulamentos.

"Há, de facto, uma guerra pela supremacia em inteligência artificial e esta é uma nova forma de competição", salienta, uma vez que os países veem a IA "como uma estratégia para a economia, para a segurança, para a influência geopolítica".

O poder económico, a inovação, a liderança em setores emergentes são as principais motivações, com os países a pretenderem ter vantagens militares, na cibersegurança.

"No fundo, é uma influência política global que todos procuram. Agora, isto vai criar uma certa fragmentação tecnológica porque cada um vai gerar os seus regulamentos", reforça, considerando que era competição "pelo desenvolvimento sem responsabilidade ética vai aumentar as tensões internacionais, como já está a acontecer".

Depois, "é evidente que sabemos que, com o surgimento da inteligência artificial generativa e dos modelos de LLM, dos modelos de linguagem de larga escala, que permitem processar texto e imagens, surgem em novas formas de desinformação".

Para combatê-la é preciso adotar soluções que minimizem essa desinformação, desenvolvendo ferramentas "de verificação automática de imagens, de factos, de texto, criar etiquetas de conteúdos gerados por AI, para percebermos" o que é real e é "preciso reforçar as políticas de utilização das plataformas, de regular as plataformas digitais", prossegue.

"Temos que reconhecer que, de facto, a inteligência artificial representa uma das maiores transformações tecnológicas deste século", com benefícios e riscos, onde se inclui requalificação das profissões ou preconceitos com os algoritmos, por exemplo.

Como oportunidades, "vejo muitas: acho que setores como a saúde, a educação, os serviços públicos com mobilidade, os transportes, tudo isto poderá beneficiar a sustentabilidade com maior otimização dos recursos energéticos e hídricos", defende.

Contudo, "tem que haver equilíbrio entre a inovação e a responsabilidade", remata.

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