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Políticas populistas metem medo e preocupam cristãos

A nova secretária-geral da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade (CIDSE) considerou hoje à agência Lusa que o crescente populismo no mundo a "preocupa muito", sendo o "inverso" daquilo a que a sua instituição se propõe.

Políticas populistas metem medo e preocupam cristãos
Notícias ao Minuto

08:55 - 15/03/18 por Lusa

Política Rede

Numa entrevista à Lusa em Lisboa, onde chegou quarta-feira para uma conferência promovida pela Fundação Fé e Cultura (FEC) e regressa hoje a Bruxelas, sede da CIDSE, Josianne Ghautier lamentou que o conceito de populismo é, em si mesmo, o contrário da solidariedade, porque se trata de "simplificar" as questões importantes que "precisam de reflexão".

"As políticas populistas preocupam-nos muito. É o inverso da solidariedade, cada um trabalha pensando em si. Os países têm os seus próprios interesses e esquecem-se que têm responsabilidades comuns", declarou Josianne Gauthier, eleita em setembro secretária-geral da CIDES, natural de Montreal (Canadá), onde nasceu há 43 anos.

"É um processo de simplificação de questões importantes e que precisam de reflexão. A economia não é uma questão simples, nem a agricultura, nem a educação, mas os políticos populistas simplificam para o seu próprio interesse e metem-nos medo. Isso é o contrário do nosso trabalho em prol da esperança, do crer", acrescentou.

Licenciada em Direito pela Universidade de Montreal e advogada de profissão, a responsável da CIDSE, rede que reagrupa 18 organizações de solidariedade católicas de 16 países, em que Portugal está representado pela FEC, lembrou que, atualmente, existem "desafios globais" que têm de ser combatidos pela fé e pela solidariedade.

Nesse sentido, Josianne Gauthier lamentou a existência de conflitos violentos, sobretudo religiosos, as violações aos Direitos Humanos, os desastres humanitários, as catástrofes naturais e a crescente tendência contra a migração e a persistência do racismo e da xenofobia.

"Os conflitos são um mal humano. Existem nas religiões, nos países, entre famílias, em cada lugar e acontecem quando nos esquecemos que estamos todos interligados, quando pensamos que não temos responsabilidades frente a outras pessoas", frisou, em Português, que aprendeu quando trabalhou em Fortaleza (Brasil).

"Não tenho a solução, mas, se cada pessoa fizer um pouco, o que lhe seja possível, para inspirar outra pessoa [na paz e solidariedade], dando exemplo de uma vida feliz e de dignidade, isso seria o princípio do fim dos conflitos", sustentou, salientando que esse papel não é exclusivo dos cristãos, mas de todas as religiões.

Questionada pela Lusa sobre se tal atitude pode ser considerada, nos tempos que correm, uma utopia, Josianne Gauthier defendeu que a fé é a resposta.

"Temos de crer, temos de ter fé. Não são conceitos separados, são a mesma coisa. A nossa fé, a nossa ação. Temos de crer. Nas pessoas, no mundo, no amor. E isso alimenta a nossa esperança e dá-nos energia. Não só os cristãos, todas as religiões, temos de crer que é possível", insistiu.

Sobre as prioridades da sua ação à frente da CIDSE, a secretária-geral da instituição, cuja conferência de quarta-feira versou o tema "Repensar o Desenvolvimento", indicou haver duas preocupações principais que, apesar de separadas, se complementam -- apoiar projetos ligados ao clima, energia e alimentação e também subjacentes aos Direitos Humanos, empresariais e sociais.

Prioridades também que são transversais à atuação da CIDSE são questões como a igualdade de género, o papel da alta finança no desenvolvimento, resolução de conflitos e analisar novos modelos de desenvolvimento, tudo, de preferência, em rede.

Segundo Josianne Gauthier, a CIDSE é uma organização da sociedade civil católica, mas não pertence à Igreja, apesar de manter um diálogo constante com o Vaticano.

Em Portugal, a rede conta com a Fundação Fé e Cooperação -- a instituição chamou-se até há alguns anos Fundação para a Evangelização e Cultura -- que, por sua vez, opera em três países africanos lusófonos, sobretudo na Guiné-Bissau, onde conta com 47 voluntários, Moçambique (dois) e Angola (um), coordenados pelos 15 funcionários em Lisboa.

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