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Cinco anos, cinco temas. Os momentos-chave da política lusa

No quinto aniversário do Notícias ao Minuto, aproveitamos para ver em revista cinco momentos que marcaram a realidade política no país nos últimos anos.

Cinco anos, cinco temas. Os momentos-chave da política lusa
Notícias ao Minuto

07:30 - 12/08/17 por Pedro Filipe Pina

Política Especial

Cinco momentos, cinco protagonistas principais. A política faz-de pessoas e das suas ideias, faz-se de ideologias e de negociações, de vitórias e derrotas.

Foi em 2012 que o Notícias ao Minuto nasceu.

Nessa altura viviam-se os tempos da troika e da austeridade, o país era governado por Passos Coelho e Cavaco Silva era o Presidente da República 

De então para cá, dissemos adeus a figuras de relevo e abrimos caminho à chegada de novos protagonistas. É a democracia a funcionar ao ritmo do tempo, pulsando sempre.

Faça connosco esta pequena viagem pela memória política do país, não apenas a recente, mas também a que, lá bem atrás no passado, começou a fazer o seu inevitável caminho até se tornar presente. 

Passos com Portas fechadas a uma irrevogável saída

Estávamos no início de julho de 2013, mês de um verão que teve muito de ‘quente’ para o Governo. Vítor Gaspar, o ministro de dicção tão clara quanto lenta (“e-nor-me aumento de impostos”), saíra do Executivo. Menos de um ano antes, a manifestação contra as alterações na Taxa Social Única provocara o primeiro de momentos difíceis nas ruas para o governo de Passos Coelho.

Passos chegara ao poder com maioria absoluta e com clara margem política após o agitado final do segundo governo de José Sócrates. Mas tinha também pela frente uma tarefa que agarrou com as duas mãos: a de aplicar o memorando da troika, algo que estava pronto para fazer, “indo além” da própria troika.

Maria Luís Albuquerque preparava-se para tomar posse quando o país foi alertado para aquela que seria a maior crise de todo o mandato de Passos Coelho: Paulo Portas, líder do CDS, parceiro do governo, ia demitir-se, e logo com a garantia de que a decisão era “irrevogável”.

A ‘bomba’ política prometia ser explosiva, com estilhaços que desmanchariam o governo de Passos a meio do mandato. Lá fora, e mantendo o tom bélico, disparavam os juros da dívida. Os mercados, entidade que passou a entrar no léxico dos portugueses, faziam o que lhes é característico: agitavam-se.

Mas o momento que podia ter levado ao fim do governo de Passos Coelho provou ser a oportunidade perfeita para o líder do PSD mostrar algo que muitos, incluindo críticos seus, lhe têm reconhecido: a resiliência.

As fundações do seu executivo agitaram-se mas Passos soube segurar Paulo Portas, que se tornou até vice-primeiro-ministro. O governo de então sobreviveu ao seu ‘verão quente’ e mostrou que já não iria ruir por dentro. A haver mudanças, só dois anos depois, em eleições. Assim foi, com Passos a sair por cima perante o que alguns pensaram ser o seu fim.

Notícias ao Minuto

Um 'Seguro' de Costa chamado 'Geringonça'

Os sinais já lá estavam: Catarina Martins tinha dado uma nada subtil ‘achega’ no frente-a-frente com António Costa. Na noite das eleições, o discurso de Jerónimo de Sousa também não deixou dúvidas: o PCP, que historicamente esteve tantas vezes do lado oposto ao do PS, estava disponível para uma solução que derrubasse Passos Coelho e permitisse outras políticas. António Costa, que mesmo entre os seus críticos é reconhecido pelas suas capacidades de negociação, assumiu o risco e fez o que o país não tinha visto: à Esquerda também se aprovam Orçamentos.

Anos antes, por vezes até em tom de brincadeira, os seus colegas de painel da ‘Quadratura do Círculo’ já adivinhavam o futuro de Costa.

Depois de uma vitória clara em Lisboa, Costa foi-se preparando para escolher o melhor momento para derrubar António José Seguro. Fê-lo em primárias, uma estreia no PS, e partiu para uma corrida às eleições que fez da coligação PSD e CDS a força política mais votada. Mas com o debate político tão dividido, com más experiências na Europa de outros partidos socialistas, Costa terá percebido que só tinha uma alternativa a ser ele quem daria o ‘ok’ a novo governo PSD/CDS: teria mesmo de preparar novo governo, minoritário, e contar com a Esquerda para o segurar.

Às aprovações no Parlamento juntou a evolução positiva do quadro económico, a tal ponto que a ‘Geringonça’ chamou a atenção de meios estrangeiros. Enquanto os socialistas europeus vacilavam em Espanha ou enfrentavam derrotas devastadoras em países como a Holanda e a França, o PS de Costa fez o seu caminho.

As sondagens, essas, parecem de há bastante tempo para cá estar do lado do Executivo. Dois anos de Orçamento do Estado estão cumpridos. Novas negociações adivinham-se para o futuro. Mas, até ao momento, os piores vaticínios que à Direita se previam para a ‘Geringonça’ têm falhado.

Notícias ao Minuto

O Cavaco, o 'não político' que mais eleições venceu

Cavaco Silva consegue ser simultaneamente um campeão em eleições e chegar ao fim da linha política com índices de popularidade particularmente baixos.

No dia da tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, a 9 de março de 2016, em direto na SIC Notícias há um daqueles momentos que, não servindo de prova, ilustra um pouco o espírito popular daquele tempo. Junto à Assembleia da República há uma senhora que espera animada pela chegada de Marcelo Rebelo de Sousa. Um dos carros de Estado com vidros escuros chega e ouvem-se aplausos e gritos de “É o Presidente”, mas quando o carro passa perto da senhora ela percebe: “Ah é o Cavaco. Eu não quero o Cavaco”.

O vídeo de baixa qualidade anda pelo YouTube, com poucas dezenas de visualizações, e mostra-nos o momento. Serve para nos lembrar que hoje em dia talvez não será fácil encontrar quem admita pública e orgulhosamente ter votado em Cavaco Silva. Mas não deixa de ser curioso olhar para trás e ver como o homem que se lançou na corrida a Belém em 2005, afirmando que os portugueses sabiam que não era “um político profissional”, conta no curriculum com vitórias atrás de vitórias.

Não era ele o favorito quando em 1985 se candidatou nas internas do PSD. Venceu. Um ano depois, voltaria a vencer, tornando-se primeiro-ministro. Daria ainda uma maioria absoluta ao PSD, com um fulgor que os sociais-democratas não tinham ainda vivido. E já depois de um tempo à margem da política, regressou para pulverizar as eleições de 2005 (maioria absoluta) e ainda renovar o mandato como presidente em 2009.

A história de Cavaco Silva é feita de oportunidades aproveitadas, de triunfos políticos e rivalidades históricas. Mas é também de ironia, seja pelas palavras de Cavaco sobre ele próprio, seja pela trituradora eleitoral que provou ser. Nenhum político venceu tantas eleições no Portugal democrático como Cavaco, o ‘não político’.

Notícias ao Minuto 

Marcelo, da "descrispação" aos afetos

A política é também o momento, como tentámos lembrar uns parágrafos acima com Cavaco Silva. E Marcelo Rebelo de Sousa talvez seja o outro lado desta verdade de La Palisse. Tal como Cavaco, Marcelo conquistou primeiro o PSD. Porém, não venceu em legislativas como não tinha vencido nas autárquicas na capital e foi já no papel de comentador televisivo, domingo após domingo a sugerir livros ao mesmo tempo que ritmava boa parte do debate político e social do país, que o vimos ascender.

Depois de anos de dúvidas, Marcelo assumiu que iria concorrer às presidenciais. Fê-lo ocupando descontraidamente boa parte do centro político e todo o centro-direita. Nessa altura, era à Esquerda que estavam as maiores críticas a Marcelo. Era outro Cavaco, sugeria-se até. Mas um país nunca para e talvez o presidente mais hiperativo que temos visto tenha percebido isso melhor do que ninguém.

Marcelo venceu à primeira volta, garantiu que ia ser um presidente de “afetos” e até sugeriu que a palavra do ano fosse uma invulgar “descrispação”. Entretanto, pode até ter perdido algum apoio entre quem esperava que se assumisse como um opositor ao Governo de António Costa. Marcelo não só não o fez como deu prioridade à estabilidade política, o que lhe terá garantido a atenção de um centro-esquerda que há menos de dois anos não estaria do seu lado.

Por vezes acusam-no de falar demais ou brinca-se com a facilidade e rapidez com que surge noutros locais, muitas vezes no mesmo dia. Certo é que o corte radical com a postura mais distante de Cavaco Silva dão sinais claros de que Marcelo veio para ficar. Marcelo é Obikwelu na velocidade com que participa na vida do país. E é Carlos Lopes na longevidade que dá sinais de ter. Os seus índices de popularidade estão em alta e não há, no horizonte próximo, quem mostre capacidade para o derrotar nas próximas eleições.

Notícias ao Minuto

Mário Soares, o adeus ao amante do combate político

Foi a 7 de janeiro deste ano, depois de semanas internado, que Mário Soares morreu. A morte do histórico socialista e opositor ao regime do Estado Novo teria sempre lugar na história do país. Podíamos até tê-lo recordado na secção de País, onde publicámos o perfil de Mário Soares no dia da sua morte. Mas Mário Soares sempre foi um amante do combate político, nunca se escudando ao debate. Sempre teve opinião, mesmo quando a idade avançada servia de argumento ad hominem no lugar do confronto. Nunca deixou de correr riscos, mesmo quando isso o levou a perder redondamente nas urnas numa altura em que poderia afastar-se e, de longe, qual senador, preocupar-se simplesmente em manter a imagem.

Há uma parte do país que não lhe perdoará nunca o êxodo em massa que o fim das colónias obrigou, pese embora Portugal não ter condições (nem políticas, nem económicas, nem morais) para manter resquícios de um Império que há muito não o era. Há também quem nunca venha a apreciar o seu estilo, o que não só é legítimo como nos atrevemos a adivinhar que não incomodaria o próprio. Por cada cabeça pensante, um Mário Soares se erguerá. Talvez este seja um legado que não se deva descurar em relação a um homem que marcou o país de forma indelével.

Mário Soares nunca deixou de ser alvo de críticas, quer à Esquerda quer à Direita. Mas até ao fim não deixou de ser um amante da política. Fê-lo nos tempos em que tal valia pena de prisão no país da PIDE. Fê-lo como exilado. Fê-lo ao lado de Cunhal e à frente de Cunhal nas celebrações do 25 de Abril e no debate que os dois protagonizaram. Fê-lo quando o FMI aterrou por cá, andavam no início os anos 80. Fê-lo com Cavaco Silva e ao longo de toda a história do PS, partido que ajudou a fundar. No final, no meio de tanto debate político, não deixou de merecer saudações, mesmo entre políticos que noutros tempos viram nele um rival. Foram 92 anos de vida. Uma vida cheia a todos os níveis.

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