Nos sete anos em que passou na direcção de O Independente, Paulo Portas, fez as delícias dos leitores. O seu sangue fresco e a sua irreverência deram origem a pequenas pérolas políticas que o Expresso analisou e publicou na sua revista este sábado. Ninguém escapou ao jovem a quem o Estado incomodava e que se dizia contra o cavaquismo, “a doença infantil da direita”.
Portas descrevia a relação entre o português e o partido como a existente entre o “céptico e um cínico”. Aliás, na altura, o actual líder do CDS defendia que “a maioria dos portugueses não tem grande consideração pelos partidos”. Mas para Portas, há 25 anos atrás, era o cavaquismo que lhe fazia ‘comichão’: Cavaco Silva era “autoritário, paroquial e arrogante”, assim como “egocêntrico” e “ordinário”, lê-se no Expresso.
Aliás, o “cavaquismo é a doença infantil da direita”, que não tinha “noção da qualidade”. Cavaco Silva era um dos seus alvos preferidos, o “tosco e tímido” que se vestia “penosamente mal”. Portas considerava que na altura o actual Presidente da República era da esquerda, mas que pensava que “a direita tem a obrigação de o venerar”. O “Cavaquistão”, “país irreal” criado por Portas, era exemplo disso.
Foi quando Cavaco Silva, na altura primeiro-ministro, se opôs à realização de um referendo sobre o Tratado de Maastricht, o que iria custar a Portugal “milhares e milhares de contos”, que Portas mostrou o auge do seu ódio, ao escrever: “Merecia um estalo”.
Quando Portas defendia que a situação europeia era resultado de uma “germanização da Europa” e não se uma “europeização da Alemanha”, acabou por fazer uma previsão futurista sobre “o que nos espera”. O actual líder centrista previu “uma crise social sem precedentes”, onde “o objectivo do défice obriga a renúncias sociais que o eleitor nem sonha, ou então, a uma vaga de despedimentos da administração pública”. Portas foi vidente, mas não a tempo.
Dogmático, conservador, anarquista de direita. Era assim que Portas se descrevia nos textos que publicava n’O Independente. “Por princípio não gosto do Estado”, nem tão pouco “que o Estado de incomode”. Portas acreditava que lhe bastava ser jornalista, e no dia em que disse que não pretendia se submeter a votos, com certeza que não teve a mesma visão futurista que desenhou a actual crise que Portugal vive.