O antigo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, criticou, na quarta-feira, a atual ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, apontando-lhe "inexperiência politica e operacional" em matéria de incêndios. Disse ainda que deve ser "dada uma prioridade de políticas de prevenção", responsabilizando o primeiro-ministro, Luís Montenegro, pelo seu "abandono".
Eduardo Cabrita considerou que, nesta fase, o foco não deve estar no debate, mas "que deve ser dada uma prioridade de políticas de prevenção" e que estas "devem ser feitas no inverno e ao longo da primavera".
"Nesta fase de combate o que temos é um défice de comando político, uma estratégia de comunicação que praticamente não existiu durante as primeiras três semanas e atrasos graves, quer na valorização da utilização de meios aéreos quer no pedido de intervenção do mecanismo europeu de Proteção Civil, que se traduziu numa resposta menos qualificada", disse em entrevista ao Jornal 2 da RTP2.
Questionado acerca do acionamento tardio do mecanismo europeu, o ex-ministro referiu que "essa decisão se deve fundamentar numa avaliação técnica" e "deve assentar também naquilo que é a ponderação de capacidade de resposta à dimensão de incêndios que temos e também aproveitar aquilo que é a disponibilidade do quadro europeu".
"Governo deve liderar estratégia de comunicação"
"Nós tivemos situações que não foram explicadas, como é possível que todos os Canadair tenham ficado inoperacionais. O mecanismo foi acionado tarde, o que nos levou a depender - e devemos estar gratos - não da solidariedade europeia, mas da solidariedade marroquina, que colocou imediatamente dois aviões pesados de combate em Portugal", notou.
Eduardo Cabrita salientou que "há sinais que são errados, um deles é um sinal de grande distância". "Não digo que o Governo deveria estar nos locais de incêndio, mas deve liderar uma estratégia de comunicação, deve acompanhar aquilo que é o comando operacional e tudo correu mal a dois níveis".
"Um primeiro-ministro que desvalorizou e foi até ofensivo, sobretudo no dia da festa do Pontal. Ofensivo para o sentimento de um país que estava a ver o Norte e o Centro do país a arder como não acontecia desde 2017 e que estava, no fundo, em festa, em férias, como se nada se passasse", apontou.
E acrescentou: "E em segundo, uma comprovada total inexperiência política e operacional nesta área da senhora ministra da Administração Interna, pela qual tenho elevadíssima consideração pela sua capacidade noutros domínios, mas não neste".
Ministra "não tem responsabilidade". "Essa é inteiramente do primeiro-ministro"
Perguntado ainda sobre as palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acerca da ministra e se foi uma justificação politicamente aceitável, Eduardo Cabrita destacou que Maria Lúcia Amaral "não tem nenhuma responsabilidade" e que "essa [responsabilidade] é inteiramente do primeiro-ministro pelo abandono da prevenção [aos incêndios]".
O ex-ministro do governo de António Costa apontou, por exemplo, o facto de o ministério da Agricultura "não ter existido durante dois anos na estratégia de prevenção" e que "programas, como o Aldeia Segura, foram desqualificadas".
"Em 2017, concluiu-se que se gastava demasiado em combate e menos em prevenção. Era necessário gastar cerca de 50% para cada uma das componentes e isso foi sendo equilibrado. Em 2020/2021 foi já atingido e havia ações ao longo do todo ano", disse, salientando que essas ações envolviam não só António Costa (na altura, primeiro-ministro), como também os ministérios da Agricultura, Ambiente ou Defesa Nacional.
Referiu também que "quando este assunto é deixado para uma tema de verão só quando os incêndios ocorrem, já a maior parte disto está perdido" e que "nessa matéria, a responsabilidade é total do primeiro-ministro".
"Agora o que a ministra disse, e penso que foi esse o sentido das palavras do Presidente da República, é que nesta área tem uma total inexperiência de gestão. Mas, quem inicia funções a dois meses da época de maior risco de incêndios, a responsabilidade política também é aí do primeiro-ministro ao fazer uma opção com este tipo de limitações", apontou.
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