O ex-ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, defendeu que não se pode falar só dos incêndios "nesta altura" (período crítico do verão), salientando também que a prevenção "foi totalmente abandonada" nos últimos anos.
"Se algo foi uma lição do traumático ano de 2017 foi que o principal erro do atual Governo, e também da comunicação social, foi concentrar a atenção neste tema apenas nesta altura", referiu Cabrita no espaço de comentário da SIC Notícias.
O antigo ministro do Governo de António Costa mostrou-se ainda disponível para discutir o tema dos incêndios em janeiro ou fevereiro e destacou "três dimensões fundamentais".
"Há a dimensão do combate. Neste momento, temos de ser solidários com aqueles que fazem o combate [aos fogos]. Há a dimensão da prevenção, que foi totalmente abandonada nestes dois anos", disse.
E acrescentou: "Estes dois anos são, desde 2017, os anos com maior área ardida porque essa questão [da prevenção] desapareceu totalmente da agenda. Entre 2018 e 2023 havia uma atenção a programas como o programa Aldeia Segura, programas de envolvimento da comunidade, programas de criação de exercícios de evacuação de aldeias".
Eduardo Cabrita sublinhou também que "há a dimensão estrutural", referindo-se ao "reordenamento da floresta, a alteração do modelo de propriedade, sobretudo no Norte e Centro do país". "Esse minifúndio florestal é fruto da alteração da matriz social. É absolutamente indefensável".
"Há certamente falta de comando político, de ausência do Governo no combate, mas a questão fundamental está exatamente naquilo que não se pode fazer em agosto", sublinhou.
"Podemos admitir que possa haver alguma descoordenação momentânea"
O secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, admitiu, na terça-feira, que podem ter existido momentos de "descoordenação momentânea" no combate aos incêndios.
"Podemos admitir, aqui ou noutro momento, por aquilo que dou nota, da complexidade dos teatros de operações, que possa haver alguma descoordenação momentânea", esclareceu o governante em entrevista à SIC Notícias.
"Muitas vezes a própria velocidade e propagação do fogo é muito mais rápida do que a capacidade de mobilizar meios", explicou, realçando que "todos os teatros de operações têm um posto de comando responsável por gerir os recursos".
Incêndios já consumiram mais de 172 mil hectares
Os incêndios rurais consumiram este ano, até hoje, mais de 172 mil hectares, 32 mil entre sábado e domingo, ultrapassando a área ardida de todo o ano de 2024, segundo dados provisórios do ICNF.
Só entre sábado e domingo, foram consumidos 32.963 hectares.
A área ardida neste período é a segunda maior desde 2017, quando ocorreram os grandes incêndios de Pedrógão, que foi de 201.876 hectares até 15 de agosto.
De notar ainda que os incêndios já provocaram duas vítimas mortais: Carlos Dâmaso, ex-autarca de Vila Nova do Deão, que morreu enquanto combatia as chamas junto a uma propriedade da família e um bombeiro da Covilhã, que morreu num acidente enquanto se dirigia para um fogo.
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