Ana Gomes, ex-deputada do Parlamento Europeu pelo PS, considera que as pessoas nas redes sociais que tiveram reações de “ódio” aos cerca de 40 imigrantes marroquinos que chegaram de barco ao Algarve, já se esqueceram dos familiares que fizeram algo semelhante para ir para outros países europeus.
"Com certeza de que se esqueceram dos pais, dos tios, dos parentes, que foram ‘a salto’ para França, para a Alemanha", afirma a socialista em entrevista à Sic Notícias. "Não iam de barco, mas iam ‘a salto’, ilegalmente, porque não havia outra forma de ir", acrescenta.
A situação, diz a antiga eurodeputada, foi mais uma que foi instrumentalizada pelo líder do Chega para "instigar o ódio".
O mesmo, defende, está a ser feito por André Ventura quanto à questão da Lei dos Estrangeiros, que foi chumbada na sexta-feira pelo Tribunal Constitucional (TC).
"Isto serve que nem mil maravilhas a agenda do Chega, atrás da qual o Governo embarcou a reboque", defende a socialista, acrescentando que a Lei dos Estrangeiros "nem sequer estava no programa eleitoral da AD".
Quanto à manifestação, contra o veto presidencial da lei em causa, Ana Gomes diz apenas que “obviamente, o Chega não vai deixar de fazer foguetório”.
A decisão do TC para Ana Gomes, que desde cedo defendeu o envio do decreto ao tribunal, foi a "esperada" e permitiu ao Presidente da República ter "ganho em toda a linha nas posições que defendeu".
Entre as sete dúvidas levantadas por Marcelo Rebelo de Sousa, cinco foram consideradas inconstitucionais pelo TC, dando razão ao Chefe de Estado português.
Para a socialista, a posição do tribunal veio, de certa forma, afirmar que a Direita está "contra a família", apesar de frequentemente afirmar o oposto.
Quanto às críticas feitas à decisão do TC, Ana Gomes responde: "Houve alguns de Direita que vieram dizer que era uma posição ideológica, como se houvesse alguma posição que não fosse ideológica".
Nas futuras negociações, a socialista diz que é "natural" que o PSD se alie ao Chega dado que é "uma área onde claramente o PSD vai a reboque" do outro partido, defendendo ainda que a nova lei "não se trata de corrigir o que precisa de ser corrigido."
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