A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, acusou o Governo de, "até hoje", não ter sido capaz de "dizer o que vai fazer" sobre as rendas em 2024 e qual será a "limitação" das mesmas no próximo ano.
"Um Governo que tanto fala em estabilidade, em segurança do futuro, que usa o argumento da estabilidade para impor desinvestimento nos serviços públicos, não é capaz de dizer ao país como é que vai limitar esse aumento das rendas em 2024. Há meses que o Governo sabe que as rendas vão aumentar em 2024. As pessoas estão com a corda ao pescoço. Não aguentam, não sabem, não têm nenhuma estabilidade nem garantia de futuro", disse Mortágua aos jornalistas, no Rossio, Lisboa, momentos antes do início da manifestação do 'Movimento Vida Justa'.
A bloquista elencou, entre as várias formas de fazer baixar o preço das casas em Portugal, "limitar as rendas, aumentar a disponibilidade de casas, parar com a especulação e limitar o aumento dos juros pedindo um contributo à banca".
"Estamos a falar do mais básico dos básicos. O Governo tem de dizer ao país o que vai acontecer às rendas em 2024. É o mínimo que se pode exigir. É incompreensível por que é que, passados tantos meses de saber qual vai ser o aumento de rendas, ainda nada foi dito às pessoas, que estão aflitas sem saber como será o futuro", continuou, rejeitando que um eventual travão ao aumento das rendas possa levar os proprietários a retirar os seus imóveis do mercado de arrendamento.
"Não quero acreditar que neste país seja negado o acesso à habitação por uma teimosia, quando na verdade os senhorios podem pôr as suas casas no mercado. Há um conjunto de incentivos fiscais para que isso aconteça e a rendas que já são muito altas", argumentou, questionando "se em nome de valores de especulação e da ganância ilimitada, vamos sequestrar o futuro, vamos privar uma geração inteira a ter acesso a uma habitação e a uma ideia de família e de futuro".
Para Mariana Mortágua, a receita para resolver os problemas no setor da habitação passam por dois passos: "Os salários têm que subir" e "o preço das casas tem de descer".
"Neste momento, não há nada que o Governo esteja a fazer que garanta a descida dos preços das casas", criticou a líder bloquista, alertando que, com base em previsões do Instituto Nacional de Estatística, "se nada for feito, o aumento das rendas no próximo ano será de 6%". Rendas estas "que já estão em valores insuportáveis com os salários que hoje ganhamos", disse.
Salários "são vergonhosamente baixos"
A coordenadora do BE juntou-se à manifestação do Movimento Vida Justa, em Lisboa, para "prestar solidariedade pelo direito dos cidadãos a vida justa".
"Metade dos trabalhadores em Portugal recebe mil euros ou menos, há um milhão que recebe o salário mínimo nacional e as contas são muito simples de fazer: Como é que alguém paga uma casa para poder viver", questionou hoje Mariana Mortágua.
A bloquista deu como exemplo "cidades que são despojadas das suas pessoas, de habitantes que são expulsos da cidade" porque deixaram de conseguir pagar uma renda ou a prestação de um crédito à habitação.
Para Marina Mortágua, só se alcança uma vida justa quando os cidadãos tiveram mais poder de compra e para isso é necessário que os salários aumentem, melhor saúde e melhor educação.
"Os salários em Portugal são muito baixos, são vergonhosamente baixos e não é só o salário mínimo", afirmou.
Uma vida justa também será alcançada se houver uma revisão do preço das casas e apoio à habitação.
"O preço das casas tem de ser revisto e, neste momento, não há nada que o Governo esteja a fazer, que garanta a descida do preço das casas. Pelo contrário, as primeiras linhas do orçamento, sendo que o Governo tem um manifesto de intenções a dizer que, de facto, a habitação é uma prioridade para este Governo", referiu.
Reclamando "casa para viver, transportes para todos, aumento dos salários", a manifestação pretende também ser um alerta "contra a repressão policial nos bairros" e pelo fim do "aumento de preços".
"Os nossos problemas parecem invisíveis. Apesar de criarmos riqueza e trabalharmos todos os dias, haja pandemia ou não, a verdade é que aquilo que se vê nas televisões, aquilo que se preocupam os governos é com os banqueiros e 'contas certas'. São sempre contas para quem é rico nunca pensam em quem trabalha", criticam os organizadores da manifestação do movimento que nasceu nos subúrbios e bairros mais pobres.
[Notícia atualizada às 16h51]
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