No seu comentário semanal na SIC Notícias, este domingo, Ana Gomes abordou os ajustes diretos da Jornada Mundial da Juventude, considerando que existe "falta de transparência no processo", e ainda o adiamento do Conselho de Estado - que segundo a própria prova que o 'braço de ferro' entre Costa e Marcelo ainda não foi resolvido.
Começando pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a jurista lembrou que houve "78% dos contratos que neste ano dispensaram concursos, feitos através de ajustes diretos, sendo que 46% foram feitos só neste ultimo mês", mas considerou que "o facto de estes não estarem ainda publicados no portal dos contratos é o mais grave".
Para a comentadora, este pode não ser um sinal de que há "corrupção", mas há a possibilidade de verificar-se uma situação grave daqui resultante, que é o facto de "poder haver consequências" caso "esses contratos feitos por ajustes diretos forem impugnados e levarem a que o estado seja condenado a pagar indemnizações a empresas que não puderam concorrer".
"Isso pode custar-nos caro", sublinhou, reforçando que "haver favorecimento pode gerar muitas questões, impugnações, pedidos de indemnizações que nos saem caras".
Por esse motivo, Ana Gomes disse preferir "ver o lado positivo" da JMJ e esperar que estas jornadas "sejam a oportunidade ouvir a mensagem do Papa e trazer aos jovens um sentido de humanidade".
Relação 'azeda' entre Costa e Marcelo?
Outro dos temas abordados no seu espaço de comentário, foi o 'adiamento' do Conselho de Estado, realizado na sexta-feira, dia 23 de julho.
A reunião do Conselho de Estado foi dedicada à análise da situação económica, social e política do país, tendo terminado sem a divulgação de conclusões. Alguns meios de comunicação social noticiaram, entretanto, que alguns conselheiros teceram duras críticas ao Governo.
Ana Gomes considerou que "não percebemos bem porque é que o Conselho de Estado que foi anunciado por Marcelo em maio [...] foi interrompido de repente". A comentadora apontou "duas versões" da história.
A primeira indica "que o primeiro ministro precisava apanhar um avião para a Nova Zelândia", para assistir ao Mundial de Futebol Feminino, situação que não recebe o apoio de Ana Gomes, que diz não ser adepta de que "se vá ao futebol com o dinheiro do Estado".
A segunda versão é a de que "Costa não interrompeu nada, ia responder às críticas que tinha ouvido, e que foi Marcelo quem adiou o Conselho de Estado para setembro, não permitindo a Costa responder às criticas de que terá sido alvo".
"Não sei qual a versão certa, mas isto sugere que de facto o enfrentamento entre ambos, que se tornou público com caso Galamba, ainda vai no adro" considerou.
O diploma dos professores, sobre a progressão da carreira dos docentes, que foi vetado por Marcelo Rebelo de Sousa pode ser mais uma página deste clima de tensão entre Presidente e primeiro-ministro: "Por isso é que digo que a procissão ainda vai no adro", voltou a referir.
Para Ana Gomes "o Presidente da República, quanto à substância, tem toda a razão". A antiga eurodeputada disse não entender como é que o Governo tenha deixado este tema arrastar-se durante tanto tempo "com tantas consequências para a educação e comprometendo o futuro". Afirmou mesmo que a culpa não será do ministro da Educação nem do das Finanças, mas sim uma "teimosia do primeiro ministro".
"Esta é uma área que merece especificidade, não pode compadecer com mais adiamentos", considerou, lembrando que "é preciso uma solução".
"E não venham com a história de que não há dinheiro", rematou.
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