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"Governo sai deste ano terrível muito desgastado" e próximo de "ameaça"

Para o Francisco Louçã, o desgaste do Executivo é algo que o primeiro-ministro se recusa a ver, por estar "muito centrado na sua própria força", considerando, contudo, que seria "inteligente fazer [uma remodelação mais ampla]" do Governo.

"Governo sai deste ano terrível muito desgastado" e próximo de "ameaça"
Notícias ao Minuto

23:58 - 30/12/22 por Daniela Filipe

Política Francisco Louçã

Naquela que foi a última edição do seu espaço de comentário na SIC Notícias, o programa ‘Tabu’, Francisco Louçã analisou o panorama político atual que, a seu ver, muito desgastou o Governo do primeiro-ministro. Situação que, considera, que António Costa se recusa encarar, por estar "muito centrado na sua própria força".

Na ótica do antigo dirigente do Bloco de Esquerda, a (nova) polémica que se abateu sobre o Executivo, e que levou à saída da secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, e do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, "terá um ponto de exclamação quando houver a remodelação do Governo", que deverá acontecer antes da discussão da moção de censura apresentada pelo Iniciativa Liberal (IL), provavelmente na quarta-feira.

"É uma decisão muito pessoal do primeiro-ministro, que tem muito a ver com a sua estratégia política. Ele é sempre muito seguro das suas decisões, é sempre minimalista nas remodelações, [e] já fez várias ao longo deste ano. Na verdade, a maioria absoluta é o poder governamental mais fragilizado, exceto na capacidade de decisão", acrescentou, atirando que, "perante a opinião pública, a exposição ao desgaste, a incoerência, a impreparação, a arrogância, todos os tiques da maioria absoluta vieram tão rapidamente ao de cima como não nos lembramos no caso de outras maiorias absolutas".

"Isto é um facto dos tempos que António Costa recusa perceber, por estar muito centrado na sua própria força", disse Louçã, equacionando que seria "inteligente fazer [uma remodelação mais ampla]" antes da discussão da moção de censura, de modo a colocar a descoberto a fragmentação na Direita, apenas com os "votozinhos" do IL e do Chega.

Além de acreditar que "esta conversa de que em 2016 [António Costa] se candidata é uma anedota de fim do ano", o economista apontou que "há algumas características que são demonstrativas de um grande descontrolo político ao longo desta semana", considerando que "haver demissões à meia noite dá um ar soturno para todas estas crises políticas".

Polémica traduziu-se num "facto político de grande dimensão"

"É tudo muito estranho que, durante umas horas, uns dias, alguns dos protagonistas essenciais da decisão política não falem. Falou o Presidente; na verdade, manteve a pressão sobre esta questão. O primeiro-ministro desapareceu; fez um comentário só poucas horas depois da demissão de Pedro Nuno Santos. E vai-se esclarecendo aos empurrões o caso dos 500 mil euros, cuja legalidade ainda hoje não está esclarecida, visto que outras pessoas saíram da administração da TAP e não terão recebido uma indemnização", disse, referindo-se ao cerne da polémica que levou à demissão de Alexandra Reis e, depois, de Pedro Nuno Santos, que pretendia "assumir a responsabilidade política".

Para Louçã, "tudo isto é estranhíssimo e acentua um grande desconforto com a gestão da TAP, com a gestão do dossier, com este procedimento de casta, de corridas da administração de topo de empresas, de pagamentos milionários para outras empresas, e depois para o Governo".

Na verdade, o caso já se traduziu "num facto político de grande dimensão", que tomou forma com a demissão do ministro das Infraestruturas e da Habitação. A seu ver, a decisão foi adequada, uma vez que "estava a ser muito desgastado, razão pela qual António Costa, que o tem como um dos alvos principais do seu ataque político, não o queria deixar sair do Governo".

Ainda assim, a herança de Pedro Nuno Santos será "medida no tempo que vai ter o debate sobre a sucessão e as alternativas para o futuro do Partido Socialista", período longo em que o ex-ministro apostará para a "reconstrução da sua imagem, reafirmação como alternativa, sobretudo se o Governo continuar a insistir em políticas de desgaste social e de confronto social".

O responsável deixa, contudo, três heranças: "Uma muito positiva, que é a do desenvolvimento da ferrovia, a da habitação, que creio que é um fracasso, e este dossier da TAP, que acho que será muito problemático", atirou o bloquista.

Este "bastidor de uma maioria absoluta [...] não é muito bonito"

"Todo o esforço que foi feito para ter uma empresa estratégica como é a TAP vai-se esboroar num negócio que vai ser apressado, mal feito e estrategicamente prejudicial", complementou, acreditando que "a TAP será vendida, agora mais facilmente, e o assunto do aeroporto vai ser resolvido, porventura como propunha Pedro Nuno Santos".

Louçã lançou ainda que este caso evidencia a existência de "um ambiente de noite de facas longas, de perseguição, de insinuação e de conflito, que só mostra o que é o bastidor de uma maioria absoluta, e vê-lo não é muito bonito".

Assim, o Executivo "sai deste ano terrível muito desgastado, sobretudo porque, nas questões mais decisivas, da inflação, do poder de compra, da segurança das pessoas, do ponto de vista económico e do ponto de vista de estabilidade social, o Governo da maioria absoluta está tão próximo de ser visto por muito gente como uma ameaça".

Já Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, "fez tudo o que queria".

"Creio, até, que vê como uma vantagem a saída de Pedro Nuno Santos, e fica à espera daquilo que já não depende dele e que seria o projeto de uma direita recomposta, sem o Chega. Mas o PSD está muito longe de chegar a essa situação", rematou.

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