O vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Partido Comunista Português (PCP) João Ferreira comentou, este domingo, a saída de Jerónimo de Sousa da liderança do partido, anunciada ontem, e respetiva sucessão, que será assumida pelo comunista Paulo Raimundo.
"O percurso de vida que tem vai possibilitar uma coisa muito importante, que é um sentimento de identificação com aqueles a quem nos dirigimos, que é a maioria da população, os que vivem do seu trabalho", advertiu, lembrando que não era só aos sindicatos que se referia. "É com o mundo do trabalho, com as pessoas. A maior parte das pessoas não são acionistas de empresas. Vivem do seu trabalho, do esforço", explicou.
"Paulo Raimundo tem um sentimento de identificação genuíno com as dificuldades que essas pessoas sentem hoje no dia-a-dia. E, por outro lado, as pessoas podem ver no Paulo Raimundo alguém que sentiu as dificuldades que elas sentem", sublinhou, explicando melhor de que forma este percurso "singular" poderia iria trazer uma novidade.
Questionado sobre não ter sido o escolhido para suceder ao secretário-geral cessante, o comunista falou sobre como havia várias opções para assumir o cargo, defendendo que "a primeira coisa a perceber quando discutimos estas coisas é que o PCP é um partido diferente".
"No PCP a direção é coletiva. O secretário-geral tem papel muito importante mas não decisório - tem um papel que passa por duas coisas fundamentais", a considerou, explicando que uma delas era "o fator promotor e respeitador de um trabalho coletivo". "A ideia de que, normalmente, mais cabeças pensam melhor do que apenas uma", referiu.
Já quanto ao outro papel de quem assume a liderança comunista, o responsável, que faz parte do Comité Central do partido, explicou que diz respeito à "dimensão pública" do PCP. "Traduzir na sua intervenção individual aquilo que são a análise, orientações e decisões coletivas", apontou.
Questionado sobre onde é que o próprio não conseguiria capaz de cumprir com estes dois papéis, Ferreira foi peremptório: "Não está em causa se era ou não. Acho que até existam várias soluções".
"O que houve até agora foi um processo - bastante amplo - de auscultação individual dos membros do Comité Central de discussão nos organismos executivos - no secretariado e na comissão política - da qual resultou esta proposta e é sobre esta proposta que o Comité se irá pronunciar", confessou.
O Paulo Raimundo é, apesar de ser dessa geração mais jovem, das pessoas com mais responsabilidades no PCP. Com as mais altas responsabilidades"O responsável continuou a explicação e afirmou que houve uma "convergência muito assinalável" na escolha de Paulo Raimundo, não só pelo seu percurso de vida, como também a experiência que "adquiriu fruto das responsabilidades que adquiriu no PCP".
Questionado sobre o seu caráter combativo e em como tem sido um "trunfo no combate eleitoral", João Ferreira não hesitou: "Como tantos outros. Como o Paulo Raimundo é. Tem sido e é".
Confrontando com a estratégia do PCP de trazer a juventude para o partido, e da qual faz parte, Ferreira voltou a falar no próximo secretário-geral.
"O Paulo Raimundo é, apesar de ser dessa geração mais jovem, das pessoas com mais responsabilidades no PCP. Com as mais altas responsabilidades", afirmou, lembrando que também este é seu colega no Comité.
Antecipando por que razão Raimundo não teve "atenção", ou esteve em tantos debates como ele, Ferreira apontou o dedo à comunicação social: "Não se pode é ter critérios jornalísticos impiedosos e simultaneamente não dar essa atenção a alguém que os justificava pelas responsabilidades que tem e depois vir cobrar essa falta de atenção".
"O Paulo Raimundo nos anos que leva de intervenção política teve responsabilidades diretas no acompanhamento de realidades como a intervenção sindical. Um conhecimento e uma ligação ao mundo do trabalho muito fortes", defendeu, acrescentando também à lista organizações regionais por todo o país. "É conhecedor de várias realidades de todo o país", rematou.
No sábado à noite, o PCP anunciou através de comunicado que Jerónimo de Sousa, "refletindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha" como secretário-geral do PCP.
No próximo sábado, 12 de novembro, em reunião do Comité Central do PCP, "será feita a proposta de eleição de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP", lê-se no mesmo comunicado.
Leia Também: Jerónimo disse que ninguém é insubstituível. "Camaradas perdoar-me-ão"