Um dos principais temas da semana foi a apresentação do projeto da Linha de Alta Velocidade (LAV), pelo governo, que pretende revolucionar a ferrovia portuguesa e ligar Lisboa ao Porto em apenas 1h15. No seu espaço de comentário na CNN Portugal, na quinta-feira, a antiga líder do PSD Manuela Ferreira Leite criticou o Governo, mas deixou as palavras mais fortes ao antigo primeiro-ministro José Sócrates.
Começando por atirar farpas ao Governo do Partido Socialista por ser "bastante perito em lançar ideias", argumentando que "são falados para serem uma ideia", a antiga ministra da Educação e das Finanças em dois governos diferentes referiu-se sempre ao projeto como TGV, uma "deia que vem desde o engenheiro Guterres" e que se intensificou com Sócrates.
"O TGV foi uma das paixões do engenheiro Sócrates - e esse tema para mim é caro, porque na altura eu era a presidente do PSD, era a oposição ao engenheiro Sócrates, e foi um dos temas preferidos das nossas discussões e dos nossos debates. E eu penso que ele sempre considerou que eu era atrasada mental, por considerar que bem podia ele discutir o que quisesse porque pura e simplesmente não havia dinheiro para o fazer e escusava de estar a anunciar uma coisa que sabia que não se podia fazer. Mostrou-se que não havia dinheiro porque estávamos, pura e simplesmente, em bancarrota", afirmou Manuela Ferreira Leite.
Sobre o projeto em si, a antiga líder do PSD, que antecedeu Pedro Passos Coelho à frente dos sociais-democratas, contestou a opinião do Governo e os vários estudos corroborados por especialistas na ferrovia e em mobilidade urbana, ao afirmar que o projeto "não é TGV nenhum".
"A minha guerra contra a TGV, que continua a ser, é que é um tipo de investimento - eu concordo com o investimento na ferrovia e na melhoria na ferrovia - no qual o país precisa de ter uma dimensão geográfica, em quilómetros, para ter um TGV que seja viável do ponto de vista económica", referiu a comentadora.
De recordar que as linhas de alta velocidade são um investimento aplicado por toda a Europa, em alguns casos por países mais pequenos do que Portugal, nomeadamente na Bélgica, que conta com várias conexões intranacionais, e na Dinamarca. Os Países Baixos também têm linhas de alta velocidade, embora estas sejam predominantemente usadas por ligações internacionais para a Bélgica e Alemanha.
Ainda assim, Manuela Ferreira Leite comentou que, em 2009, "todos os estudos mostravam que mesmo que houvesse dinheiro e que ele se fizesse, ele não era viável porque era necessário um fluxo de transporte de pessoas que correspondia a 3 ou 4 voos diários de uma cidade para a outra para ser rentável".
O Governo explicou, no projeto apresentado em Campanhã na quarta-feira, que o objetivo da Linha de Alta Velocidade não é apenas servir a ligação entre Porto e Lisboa - que por si ficará consideravelmente mais curta. Segundo o executivo, a linha do Norte, que conecta as duas cidades e é a principal linha do país, acolhe "quase metade de todos os comboios de passageiros e mais de 90% dos comboios de mercadorias efetuados diariamente no país", que circulam "pelo menos, em parte da linha do Norte".
Manuela Ferreira Leite concluiu reiterando a crítica inicial, mostrando-se pouco esperançosa que o projeto seja mesmo feito. Para a política, a LAV "faz parte da propaganda do governo anunciar coisas". "Antigamente havia inaugurações, agora há anúncios", rematou.
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