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CDS. Cinco candidatos sentaram-se à mesa com críticas a Cristas no 'menu'

O partido escolhe, este fim de semana, em Aveiro, o sucessor de Assunção Cristas.

CDS. Cinco candidatos sentaram-se à mesa com críticas a Cristas no 'menu'
Notícias ao Minuto

21:34 - 20/01/20 por Filipa Matias Pereira

Política CDS

Os cinco candidatos à liderança do CDS 'digladiaram-se', na noite desta segunda-feira, num frente a frente na antena da RTP3. João Almeida, Filipe Lobo D' Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos, Abel Matos Santos e Carlos Meira 'esgrimiram' argumentos, mas em todas as moções há um denominador comum: o CDS tem de recuperar a sua identidade. 

Os candidatos à liderança do partido, que vão a votos no próximo fim de semana, no Congresso dos centristas, começaram por analisar os resultados do CDS nas últimas legislativas, aproveitando a oportunidade para fazer o diagnóstico e apontar estratégias. Nesta análise não faltaram críticas a Assunção Cristas e à atual direção

Pese embora o tom do debate se tenha mantido pacífico, a certa altura os ânimos aqueceram, com Carlos Meira a confrontar João Almeida em relação, entre outros aspetos, aos funcionários do CDS que alegam serem vítimas de 'bullying'. Mas o deputado respondeu de forma perentória: "Sou candidato de cabeça levantada". 

Este frente a frente também se fez de momentos animados e com o mesmo protagonista. Carlos Meira revelou que almoçou, em Viana do Castelo, com Francisco Rodrigues dos Santos e Filipe Lobo D'Ávila, convidando-os para uma coligação. E ouviram-se risos entre os restantes candidatos. 

Em suma, os candidatos são unânimes ao reconhecer que, depois da pesada derrota nas legislativas, que levou ao anúncio de afastamento de Assunção Cristas, o partido carece de uma reforma, de traçar um novo rumo conquistar o eleitorado português. 

Fique com os principais momentos do debate: 

Qual a justificação dos resultados do CDS nas legislativas? 

João Almeida: O CDS não conseguiu cumprir o objetivo eleitoral. Falhou o desafio. As pessoas, para votarem, votam por razões claras, para que ideias sejam aprovadas ou que sejam evitadas. Todos os que fomos candidatos nessas eleições temos de ser responsáveis. 

Que erros aponta à liderança do partido?

Filipe Lobo D'Ávila: Quando nos queremos dirigir a muitos, acabamos por nos dirigir a muito poucos. Depois aconteceram alguns erros que feriram a credibilidade dos eleitores, como o caso dos professores, para além de candidatos de Lisboa colocados noutros círculos. 

Discordou da estratégia que estava a ser seguida, enquanto líder da Juventude Popular?

Francisco Rodrigues dos Santos: O meu lugar na comissão política nacional do partido era por inerência de funções porque a Juventude é autónoma do CDS. Procurei vincar temas que permitissem aos portugueses perceber que o CDS tinha valores constantes, razões agregadoras e causas consequentes para que o partido não entrasse em perda de identidade. 

Estava à espera que o CDS tivesse tão poucos votos?

Abel Matos Santos: Estava à espera e tenho pena de ter estado certo. Já tinha alertado para esta situação, que o caminho que estava a ser percorrido iria desembocar no que deu. O CDS sempre foi um partido ligado a causas importantes do país. Mas o CDS 'descafeínou-se' e deixou de ter interesse para os eleitores. O CDS perdeu o seu rumo. 

Quais são as causas do resultado?

Carlos MeiraO CDS é um partido do povo e esqueceu-se do povo. O CDS quis transformar isto numa 'vaca leiteira', ou seja, produção de leite para 'dar de mamar' a muita gente. Hoje, o CDS tem uma 'mamite', uma infeção que têm as vacas leiteiras. Muitos fugiram para empresas privadas e outros ficaram para dar a cara. Essa senhora [Assunção Cristas] inebriou-se com o resultado de Lisboa e esqueceu-se do que deveria, o povo e o país. 

Propõe-se refundar o CDS e deixar cair o PP da sigla do partido. Que diferença pode fazer?

Filipe Lobo D'Ávila: É um ato simbólico de regresso à identidade do CDS. Hoje temos demasiada Lisboa e pouco país. Temos de olhar para o país todo sem ser com binóculos. Tenciono que o CDS volte a ser um partido coerente, que não vai só atrás do que é sexy no momento. Deve voltar à sua matriz democrata- cristã que é onde o partido faz a diferença. 

Concorda?

João Almeida: O CDS tem mais de 40 anos de história e se disséssemos que queríamos refundar estaríamos a desrespeitar os que fizeram o partido. Acho que não devemos falar em refundação. A identidade do CDS deve afirmar-se. Nunca perdi a identidade, sempre afirmei a identidade do CDS. Temos de dizer ao Governo que é inaceitável, que quando destrata as forças de segurança, haja um ministro que tem essa tutela que diz que os operacionais compram determinado tipo de equipamento por capricho e não por necessidade, quando sabemos como estão as esquadras. A segurança é uma prioridade para os portugueses. 

Este é o caminho?

Francisco Rodrigues dos Santos: O CDS só tem um caminho, dizer e fazer o que realmente pensa e procurar ver o partido através do país e não o país através do partido. Temos de afirmar o que sempre fomos, defendendo a família enquanto célula fundamental da nossa sociedade e respeitando aquilo que somos, um partido patriótico que ama Portugal. Temos de ser o partido das famílias e isso faz-se com propostas concretas. Outro tema que o CDS tem de assumir a dianteira é a reforma do sistema político. Temos de aproximar as decisões dando a última palavra aos eleitores. 

Que causas deve defender para recuperar a identidade?

Abel Matos Santos: Temos um problema interno no país. O partido não tem donos. Não podemos ter o partido refém dos estados de alma de ninguém. O partido tem de ser aberto, democrático e plural. Mais importante do que mudar a sigla, é o sumo. Neste congresso temos de escolher a continuidade ou uma rutura e apostar num futuro de esperança. 

Carlos Meira: O João Almeida quando fala parece que nunca esteve na antiga direção. O CDS maltrata os funcionários que estão em salas fechadas. Queria que o João Almeida explicasse ao país esta forma de tratar dos funcionários. E o negócio ruinoso da venda de um imóvel no Porto à governante angolana. Esta gente esqueceu-se do que é o povo, temos hospitais com urgência em contentores, vamos deixar-nos de tretas. Mas antes de resolvermos os problemas do país, temos de resolver os do partido. 

João Almeida: A tática é velha. Não há nada como, para não falar do futuro, falar do passado. Pergunto aqui, relativamente a estas matérias, em cada moção o que está incluído? Estou aqui para dignificar o partido. Fui secretário-geral e não há funcionário que me aponte o dedo nessa matéria [despedimentos]. Sou candidato de cabeça levantada. 

No espaço da Direita,  o IL e o Chega são aliados ou adversários para as ambições do CDS?

Francisco Rodrigues dos Santos: A questão é que o CDS deve ser pujante o suficiente, dotado de todos os mecanismos necessários, para se afirmar como partido autónomo que é para exercer o poder sozinho. O CDS percebeu que a nossa tradição parlamentar foi violada, o partido mais votado poderá não estar em condições de governar. Nessa medida, à Direita é necessário estabelecer pontes de convergência para se formar uma alternativa e impedir a Esquerda de tomar de assalto o poder. 

Exclui no diálogo à Direita algum partido?

Filipe Lobo D'Ávila: Em 2015 assistimos a um acordo impensável do Governo com os comunistas. O que digo é que à Direita é preciso que os partidos do centro-direita percebam o que aconteceu, que consigam mobilizar o eleitorado e que encontrem um projeto alternativo ao PS. Parece-me essencial um caminho diálogo no centro-direita com quem tenha um diálogo semelhante. Neste momento, não há uma visão coincidente. Não quero que o CDS se transforme num Chega ou num Iniciativa Liberal. 

João Almeida: Não é tornando-nos pequeninos, jogando num campeonato de pequeninos, com partidos que não têm a nossa história, a nossa expressão social, que nunca governaram o país. Não é com eles que tem de nos comparar. Nas últimas eleições, perdemos 13 deputados, esses novos partidos elegeram dois. Quero recuperar a representatividade do CDS na sociedade portuguesa. 

Carlos MeiraChega e o IL estão a crescer porque o CDS é um grupo de amigos. 

Abel Matos Santos: Mais facilmente faço acordos com o Chega do que com o Bloco de Esquerda. Como sou pela competitividade, acho que quantos mais projetos existirem à Direita, mas robustece. O fenómeno do Chega é diferente do IL, agora não podemos ter medo da concorrência. 

Que posicionamento deve ter o CDS em relação ao Governo, deve continuar a recusar entendimentos?

João Almeida: As pessoas esperam que o CDS seja a oposição a este Governo. Toda a gente já percebeu que o ministro das Finanças vai embora mais cedo ou mais tarde e é inaceitável que um Governo, que ainda nem um orçamento aprovou, tenha um ministro nestas situações. Convém que as pessoas estejam  preparadas para as suas responsabilidades. Eu farei tudo para que as ideias do CDS avancem. 

Francisco Rodrigues dos Santos: O CDS é um partido que é oposição ao PS e aos partidos que sustentam esta solução. Se existir um novo contrato social para proteger os jovens que entram no mercado de trabalho, se iniciarmos uma reforma da administração pública para ter saúde a tempo e horas, essa é uma proposta do CDS para melhorar a vida dos portugueses. 

Filipe Lobo D'Ávila: O CDS é oposição firme e assertiva ao PS, mas não somos um partido de protesto. O CDS tem de mostrar a sua utilidade, que se faz através da aprovação de propostas. Isto só se faz com um partido moderado e aberto.

Carlos Meira: O CDS tem de estar aberto a negociar com o Governo. O que for bom para o país tem de aprovar e não tem de ter vergonha disso. 

Abel Matos Santos: O CDS, sendo um partido plural e democrata, tem de saber dialogar com todos. O CDS é um instrumento ao serviço dos portugueses e para influenciar os destinos do país tem de ter peso. 

Pondera desistir em favor de outro candidato?

Carlos Meira: Candidatei-me à liderança do CDS para defender as pessoas que não têm voz. Fiz um convite ao Francisco Rodrigues dos Santos e ao Filipe Lobo D'Ávila para nos unirmos para reerguer o partido. Temos de ter o objetivo de reerguer o partido. Estou aberto a essa coligação. O mais importante é o partido e o povo português.

Abel Matos Santos: Não sei se algum candidato pensa em desistir em meu favor. Acredito que a minha moção é coerente. Levarei até ao fim a minha moção. Isso é uma resposta importante que o partido pode dar ao país. 

Aceita o rótulo de candidato da continuidade?

João Almeida: Se for da continuidade de todas as lideranças do partido, aceito. Trabalhei em vários ciclos e servi sempre o partido. 

Filipe Lobo D'Ávila: A minha moção vai a votos, não está dependente de nenhum arranjinho. Não é a procura de um lugar que me move. 

[Notícia atualizada às 23h44]

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