Ventura acusa o Governo de "perseguição" e polícias 'atacam' Cabrita
Os dois polícias que foram autorizados pelo Tribunal Constitucional a integrar a lista da coligação Basta às eleições europeias acusam o ministro da Administração Interna de querer "desviar atenções" ao mesmo tempo que faz uma "pressão perigosa" sobre o TC. Já André Ventura faz uma leitura política do caso, acusando o Governo de o querer afastar - e aos polícias - das legislativas por medo.
© Basta
Política André Ventura
O ministro da Administração Interna disse, na terça-feira, que vai pedir ao Tribunal Constitucional que avalie, “sobretudo para o futuro”, as candidaturas de agentes da Polícia de Segurança Pública a eleições.
Em causa está a integração de Ernesto Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da PSP (SUP/PSP) e Pedro Magrinho, líder da Federação Nacional dos Sindicatos da Polícia (Fenpol/PSP), na lista da coligação Basta que concorreu às eleições europeias do último domingo.
Aliás, explicou o ministro, foi exatamente para não ser criado "ruído no período eleitoral" que só agora decidiu pedir a “emissão de parecer sobre esta matéria à auditora jurídica junto do Ministério da Administração Interna", para então transmitir ao Constitucional o “entendimento que temos sobre esta matéria e a sua compatibilidade com o exercício de funções policiais".
Confrontado com esta posição do ministro, que inclusive disser ter ficado “surpreendido” por o TC ter autorizado a integração de polícias em listas eleitorais, Ernesto Peixoto Rodrigues ironiza a situação: “O senhor ministro está preocupado com polícias que são candidatos. E eu a pensar que a preocupação dele deveria ser a de pagar os suplementos retirados ilegalmente aos agentes da PSP, conforme o acórdão do Supremo Tribunal Administrativo”, diz em declarações ao Notícias ao Minuto.
Pedro Magrinho, André Ventura e Ernesto Peixoto Rodrigues© Basta
Num tom mais crítico, o sindicalista lamenta que a “preocupação” da tutela não seja a de resolver a “vergonha que se passa com o fardamento dos polícias, com a falta de efetivos e meios, com as más condições das instalações e com o assédio existente na instituição”.
Para Peixoto Rodrigues, com as declarações que proferiu, Eduardo Cabrita está a “pôr em causa uma decisão do Tribunal Constitucional”, ao mesmo tempo que faz uma “pressão inaceitável e perigosa” sobre a instituição judicial.
Opinião semelhante tem Pedro Magrinho que considera “ridícula” a decisão do ministro da Administração Interna.
“Isto não é mais do que uma forma de desviar as atenções dos problemas que existem, não só na PSP, como em outras forças e até na Proteção Civil, especialmente agora que estamos a entrar na época crítica de incêndios”, afirma quando instigado pelo Notícias ao Minuto a comentar.
Tal como Peixoto Rodrigues, também Pedro Magrinho ‘trouxe a lume’ a questão dos suplementos por pagar aos agentes da PSP, mesmo depois de o Supremo Tribunal Administrativo ter determinado a ilegalidade dos cortes.
Mas mais do que desviar atenções, o ministro, refere o sindicalista, “está a dizer ao Tribunal Constitucional que é preciso mudar a lei” que, atualmente, só se refere à proibição de integração em listas políticas das forças de segurança militarizadas.
“Nós não podemos ser arredados da vida social só porque somos polícias. No Parlamento existem deputados com outras profissões, porque é que nós não podemos?”, questiona, recordando: o “TC sabia que éramos polícias e não viu qualquer impedimento na nossa candidatura”.
Por isso, Pedro Magrinho entende que o problema é o “medo”. “Eles viram a força que tivemos nestas eleições e temem o resultado que vamos ter nas legislativas de outubro”, atira.
Já Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) disse esta quarta-feira que "faz todo o sentido" o pedido feito por Eduardo Cabrita ao TC para que avalie as candidaturas de elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP) a eleições, tal como sucedeu nas Europeias.
"Isto parece uma espécie de 'venezuelização' da política"
© Basta
André Ventura vê, assim, a coligação por si liderada no sufrágio de domingo ser alvo de um escrutínio que, garante, não vê a ser feito a outro partido.
Em declarações ao Notícias ao Minuto, o fundador do partido Chega diz que a posição de Eduardo Cabrita “revela a perseguição” que lhe está a ser feita, bem como àqueles que estão ao seu lado na política.
“A partir de agora, a atitude vai ser persecutória”, antevê André Ventura, que compara a situação ao que o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, faz aos seus opositores.
“Isto parece uma espécie de venezuelização da política: quem vence vai atrás de quem foi vencido. Não é nada digno e só mostra que o PS e o Governo estão habituados a usar e abusar das instituições e é isso que querem fazer agora, ao desautorizar aquele que foi o entendimento do Tribunal Constitucional relativamente à integração dos dois polícias na lista do Basta”, afirma.
Em jeito de remate, o professor de Direito considera que esta posição da tutela é mais um exemplo de como as “forças policiais são desrespeitadas pelas instituições públicas”.
“Fica muito mal ao Governo que tem apenas o intuito de perseguir e evitar uma eventual candidatura de polícias na minha lista para as eleições legislativas, porque o Governo sabe a força que tivemos nestas eleições que ficou bem patente no número de votos que tivemos com apenas um mês e meio de campanha”, termina.
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