O fenómeno das notícias falsas começa agora a ser debatido, também, em Portugal. A um ano das eleições legislativas, as fake news são encaradas como uma ameaça à democracia. Miguel Sousa Tavares, que comentou o tema na antena da TVI, referiu que o fenómeno está intimamente ligado às redes sociais, pelo “efeito multiplicador que dão a uma notícia falsa e pela irresponsabilidade com que ela é partilhada”.
Segundo o entendimento do escritor, e também jornalista, “alguém que coloca uma notícia falsa numa rede social é como um incendiário que pega fogo a uma floresta”.
E deu um exemplo de uma situação que se passou com o próprio, há cerca de cinco, seis anos, quando um blogue de educação lhe atribuiu uma frase que Sousa Tavares garante que nunca disse nem escreveu. A frase em questão - “Os professores são os inúteis mais bem pagos deste país”- continua, no entanto, a ser atribuída a Sousa Tavares, apesar de ter sido desmentida várias vezes pelo próprio.
O escritor deu o seu exemplo para mostrar que as fake news podem ser usadas, não só no combate político, como também na difamação pessoa, “para destruir uma pessoa”.
O que preocupa Sousa Tavares é que as pessoas que recorrem às redes sociais são precisamente as que menos informação consomem. E “mais vão às redes sociais e a informação que consomem esgota-se ali, que é onde estão as notícias falsas, isto é um círculo vicioso”, constatou, alertando que é quando esse círculo se fecha que as pessoas passam a consumir apenas notícias falsas e a, consequentemente, formar uma opinião e um sentido de voto com base nelas.
“Foi assim que Bolsonaro se conseguiu eleger no Brasil, não indo a nenhum debate, não indo a nenhuma entrevista com jornalistas que não fossem escolhidos por ele, recusando-se a fazer campanha e unicamente apoiando-se nas redes sociais através de notícias falsas”, recordou o escritor.
Miguel Sousa Tavares não tem qualquer dúvida de que o fenómeno vai chegar a Portugal. “Vamos estar fatalmente em risco porque não temos nenhum vírus anti-mentirosos e porque vamos sempre atrás das modas”, vaticinou, reforçando a ideia: “Somos um país de brandos de costumes mas não vejo porque é que havemos de estar imunes. Infelizmente isto é o futuro".
“O que me preocupa é que amanhã, o nosso voto, feito em consciência, é anulado por quem engoliu a primeira mentira que alguém lhe enfiou no telemóvel”, lamentou, atribuindo ao jornalismo a importância que tem neste âmbito. “O jornalismo nunca foi tão importante para a vida dos povos e para a saúde da democracia como hoje. Por isso é que eu estou aqui”, finalizou.