Petição defende fim da tradição da Vaca das Cordas em Ponte de Lima

Um grupo de ativistas vegan da organização Anonymous for the Voiceless lançou uma petição pública a defender o fim da tradição da Vaca das Cordas, Ponte de Lima, por ser um "ato de pura violência gratuita com fins recreativos".

Vaca com cordas Ponte de Lima

© Global Imagens

Lusa
23/04/2018 16:30 ‧ 23/04/2018 por Lusa

País

Protestos

Intitulada 'Contra a tortura animal. Diz não à Vaca das cordas', o documento lançado na Internet e hoje consultado pela agência Lusa, tinha sido assinado, cerca das 15h00, por 1.136 pessoas.

A petição, assinada pela delegação norte da Anonymous for the voiceless, grupo criado em 2016, é dirigida ao presidente da Assembleia da República, ao presidente da câmara e da Assembleia Municipal de Ponte de Lima.

"Repugnamos a 100% este evento traduzido numa agressão gratuita, que mostra como um ser racional pode ser egoísta ao ponto de não ter compaixão por alguém, que como ele sente", lê-se no documento.

O grupo ativista questiona "se é racional continuar em 2018 a promover o sofrimento do outro", sustentando "ser urgente parar com eventos onde se fomenta o especismo".

"Os animais não podem continuar a ser usados para fins de entretenimento", realça a petição 'online'.

Contactado pela agência Lusa, o presidente da Associação Amigos da Vaca das Cordas, tradição secular daquela vila do distrito de Viana do Castelo, disse que "as pessoas são livres de fazerem o que entenderem", mas garantiu que "a tradição não vai acabar".

"A Vaca das Cordas já existia antes destas pessoas nascerem. A edição 2018, marcada para dia 30 maio, já está a ser preparada. O cartaz deverá ser lançado ainda esta ou na próxima semana", referiu Aníbal Varela.

A tradição da 'Vaca das Cordas' obriga a que o animal, que afinal é um touro, saia para a rua pelas 18h00, conduzido por cerca de dezena e meia de pessoas e preso por duas cordas.

É levado até à Igreja Matriz e preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, "lombo abaixo, para retemperar forças", conforme reza o costume local.

Dá depois três voltas à igreja, sempre com percalços e muitos trambolhões à mistura dos populares que ousam enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila, dando lugar a peripécias, com corridas, sustos, nódoas negras e trambolhões e até pegas de caras amadoras.

Nas ruas do Centro Histórico irá cumprir-se, madrugada dentro, a confeção dos tapetes floridos, por onde irá passar a procissão do Corpo de Deus.

A mais antiga referência que se conhece da 'Vaca das Cordas' remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.

Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis. Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um tempo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.

Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da "deusa vaca" e com ela deram três voltas à igreja, após o que a arrastaram pelas ruas da vila, para alegria de todos os habitantes.

Daí virá o costume da 'Vaca das Cordas', um ritual que foi interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar.

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