Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 14º MÁX 21º

Um museu para crianças, mas são os pais e avós que "viajam no tempo"

Há um lugar onde os mais novos podem acompanhar os mais velhos numa experiência de descoberta conjunta, ainda que muito diferente. Uma no plano histórico, outra no plano das emoções. O Museu do Brinquedo Português, em Ponte de Lima, é o único do género a nível nacional.

Notícias ao Minuto

08:01 - 25/12/17 por Anabela de Sousa Dantas

País Ponte de Lima

Se o Natal é uma época exclusivamente familiar, é também a altura indicada para falar sobre algo intrinsecamente ligado à infância, os brinquedos. Não os brinquedos oferecidos nesta altura às crianças, mas sim aqueles que pertencem à malha da memória coletiva dos adultos.

A vila de Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo, serve de casa para muitas dessas memórias desde junho de 2012, altura da inauguração do Museu do Brinquedo Português, o único do género a nível nacional. Nas estantes, exibe parte do espólio de milhares de peças pertencentes a Carlos Anjos, que coleciona brinquedos desde 1980.

Instalado na Casa do Arnado, no centro da histórica vila minhota, o Museu do Brinquedo Português exibe bonecas, carros de bombeiros e carrinhos, barcos, cavalos de carrossel, rocas, jogos, etc. Tudo datado desde o início do séc. XIX até 1986. “Nós balizamos este período porque com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, a maioria da empresas de produção nacional foi à falência ou decaiu. O brinquedo dito português desapareceu”, afirma Ana Carneiro, coordenadora do Museu do Brinquedo Português.

A responsável camarária recebeu o Notícias ao Minuto no museu, onde fez uma visita guiada pelas inúmeras salas, explicando, como é feito a todos os visitantes, a ordem cronológica pela qual os brinquedos são apresentados, assim como as empresas que os fabricavam e até as dicotomias entre o brinquedo português e o estrangeiro, que servia muitas vezes de inspiração.

Notícias ao MinutoSala dedicada a brinquedos que eram especialmente destinados a meninos (lado esquerdo) e a meninas (lado direito)© Museu do Brinquedo Português de Ponte de Lima

“Neste estilo de brinquedo, de perfil industrial, somos únicos”, explica Ana Carneiro, mostrando as primeiras edições de jogos do Monopólio, por exemplo. “Temos brinquedos manuais, brinquedos em pasta de papel, brinquedos em folha de flandres… A maioria dos brinquedos era construída com essa folha mas como a folha era muito cara pediam às indústrias conserveiras, de atum e de salsichas, para guardarem as latas e depois reutilizavam aquele material para fabricarem brinquedos”, continua.

Uma inciativa necessária mas que precisa de apoio

Até agosto de 2014, existia em Sintra um outro Museu do Brinquedo. Embora não fosse especialmente dedicado ao brinquedo português, como é o de Ponte de Lima, tinha no seu espólio mais de 60 mil brinquedos. Depois de vários anos no centro histórico da vila de Sintra, a falta de apoios ditou o seu encerramento.

O problema são as politiquices… mas isso é outro assuntoCarlos Anjos, colecionador responsável pelo espólio do Museu do Brinquedo Português e também seu coordenador, explica ao Notícias ao Minuto que o Museu do Brinquedo de Sintra “tinha mais peças estrangeiras do que portuguesas” mas que “era uma das melhores coleções da Europa”, lamentando o seu encerramento. “O problema são as politiquices… mas isso é outro assunto”, atira.

O Museu do Brinquedo Português existe devido ao interesse demonstrado pela Câmara Municipal de Ponte de Lima por uma iniciativa deste género. Em parceria com a Associação Concelhia das Feiras Novas, a Câmara assinou um protocolo com o colecionador que durará 15 anos.

“Na época, os vereadores que estavam aqui foram ter com o senhor ao Porto, falaram com ele, ele ficou muito contente, porque andava atrás disso há muito tempo”, elucida Ana Carneiro. A dedicação ao brinquedo mantém-se, contribuindo agora também a Câmara com compra de peças para a exposição, como a sala dos soldados de chumbo e armamento militar, que pertence ao município.

Notícias ao MinutoSoldadinhos de chumbo© Museu do Brinquedo Português de Ponte de Lima

“Está a decorrer agora também uma exposição nossa na Fundação da Caixa Agrícola do Noroeste, em Viana do Castelo. Temos um serviço de doações, pessoas podem oferecer brinquedos ao museu. Coisas mais antigas que as pessoas não conseguem identificar, podem remeter-nos. Temos cerca de mil peças reunidas com esse serviço”, sublinha Ana Carneiro.

"Dediquei-me ao brinquedo português, que é o nosso património"

O colecionador recorda que começou a sua coleção “na altura certa”, quando visitou um amigo “que tinha uns brinquedos antigos”. “Dediquei-me ao brinquedo português, que é o nosso património, se eu não o tivesse feito tinha desaparecido toda a história do brinquedo português”, explica.

“Troquei muito brinquedo estrangeiro por brinquedos portugueses, mesmo ficando a perder, e foi bom tê-lo feito”, indica, explicando que são, por vezes, peças que as pessoas deitam ao lixo mas que contam uma história. “Coleciono tudo o que é brinquedo português, madeira, plástico, zinco, chumbo, pasta de papel”, acrescenta.

Carlos Anjos recorda uma das peças da exposição que para ele é mais especial. “Um dos primeiros carros que adquiri é um carro de bombeiros. Esse carro de bombeiros estava no caixote do lixo, o fabricante ia queimar aquilo. Eu pedi-lho, levei para casa e montei-o, arranjei tudo direitinho. Depois levei-o até ele e ele ofereceu-me outro, que tinha sido feito pelo pai dele. Conclusão: eu dei o primeiro ao meu amigo e há pouco tempo ele ofereceu-me de novo, estão os dois no museu”, relata, frisando que são peças datadas de 1930.

Tantos pais que entram aqui e se identificam com isto e recordam, temos idosos de lares a vir visitar e ficam emocionadosA coleção permanente do Museu do Brinquedo Português tem apenas parte do espólio de cerca de 20 a 30 mil peças reunidas por Carlos Anjos. O resto da coleção está num armazém do município, uma sala de espólio, onde as peças continuam a ser catalogadas.

Carlos Anjos e Ana Carneiro alinham numa conclusão: o Museu do Brinquedo Português não serve apenas uma função didática para as crianças. É, antes de mais, uma “viagem no tempo” para os pais e para os avós, conforme faz sobressair o colecionador. Ana Carneiro sublinha: “Tantos pais que entram aqui e se identificam com isto e recordam, temos idosos de lares a vir visitar, chegam cá e ficam emocionados porque é o resgate das memórias, é o reviver da infância”.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório