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"Toda a gente deve fazer a análise das hepatites C e B"

Especialista revela o que se pode fazer para acabar com o risco que as hepatites virais representam para a Saúde Pública e revela o que se tem feito junto da comunidade de toxicodependentes.

"Toda a gente deve fazer a análise das hepatites C e B"
Notícias ao Minuto

07:30 - 05/08/17 por Vânia Marinho

País Rui Tato Marinho

Rui Tato Marinho, hepatologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, considera que se deve promover uma espécie de rastreio para conseguir diagnosticar a grande percentagem de pessoas que sofrem de hepatite mas não o sabem.

Destaca o especialista que para se conseguir atingir a meta de eliminar a hepatite C enquanto ameaça à saúde pública até 2030 é preciso que “cada país tenha um sistema em que tem os medicamentos para dar às pessoas”. Infelizmente, este sistema essencial “não é universal, pois nem todos os países o têm”.

“Portugal, nesse aspeto, está bastante bem, sendo dos melhores do mundo, pois tem todos os medicamentos que têm saído e, além disso, não coloca restrições e o Estado paga os medicamentos”, ressalva.

Rui Tato Marinho faz notar que “em alguns países os tratamentos só são dados aos doentes com a doença mais avançada, o que é discutível”.

Revela que “cá em Portugal consegue-se atingir essa meta”, mas acrescenta que é possível “olear o sistema”. Para o otimizar é preciso “identificar as pessoas que sabemos que podem estar infetadas, mas não estão no sistema, tendo um ‘rastreio’ alargado, chamemos-lhe assim, nomeadamente à medicina geral e familiar”.

“Defendemos que toda a gente, à semelhança do que se faz para o VIH, deva fazer pelo menos uma vez na vida a análise da hepatite C e da hepatite B, porque são doenças assintomáticas e que têm prevenção através da vacina e controlo (no caso da B) e tratamento muito eficaz (no caso da C)”, destaca.

Informar mais, facilitar o diagnóstico com a compra de mais aparelhos e aumentar o acesso do tratamento às pessoas nas prisões e aos toxicodenpendentes são outras medidas que, segundo o especialista, podem ajudar Portugal a atingir esta meta até 2030.

Sendo que lidera um programa de intervenção de tratamento de hepatite C junto de consumidores de drogas, Rui Tato Marinho revela que as “pessoas que já são seguidas há anos em consultas de hepatologia, gastroenterologia, infecciologia estão a ser praticamente todas curadas”. “A pouco e pouco estamo-nos a aproximar daquelas mais difíceis, chamadas de baixo linear, que são pessoas que são seguidas em consultas de psiquiatria ou nos centros de atendimento, mas também no terreno”.

“Por exemplo, antigamente excluíam-se as pessoas que estavam a consumir álcool ou pessoas que ainda consumiam drogas. Estamos agora a tentar incluir o maior número de pessoas, desde que adiram aos tratamentos para eliminar este vírus”, sublinha.

Quanto ao trabalho de consciencialização que se tem feito na rua, com os sem-abrigo, por exemplo, Rui Tato Marinho revela que ele e os colegas de hepatologia têm “ido muito ao terreno com associações como a CRESCER ou a Ares de Pinhal, para as ajudar e formar nesta área das hepatites. Estamos a conseguir tratar algumas pessoas ditas das mais difíceis, o que é muito gratificante.”

O médico faz ainda sobressair que estas experiências no terreno servem para muito mais do que tratar o vírus da hepatite. “Acho que o tratamento da hepatite C pode ser o isco para falarmos de prevenção e para promover a inclusão social destas pessoas e não pensar que aquilo é só tratar uma pessoa que tem um fígado e não tem mais órgão nenhum.”

A mensagem de “não consumir tanto álcool, fazer exercício físico e não fumar vai passando. E as pessoas ficam muito contentes por curar uma doença que matou alguns dos seus amigos”, remata.

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