"Dei com a minha mulher a chorar desalmadamente", recorda Otelo

Mais um episódio da Revolução dos Cravos que hoje celebra o seu 43.º aniversário.

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Patrícia Martins Carvalho
25/04/2017 15:57 ‧ 25/04/2017 por Patrícia Martins Carvalho

País

Memórias

Otelo Saraiva de Carvalho foi o estratega da operação militar que, em 1974, derrubou a ditadura em que Portugal vivia há décadas.

Apesar das várias reuniões com militares que organizou na sua casa em Oeiras, o Capitão de Abril não disse nada à mulher. Era segredo.

E o segredo apenas se quebrou na noite do dia 23 de abril. Otelo Saraiva de Carvalho sentou-se ao lado da mulher e disse-lhe o que se iria passar nos dias seguintes.

“Não vou dormir em casa, mas não te vou dizer onde é que vou dormir. É uma questão de segurança, pois podem vir aqui e prender-me. Mas quero que saibas que vou lançar uma operação militar para derrubar o governo”. Foram estas as palavras que Otelo disse à mulher antes de sair de casa, como contou o próprio ao Notícias ao Minuto.

Os momentos que se seguiram foram de alguma tensão, mas o então major acreditava ter acalmado a companheira depois de lhe dizer que a vitória chegaria em “menos de 24 horas”.

“Mas e se correr mal?”, questionou ela. “Vou para o Tarrafal e provavelmente nunca mais te vejo”, respondeu Otelo, acrescentando: “Mas vai correr bem. Daqui a dois ou três dias estou de volta a casa”.

“Então não podemos ir ver a ‘La Traviata’!”, atirou a mulher.

Otelo tinha comprado dois bilhetes para a Ópera na secção de atividades culturais e recreativas da Academia Militar e até se tinha esquecido do compromisso assumido com a mulher. Mas a revolução não podia esperar e o casal não foi mesmo assistir à ‘La Traviata’.

O major despediu-se da mulher e saiu de casa, mas quando chegou ao carro apercebeu-se de que não tinha nenhuma arma consigo. Regressou à habitação e foi então que a encontrou a chorar.

“Fui dar com a minha mulher sentada na cama, com os braços apoiados nos joelhos, a chorar desalmadamente. Disse-lhe para não chorar e pedi-lhe que ficasse atenta aos sinais que iam ser transmitidos na rádio”, recordou.

Nessa noite, Otelo saiu de casa sem a certeza se voltaria a ver a mulher. Apesar de o seu plano de operações ter 80% de hipóteses de ter sucesso – e teve – havia um risco de 20% que podia significar a sua morte ou a prisão no Tarrafal.

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