Dia Mundial da Língua Materna. Da nossa e da de toda a gente

A cada 14 dias, a Humanidade fica mais pobre. Sabe porquê?

Conheça os segredos dos poliglotas

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Notícias ao Minuto
22/02/2017 08:10 ‧ 22/02/2017 por Notícias ao Minuto

País

Efeméride

Assinalou-se ontem, dia 21 de fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna. O dia foi proclamado pela UNESCO em 1999 e reconhecido formalmente pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

Porém, o episódio que lhe deu origem é muito mais antigo do que isso, remonta ao ano de 1948. Nesse ano, o governo do Paquistão declarou o urdu como única língua oficial para todo o território.

No Paquistão de Leste (atual Bangladesh), cuja maioria de falantes tinha como língua materna o bengali, houve fervorosos protestos. No dia 21 de fevereiro de 1952, na capital Daca, durante uma manifestação em defesa do reconhecimento do bengali, alguns estudantes universitários e ativistas políticos enfrentaram forças policiais, acabando por ser mortos.

A língua, está visto, move paixões desde há muito. (Em Portugal, recorde-se, por exemplo, a polémica que tem gerado o novo Acordo Ortográfico). Num mundo em constante mutação, as línguas (e porque as pessoas não são eternas) nascem e morrem.

Estima-se que metade das quase 7 mil línguas faladas no mundo esteja em risco de desaparecer, de acordo com a UNESCO. E à medida que isso acontece, a cada 14 dias, a Humanidade empobrece. Porque não são só palavras que se esfumam. Quando uma língua morre não se perdem apenas as palavras, mas todo o universo cultural ao qual davam forma: séculos de histórias, lendas, ideias, canções transmitidas de geração em geração que desaparecem “como lágrimas na chuva”, junto com valiosos conhecimentos práticos sobre plantas, animais, ecossistemas, o firmamento. Um dano comparável à extinção de uma espécie.

Nos últimos 10 anos, recordou o El Pais, desapareceram mais de 100 línguas, outras 400 estão em situação crítica e 51 são faladas por uma única pessoa.

Os últimos testemunhos, tesouros humanos que se vão perdendo

Em novembro do ano passado foi assassinada, na floresta do norte do Perú, Rosa Andrade, de 67 anos, a última mulher falante de resígaro, uma das 43 línguas indígenas da Amazónia, noticiou o jornal El País, na altura. Tommy George, o último dos kuku-thaypan de Cape York (Austrália), morreu no dia 29 de julho também do ano passado, com 88 anos. Tommy George era o último falante de awu laya, uma língua aborígene da Austrália. Com ele morreram 42 mil anos de história e conhecimentos transmitidos via oral.

Cristina Calderón (nascida em 24 de maio de 1928) é a última falante nativa da língua yagán, da Terra do Fogo. Vive em Puerto Williams, um assentamento militar chileno na ilha Navarino.

Com Fanny Cochrane, que morreu em 1905, foi-se a última língua nativa da Tasmânia. Entre 1899 e 1903, gravou num dos primeiros fonógrafos as canções aborígenes que conhecia para a Royal Society of Hobart, a capital da ilha australiana.

Com a morte, em 2004, aos 98 anos, de Yang Huanyi, desapareceu o nushu, um sistema secreto de escrita empregado durante ao menos quatro séculos pelas mulheres chinesas para boicotar o controlo dos homens. Como muitas mulheres chinesas do seu tempo, Yang Huanyi tinha pés minúsculos e deformados: a prática de amarrar os pés das meninas foi proibida em 1912.

Charlie Mangulda é a última pessoa na Terra que fala e percebe o amurdag, língua oral de um grupo de aborígines do norte da Austrália, como explica neste vídeo K. David Harrison, autor do livro The Last Speakers, da National Geographic.

Prolongar a vida de línguas perdidas no tempo e no espaço na web?

Em fevereiro, a equipa do Enduring Voices (National Geo) apresentou os primeiros resultados do seu trabalho: oito dicionários sonoros e visuais de idiomas moribundos como o chemehuevi (Arizona, EUA); o euchee (Oklahoma, EUA); o hupa, o karuk, o wintu e o washoe (Califórnia, EUA); o tuvan (Rússia); o aka (Índia), ou o seri (México). No total, 32 mil palavras salvas do esquecimento.

Com o mesmo objetivo nasceu o projeto Endanged Languages (Línguas Ameaçadas de Extinção) uma iniciativa do Google para dar voz àqueles que as falam e àqueles que se esforçam para conservá-las. Trata-se de um fórum aberto que oferece a oportunidade de publicar arquivos de vídeo, gravações e documentos, e também de partilhar conhecimentos e experiências.

[Nota de edição: Por lapso, originalmente a notícia indicava que o Dia Mundial da Língua Materna se assinalava a 22 de fevereiro, quando, na verdade, se celebra a 21 de fevereiro, pelo que procedemos à devida correção do texto. Aos nossos leitores, pedimos desculpa pela imprecisão]

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