Crise põe agricultura e cultivo de pequenos frutos 'na moda'
O cultivo de pequenos frutos está 'na moda' em Portugal, com a crise a disponibilizar a mão-de-obra que faltava para a colheita e a fazer da agricultura um projecto de vida alternativo para muitos jovens desempregados.
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"Os pequenos frutos já existem em Portugal há 20 anos, mas, como são uma actividade que incorpora muita mão-de-obra, sobretudo na colheita, antes da crise não eram muito apetecíveis, porque não havia pessoas desempregadas com necessidade de trabalhar na colheita", afirmou o engenheiro agrónomo José Martino em entrevista à agência Lusa.
A esta "oportunidade" criada pela crise, que disponibilizou mão-de-obra disponível em fartura para responder às solicitações da colheita, juntou-se uma outra: a percepção, por parte dos muitos jovens sem emprego, de que a agricultura "é uma alternativa de trabalho e de projecto de vida".
Segundo José Martino, as "aliciantes" ajudas do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER) fizeram o resto, facilitando bastante o "empreendedorismo na agricultura".
Entre as plantações preferidas pelos jovens agricultores, desde logo assumiram lugar de destaque os pequenos frutos - kiwis, mirtilos, morangos, amoras, framboesas e groselhas - seguidos das plantas medicinais e aromáticas e dos cogumelos.
No caso dos pequenos frutos, o engenheiro agrónomo destaca o facto de poderem ser "rentabilizados com áreas muito pequenas, o que se adapta quer à estrutura do minifúndio, quer ao valor do investimento" dominantes no país.
Segundo avançou à Lusa, o investimento num hectare de pequenos frutos pode custar entre 75 e 100 mil euros, incluindo plantações e infra-estruturas e melhoramentos fundiários, sendo as ajudas públicas disponíveis "muito interessantes": No caso dos jovens agricultores (até 40 anos) e de um investimento até 75 mil euros, os apoios são de 100% numa região desfavorecida e de 90% nas regiões favorecidas.
Neste contexto, José Martino diz estarem actualmente a lançar-se na agricultura em Portugal "280 jovens por mês", a "grande maioria" dos quais na área dos pequenos frutos.
De acordo com o engenheiro agrónomo, Portugal tem, na cultura destes frutos, "uma vantagem competitiva muito forte", designadamente no Algarve e no sudoeste alentejano: devido ao clima, consegue-se aqui "uma precocidade na produção que cria uma mais-valia no mercado, pois, dependendo das espécies, podem produzir durante o inverno ou a primavera, sem ser necessário aquecer como acontece na maioria da Europa", explica.
Apesar de a actual produção de pequenos frutos em Portugal ser ainda modesta, o engenheiro agrónomo nota que tem já algum significado em valor, devido ao preço elevado praticado ao consumidor.
Vendidos em cuvetes de 125 gramas, cujo preço varia entre os dois e os quatro euros, os pequenos frutos permitem um valor por quilo "relativamente elevado, entre os 16 e os 32 euros".
"Mesmo tirando a margem do supermercado e do grossista, dá sempre um preço à produção entre os quatro e os oito euros e este é que é o aliciante do negócio", sustentou José Martino.
Outra "grande vantagem" do negócio dos pequenos frutos é estarem "em linha com o novo posicionamento dos consumidores na alimentação": são frutos muito ricos em antioxidantes, pelo que podem ser consumidos em quantidade com benefícios para a saúde.
Adicionalmente, têm grande procura por parte de mercados "com grande poder de compra", sendo a quase totalidade da produção nacional exportada para os países do norte e centro da Europa.
O circuito habitual, explicou, é a venda para a Holanda, Bélgica e Alemanha, de onde depois se dissemina para os países nórdicos.
Actualmente, os dados do Gabinete de Planeamento e Política do Ministério da Agricultura apontam que a fileira nacional dos pequenos frutos representa mais de 36 milhões de euros de exportações, mas o engenheiro agrónomo antecipa que, "nos próximos cinco anos, vai ultrapassar os 50 milhões de euros e, dentro de 10 anos, aproximar-se muito do valor das exportações de azeite, cerca de 215 milhões de euros".
"E é uma previsão relativamente contida, porque neste momento, com a motivação que há para plantar e pelo número de projectos, previsivelmente será muito superior", sustentou.
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