Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte encontram-se detidos, esta quinta-feira, pelas forças israelitas que intercetaram a Flotilha Global Sumud. O plano era que a flotilha humanitária chegasse a Gaza por volta das 6h00 de hoje, mas, na quarta-feira à noite os barcos começaram a ser intercetados.
Nas redes sociais, onde os ativistas têm partilhado atualizações sobre esta travessia ao longo do último mês, Mortágua escrevia na tarde de quarta-feira, quando estava a 170 quilómetros de Gaza, uma viagem que em Portugal se 'traduziria' de Lisboa e Beja ou Braga a Coimbra: "Para trás ficaram os locais de interceção de quase todas as flotilhas anteriores."
Por agora, a última mensagem no Telegram da organização dá conta de que as comunicações foram "cortadas" e que os livestreams que estavam a acontecer foram cortados. No site, podem ser vistas as atualizações mais recentes, que dá conta de ainda há barcos a navegar, com a última atualização a ter sido feita às 8h00 de Lisboa. Pode consultar aqui.
Ainda na noite da terça-feira, com a aproximação a Gaza, o Governo pediu a Israel para se abster de "violência" contra as dezenas de barcos que integravam esta flotilha humanitária. "Portugal dirigiu uma mensagem ao Governo de Israel, pelos canais diplomáticos próprios, para que não se use violência e se respeitem todos os direitos daqueles que vão na flotilha", explicou o Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Paulo Rangel, na quinta-feira, numa altura em que nenhum dos três portugueses que integram o grupo tinham ainda sido detidos.
Mortágua e Aparício detidas primeiro (Miguel Duarte depois)
A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e a atriz Sofia Aparício foram as primeiras a ser detidas, com a confirmação a surgir nas 'redes', onde foram publicados vídeos preparados antecipadamente, e que são divulgados aquando existem as detenções nestas missões humanitárias. Também a irmã da líder bloquista confirmou as detenções.
O momento em que o barco onde seguia Mortágua é abordado é, inclusivamente, gravado, dado que a líder bloquista se encontrava a fazer um direto para o Instagram. A última coisa que se ouviu foi alguém a dizer "mãos ao ar". À CNN Portugal, Jorge Costa, do Bloco de Esquerda, explicou que os telemóveis com que todos seguiam na viagem foram lançados para a água, já que "foi dada a ordem que estava combinada entre os participantes para que os telemóveis fossem atirados ao mar para garantir a segurança dos contactos e das informações desses aparelhos".
Após estas detenções, 'restava' o barco onde Miguel Duarte seguia, tendo o ativista conseguido comunicar ainda por volta 22h30 de quarta-feira. "Conseguimos voltar ao contacto com o Miguel Duarte. Ainda não o intercetaram", referia Joana Mortágua ainda ontem. Num vídeo publicado da 1h (em Lisboa), foi publicado um vídeo do mesmo estilo do primeiros: "O meu nome é Miguel Duarte e sou um cidadão português. Se estás a ver este vídeo é porque eu fui ilegalmente capturado pelas forças israelitas e levado para Israel contra a minha vontade".
Antes de ser detido, num outro vídeo, Miguel Duarte destacou que havia muitos barcos israelitas na envolvência a "atirarem canhões de água" e a fazerem "manobras perigosas" perto dos navios.
Numa mensagem na plataforma de mensagens Telegram, a Flotilha Sumud Global afirmou que a força naval israelita utilizou "agressão ativa" contra o barco Florida, que foi "deliberadamente abalroado no mar". Nenhum dos três cidadãos portugueses seguia nessa embarcação.
MNE fala em contacto só no domingo, Marcelo e Montenegro prometem "apoio"
Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa, escrevia na quarta-feira, após ter sido conhecida a detenção de Mortágua: "O Presidente da República confirmou junto do Governo que será assegurado, através da nossa Embaixada em Telavive, todo o apoio consular aos compatriotas detidos, como é de regra, e em particular quando implica titulares de órgãos de soberania, bem como todo o apoio ao regresso a Portugal."
O MNE referiu ainda na noite de ontem, em comunicado, que os serviços consulares da Embaixada de Portugal em Telavive solicitaram às autoridades israelitas que "logo que possível" sejam informados sobre o estado e local onde serão detidos os portugueses integrados na flotilha.
O objetivo é que seja prestada "a devida proteção diplomática e consular", pode ler-se. Mais tarde, o chefe da diplomacia portuguesa acrescentou que ainda deverá demorar algum tempo até que o Executivo consiga contactar diretamente com os ativistas, nomeadamente, lembrando que esta detenção ocorreu no dia mais sagrado do judaísmo, Yom Kipur.
"Normalmente [no Yom Kipur] está tudo encerrado em Israel, os serviços funcionam em serviços mínimos (...). O prognóstico que existe neste momento e que tudo faremos para acelerar é o dia de domingo, que é o primeiro dia da semana no calendário judeu", frisou, dizendo: "Foi escolha da flotilha chegar nesse dia [Yom Kipur], vai atrasar as operações que podiam ser mais rápidas".
O chefe da diplomacia portuguesa apontou também que o primeiro grupo de cidadãos detidos a bordo da flotilha deve chegar a um porto israelita às 8 horas desta quinta-feira (6h00 em Lisboa). Paulo Rangel não especificou qual o porto israelita nem se os portugueses estariam nesse primeiro grupo. Para já, ainda não houve qualquer confirmação de chegada.
Já na manhã desta quinta-feira, o primeiro-ministro, que se encontra em Copenhaga, na Dinamarca, garantiu que o Governo iria prestar "todo o apoio" aos portugueses e que está em contacto com Rangel, que é quem está a "gerir" a situação.
"Estamos em contacto com as autoridades israelitas, com vista a salvaguardar a situação desses portugueses e a prestar todo o apoio consular como é a nossa responsabilidade com estes e todos os portugueses que se encontrem numa situação equivalente, sendo certo que não é de desprezar a circunstância de uma destas pessoas ser, além do mais, titular de um órgão de soberania", assegurou Luís Montenegro, falando em concreto de Mariana Mortágua.
As reações políticas
Também ontem, outras forças políticas reagiram, nomeadamente, o Partido Socialista, que pela voz do dirigente João Torres manifestou preocupação com a situação. "É fundamental que o Estado exerça os seus deveres para com os cidadãos portugueses e concentrar-se e focar-se no apoio consular e nos deveres de Estado de acompanhamento de cidadãos nacionais, garantindo a sua plena segurança", disse.
Também o Partido Comunista Português reagiu ontem, condenando a ação de Israel contra a flotilha humanitária destinada à Faixa de Gaza e instou o Governo a fazer "tudo ao seu alcance" para preservar a vida dos portugueses que estavam a bordo.
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