O diretor da Polícia Judiciária (PJ) do Centro, Avelino Lima, assinalou, esta quarta-feira, que a maioria dos incendiários detidos são "responsáveis sempre por mais do que uma ignição".
"Temos de ter presente que muitos detidos que temos apresentado à Justiça são, na generalidade, responsáveis sempre por mais do que uma ignição. Ou seja, o nosso trabalho é direcionado para as ignições e não para a dimensão do incêndio, porque esse combate não é da nossa responsabilidade", disse, em declarações à SIC Notícias.
Avelino Lima apontou que, este ano, houve "um pico de ignições", mas considerou ser necessário ressalvar que "a área ardida, essa sim, já começa a ser das maiores da nossa história, desde 2017".
O também diretor do Grupo de Acompanhamento Permanente e Apoio para os Fogos Florestais da PJ detalhou que as autoridades atuam ao longo de todo o ano, procurando "determinar o ponto inicial da ignição, para, daí, perceber se estamos na presença de uma ação dolosa ou não dolosa", mediante "a recolha de todos os vestígios".
Neste momento, a PJ tem cerca de mil investigações ativas, havendo ainda cinco dezenas de detidos, de acordo com o responsável.
Este ano, as autoridades detiveram pelo menos 52 pessoas pelo crime de incêndio florestal, sendo que cerca de metade das detenções aconteceram durante este mês de agosto.
De acordo com a informação que consta nos comunicados publicados pela PJ e consultados pela Lusa, entre o dia 1 de janeiro e o dia 20 de agosto, a maioria das detenções foi feita em coordenação com a Guarda Nacional Republicana (GNR) e 25 suspeitos foram presos durante este mês de agosto.
As detenções feitas pela PJ decorrem das investigações abertas, mas há também a registar 42 detenções em flagrante delito pela GNR entre 1 de janeiro e 13 agosto, além da identificação de 566 suspeitos do crime de incêndio florestal.
Somando os dados da PJ e da GNR, foram já detidas este ano, pelo menos, 94 pessoas, quase tantas como em 2024, ano em que, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024, foram feitas 99 detenções pela PJ, GNR e PSP.
A GNR registou ainda 5.996 incêndios florestais e, em relação aos casos que ficaram sob a sua competência - outros passaram para a Polícia Judiciária -, foi possível apurar que 30,2% dos incêndios foram causados pelo uso do fogo, 24% resultaram de incendiarismo, 23,2% tiveram causa indeterminada, 14,5% origem acidental, 6,6% ocorreram por reacendimento, 1% foram casos naturais e 0,5% foram de origem estrutural.
Em relação a condenações e medidas preventivas, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) adiantou à Lusa que estão nas cadeias portuguesas 109 presos relacionados com o crime de incêndio florestal - 42 condenados, 24 inimputáveis, 39 a aguardar julgamento em prisão preventiva e 4 a aguardar que a decisão transite em julgado.
No ano passado, também de acordo com o RASI, 24 pessoas ficaram em prisão preventiva e foram constituídos 859 arguidos.
Os incêndios que têm assolado Portugal provocaram três mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade. Além disso, destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, ao abrigo do qual chegaram dois aviões Fire Boss para reforço do combate aos fogos.
Segundo dados oficiais provisórios, até 19 de agosto arderam mais de 201 mil hectares no país, mais do que a área ardida em todo o ano de 2024.
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