Na parte da manhã, o principal arguido e suspeito de ser o cabecilha daquela rede, conhecido por 'Crilim', optou por não prestar esclarecimentos, tendo sido ouvida uma das arguidas que confessou que cedia a sua habitação a dois dos arguidos para guardarem a droga, explicando que terá sido alvo de ameaças para o fazer.
Na sessão da tarde, que começou com um atraso de uma hora, foram ouvidos mais arguidos que admitiram terem feito tráfico de estupefacientes, mas negaram envolvimento com o principal arguido ou com a alegada rede de tráfico.
Uma das arguidas ouvidas esta tarde foi uma ex-companheira do alegado cabecilha da 'Pica-pau/Picolé' que quis prestar declarações sem a presença dos restantes arguidos, justificando que sentia "medo de represálias".
"Não tenho nada a apontar no início da relação, eu não sabia que havia tráfico (...) Comecei a ver que não batia certo o nível de vida que ele levava, eram gastos exorbitantes com jantares e motéis quase todos os dias. Ele dizia que o dinheiro vinha duma garrafeira e de uma oficina, que descobri mais tarde que não era nada dele", contou.
E continuou: "Ele depois confessou que andava no tráfico mas, entretanto, abriu uma oficina e deixou o tráfico. Mas depois veio a covid, tivemos que fechar tudo e ele voltou ao tráfico (...), mas o 'Pica-pau' nunca foi dele, era do irmão, ele era do 'Picolé'".
Segundo esta arguida, o ex-companheiro "tinha algumas pessoas a trabalhar para ele", entre os quais alguns dos arguidos.
"Eu convivi com ele quatro anos e ouvi muita coisa", disse, acrescentando que "traficavam heroína e cocaína".
A mulher referiu que "a droga era guardada em casas do bairro", mas disse desconhecer por quem.
"Havia sempre muita rotação de funcionários, havia turnos, gerentes, e eu fiz pequenos recados", disse.
Segundo a arguida, o ex-namorado "como companheiro não foi grande coisa, mas era um pai excecional" e, por isso, disse, "nunca quis" que a arguida se envolvesse no tráfico, ficando aquela "apenas a receber e entregar" dinheiro.
Segundo relata a acusação, a alegada rede, que atuava no bairro da Pasteleira, trabalhava de forma "bastante organizada": tinha turnos de trabalho estabelecidos (um das 07:00 às 15:00 e outro até às 00:00), existia uma hierarquia definida e funções atribuídas, havendo mesmo um sistema de promoção ou despromoção com base no desempenho.
Ao final do dia o apuro era levado ao arguido apontado como cabecilha do grupo ou à namorada deste, também ela arguida, salientando a acusação que "os arguidos tinham especial cuidado no uso de equipamentos telefónicos, sendo o mesmo de uso reduzido ao essencial e sempre que possível evitado".
O Ministério Público (MP) salienta que a rede usava várias habitações num dos bairros do Porto para guardarem estupefacientes e o dinheiro da venda, sendo que algumas das casas serviam também como esconderijo para fugirem às autoridades.
Dos 37 arguidos, quatro estão a responder ao processo em prisão preventiva e o alegado líder da 'Pica-pau/Picolé' está a cumprir pena de prisão efetiva no âmbito de outro processo.
O julgamento continua na quinta-feira com declarações da ex-companheira do alegado líder da rede.
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