A conclusão consta do relatório do Medialab do ISCTE dedicado ao apagão que afetou a Península Ibérica no dia 28 de abril, no âmbito da parceria com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) para monitorizar a desinformação durante a campanha para as eleições legislativas de 18 de maio.
De acordo com a análise, só naquele dia foram publicadas 1.735 notícias, uma média de 2,3 notícias por minuto, muitas das quais não chegaram aos cidadãos, que estiveram sem acesso a luz durante grande parte do dia.
Através da cobertura noticiosa, os meios de comunicação social foram "os agentes que mais tentaram desmontar" as narrativas que começaram a circular nas redes sociais logo nas primeiras horas para tentar explicar a origem do corte no abastecimento elétrico, na ausência de uma comunicação eficaz do Governo.
No entanto, os investigadores referem alguns exemplos em que as escolhas editoriais ajudaram, mesmo que involuntariamente, a "alimentar confusão e desinformação", como quando a CNN Portugal desmentiu uma alegada notícia da CNN Internacional, com declarações atribuídas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que atribuíam o apagão a um ciberataque russo.
"Apesar de importante, reproduziu integralmente o texto original da mensagem falsa", relatam os investigadores, que explicam que essa opção "originou problemas de visibilidade nos motores de busca".
Nos resultados das pesquisas rápidas do Google o conteúdo da mensagem falsa aparecia em destaque para o 'site' e páginas da CNN Portugal sem o contexto do desmentido. "Um erro crítico em situações de emergência informativa", classificam.
Outro exemplo foi uma manchete do Jornal de Notícias, partilhada no Twitter, cujo texto, que cita o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, refere que eletricidade que "desapareceu" sem aparente motivo e acabou por ser partilhado com interpretações erradas ou alarmistas.
Independentemente das falhas, foram sobretudo os 'media' nacionais que procuraram desmentir as narrativas desinformativas acerca do apagão, enquanto, por outro lado, foram sobretudo utilizadores individuais na plataforma X que veicularam ou partilharam a ideia de que o apagão teria razões terroristas ou políticas.
No entanto, as publicações que replicavam narrativas falsas sobre o incidente chegaram a um número muito maior de pessoas (173 mil visualizações contra 55 mil visualizações daqueles que desmentiam a desinformação).
No relatório, os investigadores explicam a discrepância recordando também que "o acesso dos cidadãos às redes ia diminuindo à medida que as horas passavam".
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o MediaLab, do ISCTE, em parceria com a agência Lusa, estão a monitorizar as redes sociais para identificar e medir o impacto da desinformação na campanha das legislativas de maio, prolongando-se até 24 de maio.
O Medialab produz semanalmente relatórios sobre o fenómeno da desinformação.
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