"Morte surge numa altura que geografia da língua mais precisava de um visionário"
O presidente da ERC, Carlos Magno, disse hoje à Lusa que a morte de Emídio Rangel acontece numa altura em que a geografia da língua portuguesa "mais precisava de um visionário como ele para reciclar o esgotado sistema mediático".
© Global Imagens
País Carlos Magno
Rangel morreu hoje, aos 66 anos, vítima de doença prolongada no Hospital Egas Moniz, Lisboa, onde estava internado há 15 dias, e o velório realiza-se na Basílica da Estrela, na quinta-feira, a partir das 17:00. O funeral é na sexta-feira, no cemitério do Alto de São João, antecedido de uma missa às 13:00.
"Emídio Rangel morreu precisamente quando a geografia da nossa língua mais precisava de um visionário como ele para reciclar o esgotado sistema mediático português", afirmou o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
"Este fantástico ciclo, criado por ele, chegou ao fim. Só alguém com o desassombro, a coragem e a capacidade editorial de Emídio Rangel pode voltar a transformar esta triste realidade numa radical atualidade", considerou Carlos Magno.
"Rangel foi praticamente emprateleirado muito antes de estar doente, mas nem o seu desaparecimento físico conseguirá apagar a marca profissional que ele imprimiu nos jornalistas com quem trabalhou", aponta o presidente do regulador dos media, que cita o falecido jornalista Mário Bettencourt Resendes ao afirmar que "Emídio fez o melhor e nem sempre conseguiu evitar o pior".
Para Carlos Magno, "algumas das suas grandes qualidades eram também os seus maiores defeitos, e vice-versa", pelo que "o segredo era deixar-se contagiar pelo seu entusiasmo sem tirar os pés do chão".
Magno adianta que teve com Rangel "convergência e divergências que se traduziram sempre numa conversa inacabada", tendo feito com ele várias viagens de carro.
E acrescenta: "Escusado será dizer que algumas ideias deixadas 'on the road' tem ainda muita estrada para percorrer".
Da última vez que se encontraram, Emídio Rangel e Carlos Magno trocaram "comentários críticos sobre algum conformismo reinante".
"Pareceu-me que ele queria voltar a pôr em prática alguns projetos, mas reconhecia não haver hoje as condições para agitar e romper condicionamentos vários, como nos anos 80", acrescentou.
"Falámos ao telefone há dois ou três meses. Há quinze dias combinei com o Ricardo Sá Fernandes organizar-lhe um jantar de amigos", mas "já não fomos a tempo", confidenciou.
"Como ele próprio dizia, as notícias não escolhem horas certas. Nem as boas nem as más. A da sua morte é péssima, sobretudo se aqueles que o admirávamos não soubermos fazer do seu funeral um ponto de encontro dos nossos desencontros", concluiu Carlos Magno
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