Degradação na Vila Dias criou "barracas do século XXI"

As "barracas do século XXI", situadas na Vila Dias, em Xabregas, Lisboa, alojam várias famílias sujeitas à degradação dos edifícios e aos problemas do saneamento, alertam os moradores.

Mais de meio milhão de portugueses vivem em privação material severa - INE

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Lusa
03/08/2014 07:40 ‧ 03/08/2014 por Lusa

País

Lisboa

 A Vila Dias foi criada em 1888, na freguesia do Beato, para alojar os funcionários das fábricas ali instaladas. Passados quase 130 anos, a antiga vila operária continua a ser habitada por pessoas carenciadas.

Ao todo, são 180 casas 'banhadas' a tons de rosa, que enganam quem ali passa pela primeira vez. Só ao entrar nalguns fogos se percebe a degradação, causada pela falta de manutenção.

"São as barracas do século XXI", classifica um dos moradores.

A situação afeta "quem não pode tomar banho em casa, quem toma banho em casa e a água começa a sair pelo 'poliban' e quem tem uma pia [para as necessidades] juntamente com o lavatório onde faz a comida", lamenta Hugo Marques.

O motorista, 38 anos, nasceu e vive na Vila Dias, onde "pertence", como orgulhosamente frisa, mas tem vindo a confrontar-se com os problemas do bairro, que se devem ao desconhecimento sobre os proprietários.

Reza a história que os primeiros donos tinham um filho deficiente, tendo deixado ao seu tutor, Henrique Cabral a Vila em herança, com a obrigatoriedade de tomar conta do descendente enquanto este fosse vivo.

Em 2007, Virgínia Cabral e Maria Alves, filha e neta de Henrique, tomaram conta da propriedade da Vila com recurso ao usucapião e, cinco anos depois, emitiram uma procuração para os responsáveis de uma empresa de recuperação de imóveis ficarem a gerir a Vila, tendo estabelecido também um acordo com vista à compra do bairro, o que ainda não se concretizou.

Nuno Henriques, sócio da empresa, diz à Lusa que já foram reabilitadas 80 habitações. "Ainda é preciso mais, mas temos de ir gradualmente, temos aqui um plano de negócio para dez anos", no qual serão investidos "muitos milhões", admite.

A nova lei do arrendamento urbano, de 2012, tornou mais visíveis os problemas existentes na Vila, com os aumentos das rendas a agudizarem divergências existentes entre os gestores e os inquilinos.

"Houve rendas que aumentaram dez vezes, mas estamos a falar de rendas que eram de cinco euros e passaram para 50", assegura Nuno Henriques.

Por sua vez, os moradores dizem que lhes propuseram aumentos avultados nas rendas, alguns travados com declarações de rendimentos emitidas pelas Finanças.

Foi o caso de Maria do Céu Dias, que vive há 27 anos no número 09, um dos prédios mais degradados do bairro e em risco de derrocada. A empregada de limpeza em 'part-time' vive com o marido, que tem problemas de saúde, e conseguiu manter os 50 euros de renda devido às dificuldades económicas de ambos.

A questão das rendas já levou a duas ações de despejo, uma concretizada e outra anunciada. Despejada foi uma mãe de 25 anos e o filho de 2. À espera de veredicto, está uma mulher de 83 anos, que sempre ali viveu e que tem no valor das mensalidaddes o motivo da discórdia.

Nuno Henriques refuta as críticas: "Há dois anos que andamos a falar com as pessoas, a explicar que têm de pagar as rendas, que é um direito que nos assiste e não temos conseguido. Obviamente que temos começado a recorrer a ações de despejo".

A Junta de Freguesia do Beato e a Câmara de Lisboa têm acompanhado este caso, mas como se trata de uma vila privada não podem intervir mais do que ao nível do fornecimento dos materiais e nos apoios municipais dados aos residentes, respetivamente.

 

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