Foi na madrugada do dia 25 de agosto de 1988 que brotou um dos mais violentos incêndios da história de Lisboa, no Chiado. O 35.º aniversário do fogo, que provocou duas vítimas mortais e devastou 18 edifícios, alguns dos quais “bastante emblemáticos”, foi hoje assinalado tanto pela Liga dos Bombeiros Portugueses, como pelo Serviço Municipal de Proteção Civil de Lisboa, pelo Regimento de Sapadores Bombeiros – Lisboa, e pela Câmara Municipal de Lisboa, que partilharam a cronologia dos acontecimentos, “ainda desconhecida por muitos”.
“Com início na Rua do Carmo, o incêndio propagou-se para a Rua Garrett e Rua Nova do Almada, causando duas vítimas mortais, 73 feridos e destruído 18 edifícios, alguns deles bastante emblemáticos”, escreveu a Proteção Civil, na rede social Facebook, tendo salientado que “o empenho e o esforço dos 1.150 bombeiros que participaram nas ações de combate evitaram que o incêndio se propagasse a outras áreas”.
Depois do alerta, dado às 5h19 para um “fogo na Rua do Ouro, Armazém Grandella”, os serviços de emergência depararam-se com um incêndio que ardia “com muita intensidade”, tendo pedido “todo o material disponível”, pelas 5h23.
“Encontramo-nos na Rua do Ouro, o fogo é de muito grandes proporções e aguardo a chegada de todo o material disponível que já foi pedido antes, e peço para que algum desse material se vá localizar na Rua Nova do Almada”, foi dito, cerca de dois minutos depois.
Ao fim de cinco minutos, os bombeiros no local informaram “que o fogo na Rua do Ouro é incontrolável, está a propagar a edifícios anexos, e a única maneira possível de o controlar será através de um ou dois helicópteros”, apelando “para falarem com o comandante”.
“O fogo passa dos Armazéns do Grandella, já todo tomado pelo fogo, para os Armazéns do Chiado, e atinge alguns elementos dos edifícios fronteiros na rua do Carmo e da rua da Assunção, edifício Confepele”, complementaram.
Pelas 6h10, não havia “qualquer hipótese de ação de combate ao incêndio por parte dos helicópteros”, mas existia “a hipótese de acionar o Hércules C-130. “Já se dirige para o local um helicóptero Puma mas deverá organizar um local improvisado para servir de heliporto”, foi dito.
“Mandem para o local todos os Chefes de 1.ª Classe e façam acionar o mais depressa possível os meios aéreos”, acrescentaram, às 6h23.
A situação era “muito grave” às 6h45, pelo que foi solicitada “a comparência do Inspetor Superior e do Comandante do Gabinete de Proteção Civil Municipal”. “O fogo propaga-se ao edifício Martins e Costa. O ataque a este fogo passa a ser executado pelo pátio da Escola Veiga Beirão”, explicaram ainda.
Após 20 minutos, foi pedido para que “todas as mangueiras disponíveis de 50 mm e 70 mm” fossem enviadas para o Largo do Carmo.
“O fogo atinge a parte central dos Armazéns do Chiado e propaga-se a todos edifícios do lado poente da Rua Nova do Almada, descendo para a Calçada Nova de São Francisco, onde fica confinado. Na Rua do Carmo, o fogo propaga-se subindo a rua, atingindo os edifícios Eduardo Martins e José Alexandre, estes já situados no início da Rua Garrett”, detalharam, às 7h30.
Passaram-se quase duas horas sem comunicações, até que, às 9h22, soube-se que “toda a zona da Rua Garrett e da Rua Ivens” foi evacuada.
Às 11h00, o comandante dava o incêndio como “circunscrito” e, 24 minutos depois, foi comunicada a morte do bombeiro Catana Ramos, que tinha sido transportado para o Hospital de São José.
Ao fim de uma hora, foi solicitada a evacuação do lar da Santa Casa da Misericórdia, no Largo de São Roque, onde estavam “pessoas acamadas”.
O fogo foi dado como dominado pelas 15h10 e, às 17h50, foi pedido que a Câmara Municipal de Lisboa fosse informada de que “a situação do fogo” estava “a melhorar”, com o “rescaldo em alguns edifícios”.
Nas operações estiveram envolvidos vários agentes de Proteção Civil, entre os quais o Regimento de Sapadores Bombeiros - Lisboa , Corpos de Bombeiros Voluntários de Lisboa e de outros Municípios, Polícia de Segurança Pública, Polícia Judiciária, Cruz Vermelha Portuguesa, Forças Armadas e Serviço Municipal de Proteção Civil.
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