Lurdes Pereira, de 60 anos, do Carregado, no distrito de Lisboa, está em Fátima com uma amiga, numa repetição do que já tinha feito em 2017 quando Francisco visitou o Santuário de Fátima.
"Dessa vez até foi pior, porque choveu, mas, quando se tem fé, nada nos demove", disse a peregrina que vai voltar a passar a noite ao relento.
Sentada num colchão de campismo, encosta-se às baias que separam o espaço dos peregrinos da zona onde o Papa Francisco passará no sábado e confessa: "É por ele e pela Nossa senhora que cá estamos".
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa até domingo, "é um acontecimento bonito", mas, Fátima "é outra emoção", explicou, acrescentando que a vontade de ver o Papa pela segunda vez "supera qualquer sacrifício".
Bem perto das duas amigas posicionaram-se, desde as 09h00 de hoje, Maria Lucília (71) e Carlos Pereira (74), casal de Ovar, que ali está com um casal amigo.
Há seis anos passaram "duas noites e três dias" no Santuário para estarem "o mais perto possível do Papa".
Desta vez, passarão apenas uma noite no chão do Santuário. Mas enquanto ali estiverem a marcar lugar, não faltará quase nada: bancos dobráveis para sentar, água para hidratar, fruta e sandes para alimentar e um chapéu de chuva para "fazer uma sombrinha".
"Viemos cedo, também para fugir ao controle da polícia, porque dizem que vão revistar os sacos e assim", contou o homem, que faz questão de ver o líder da Igreja Católica "ao vivo, porque na televisão não é a mesma coisa".
O que também diverge é o que ambos esperam que resulte da passagem de Francisco pelo Santuário. Carlos espera que "mude alguma coisa" nele próprio, que gosta "de ir ao café" contra a vontade de Lucília, que se zanga. Zanga-se também por ele "se por com estas conversas" enquanto espera a hora de ver de perto o Papa.
Mas logo acalma, até porque o seu desejo é o de que Francisco "mova montanhas e que as pessoas se entendam mais umas com as outras, porque não há confiança em ninguém".
Olinda Mendonça, de 50 anos, e Antónia Julieta Dias, de 82, conheceram-se em junho, numa peregrinação a Fátima e hoje reencontraram-se junto ao gradeamento onde vão aguardar a chegada do Papa.
A primeira viajou de S. Pedro do Sul (Viseu) e a segunda, natural de Angola, fez a viagem desde Lisboa, onde reside e de onde se desloca todos os meses nos dias 12 e 13.
"Desta vez, como vinha o Papa, não tinha coragem de vir só nestes dias" contou, explicando que vai dormir junto às baias e, depois, ficar por Fátima até às cerimónias do 12 e 13 de agosto.
Para Antónia, "o que o Papa devia trazer era paz, o amor ao próximo, que é o que há pouco no mundo", contrariada com "as pessoas que falam mal de Deus e do próprio Papa".
"Não pode", advertiu a peregrina, que em tempos esteve "de mão dada com João Paulo II em Angola", num momento que atesta com fotografias que guarda religiosamente.
Filipe Faria, de 22 anos, e o irmão Eduardo, de 28, viajaram do Porto para, resguardados à sombra de chapéus de chuva abertos, guardarem lugares para o resto do grupo que ainda chegará.
À noite, serão 11 membros do grupo de jovens "Cristo, sentido Único", de Penafiel, a dormir sob as estrelas, para ver o líder da Igreja.
"Preferimos fugir da confusão da JMJ em Lisboa", disse Filipe, que, ao contrário do irmão - que esteve em Madrid, Espanha --, nunca participou numa jornada.
Mas depois de ouvir as entrevistas nas quais Francisco "defendeu que a Igreja é para todos", o jovem espera que o Papa repita essa mensagem em Fátima e em todos os locais por onde passa.
"Se não for assim, sem uma Igreja mais aberta, as pessoas acabam por sair e por se afastar", vincaram os irmãos, convictos de que, "polémicas à parte, a JMJ levou o nome de Portugal ao mundo inteiro e chamou pessoas, até de outras religiões, para o país e para Fátima".
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