Meteorologia

  • 09 MAIO 2024
Tempo
18º
MIN 16º MÁX 26º

Anticiclone 'ajuda' Portugal com o calor, mas verão ainda pode aquecer

Ao Notícias ao Minuto, o meteorologista Alessandro Marraccini explicou o porquê de Portugal não estar a sentir com tanto impacto a onda de calor, mas alerta que os fenómenos extremos continuarão a ficar mais intensos com as alterações climáticas.

Anticiclone 'ajuda' Portugal com o calor, mas verão ainda pode aquecer

As temperaturas extremamente quentes estão a fazer soar alarmes numa grande parte do sul da Europa e do Norte de África, mas Portugal para já, tem passado incólume por esta intensa onda de calor. Enquanto que em regiões de Espanha, Itália e Grécia, os termómetros têm ultrapassado regularmente os 40 graus, as temperaturas máximas no nosso país mantêm-se pouco acima dos 30 graus.

Uma das razões encontradas para este facto é a influência do anticiclone dos Açores, que tem trazido ventos mais frios para o continente e tem afastado esta onda de calor.

No entanto, como explicou ao Notícias ao Minuto o meteorologista Alessandro Marraccini, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), este não é o único fator e, aliás, poderá não impedir uma onda de calor futura.

Para já, o verão continuará a ser 'meigo' com o território nacional, e o especialista do IPMA explicou o que está a acontecer no Mediterrâneo - e se a situação vai mudar tão cedo.

Porque é que Portugal tem escapado a esta intensa onda de calor que tem atravessado a zona do Mediterrâneo?

A circulação da atmosfera faz com que haja massas de ar quente das latitudes mais baixas, às vezes para latitudes mais altas, onde se verificam episódios de tempo quente como neste caso. Neste caso em específico, aconteceu que o transporte de ar quente passou a sul de Portugal e se instalou na região na Europa do Sul e no Mediterrâneo, com uma trajetória que não atingiu Portugal.

Na verdade, estamos muito próximos da fronteira com esta região quente, que está a passar mesmo a sul do Algarve.

Temos ouvido cada vez mais do anticiclone que está a 'proteger' o continente destas temperaturas altas. Como é que isto se explica?

É uma questão parcial, pois pode haver uma onda de calor, mesmo com o anticiclone dos Açores. O anticiclone, como está estruturado agora na região do Atlântico Norte, faz com que Portugal esteja intercetado à superfície por um fluxo de ar que vem do Atlântico Norte, portanto relativamente mais frio, e isto faz com que as temperaturas não subam muito.

Mesmo assim, se o anticiclone dos Açores tiver uma disposição da atmosfera que favoreça uma circulação graças à qual o ar quente chega a Portugal, não iria 'salvar'. O anticiclone dos Açores, nesta sua posição e estrutural atual, que faz parte de uma circulação que levou a que o tempo quente se pusesse mais a leste do nosso país.

Mas a constatação de que o anticiclone dos Açores sozinho 'salva' Portugal não é bem a verdade. Nesta situação atual, faz parte de um conjunto de elementos atmosféricos bastante complexos, que nos salvaram desta situação difícil, mas poderá não acontecer mais para a frente, durante o verão ou nos próximos verões.

Esta massa de ar quente tem criado temperaturas extremamente elevadas na zona do Mediterrâneo, como Espanha, Itália ou Grécia, ou ainda no norte de África, como a Tunísia, e parece estar completamente estabilizada. Qual é a previsão a curto prazo para a região?

Este tipo de situações são bastante lentas, é difícil fazer agora uma previsão de longo prazo. E a curto prazo é bastante estável.

As previsões de tempo quente vão diminuir nos próximos dias na parte mais norte do Mediterrâneo; na parte mais sul, nomeadamente o sul de Espanha, a Sardenha, o sul de Itália e a Grécia, vão continuar com tempo quente ainda este fim de semana e para o início da próxima semana também.

Podemos acrescentar outra coisa mais interessante. No contexto das alterações climáticas, nós temos registado nas últimas décadas um aumento da frequência, da intensidade e da duração das ondas de calor, portanto estes episódios de tempo quente para a Europa Mediterrânica inscrevem-se perfeitamente nas projeções climáticas dos anos passados. E o que temos de esperar para futuro é que estas ondas de calor serão ainda mais frequentes, ainda mais intensas e ainda mais duradouras.

Estas alterações climáticas intensificam os episódios de tempo quente, mas também intensificam fenómenos meteorológicos extremos no geral. Podemos antecipar também que tempestades e outras situações sejam mais intensas?

Sim, em geral a ocorrência de fenómenos extremos e a sua frequência e intensidade é projetada para continuar a aumentar e a seguir esta tendência, por várias razões, e sobretudo graças aos modelos numéricos usados para este tipo de projeções, que têm também os eventos extremos de mau tempo mas também os eventos de seca e ondas de calor.

E para este fim de semana, quais são então as previsões para Portugal?

Nos próximos dias, o tempo vai-se manter com céu geralmente pouco nublado e vento do quadrante norte. No entanto, o território continental será atravessado pela passagem de uma frente fria muito fraca, que vai muito provavelmente afetar o litoral Norte e Centro, e a região Norte, com alguma nebulosidade durante a manhã, sobretudo na sexta-feira, e com alguma precipitação fraca.

Para além disto, as temperaturas vão diminuir no Norte e Centro durante este episódio de amanhã e sexta-feira.

A partir de sábado, vão voltar aos valores atuais, que são que as temperaturas vão atingir no máximo os 30ºC, vão ultrapassar os 30ºC em alguns locais da região Sul, sobretudo no interior e no Algarve - o Algarve que, ainda hoje, se encontra sob aviso de tempo quente, e amanhã vai deixar de estar sob aviso.

Para já, um verão normal para Portugal Continental.

Leia Também: Milhões de pessoas sob alerta para calor extremo e incêndios

Recomendados para si

;
Campo obrigatório