"A montanha pariu um rato", afirmou, em declarações à Lusa, Raul Rodrigues, um dos sócios mais antigos do Lar do Comércio, que desde fevereiro tem vindo a denunciar alegados maus-tratos naquela instituição de Matosinhos.
Os associados reuniram-se, ao final da manhã, com o instituto, à procura de respostas sobre a atual situação do Lar do Comércio, cujo presidente, António Bessa, admitiu, em 6 de junho, ser real a possibilidade de "entregar" o lar em 31 de agosto devido a dificuldades financeiras.
À semelhança de reuniões passadas, este encontro, realizado a pedido deste grupo de associados, não serviu, dizem, o propósito para que foi agendado, não tendo dele saído qualquer informação sobre as condições em que a instituição se encontra a prestar os cuidados aos idosos ou sobre soluções que permitam a melhoria dos mesmos, e até mesmo a sua manutenção, caso venha a concretizar-se a ameaça da atual direção do lar, considerada pela Segurança Social como um "desabafo".
Aos sócios presentes na reunião também não foi adiantada qualquer informação sobre o projeto apresentado pelo lar que pretende transformar o espaço para permitir uma divisão (80-120) entre utentes comparticipados e utentes privados, projeto que já existe e que, afirmou em 6 de junho, António Bessa, "embateu" na Segurança Social.
Segundo Raul Rodrigues, a única garantia deixada pelo instituto público a quem cabe o acompanhamento e fiscalização dos lares de idosos foi a de que a Segurança Social está ali para ajudar a instituição, tal como faz como todas aquelas que acompanha.
A Lusa confrontou a Segurança Social com estas declarações, mas até ao momento sem sucesso.
António Bessa, que assumiu a direção em janeiro de 2021, revelou, em 6 de junho, que a instituição tem um buraco financeiro de mais de um milhão de euros, 150 mil euros/mês, que não consegue solucionar sem a venda de imóveis, cuja venda está a ser contestada judicialmente.
À data, o dirigente defendeu não ser possível "nos tempos de hoje manter as mensalidades" praticadas atualmente pelo lar, confirmando a intenção, avançada dias antes por vários jornais, de aumentar o valor das mensalidades para 1.800 euros.
Reconhecendo que o lar funciona sem licença para Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e sem certificado de segurança contra incêndios, António Bessa descreveu um espaço a necessitar de obras de grande dimensão e para as quais, adiantou, são necessários cerca de 20 milhões de euros.
Ouvido na ocasião pela Lusa, o grupo de sócios que hoje se reuniu com a Segurança Social classificou estas declarações como uma forma de pressão, lamentando que a direção não tenha demonstrado abertura para reunir e discutir os problemas da instituição.
À data, Raul Rodrigues afirmou que os associados continuam disponíveis para contribuir para a solução, deixando claro que "tudo farão para salvar o Lar do Comércio", afirmação hoje reiterada por aquele associado.
Também a Lusa já havia solicitado esclarecimentos à Segurança Social sobre a possibilidade avançada pela atual direção de "entregar" a instituição a 31 de agosto, tema sobre o qual o instituto público continua, à data de hoje, a manter o silêncio.
Em 9 de junho, na sequência de questões colocadas pela Lusa, a Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) informou ter determinado a abertura de um processo de inspeção, por suspeitas de maus-tratos, ao Lar do Comércio, sendo que atuação da atual direção está a ser investigada pelo Ministério Público.
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