As relações bilaterais entre os dois países abrangem atualmente várias áreas de cooperação "com potencial para maior crescimento e diversificação em 2023", segundo a Presidência da República sul-africana.

"É estratégico, como sabemos temos um ADN muito específico no nosso relacionamento com África", sublinhou em declarações à Lusa.

"A África do Sul é um país muito importante neste continente, é um país que está presente em variadíssimas geografias multilaterais como o G20, ou os BRICS que lhe dá uma importância muito específica, e portanto é do nosso interesse atendendo a que temos também relações privilegiadas com dois países que estão na vizinhança da África do Sul -- Angola e Moçambique -, portanto, diria que nos parece óbvio que o relacionamento com a África do Sul em termos de prioridades da nossa política externa, é uma delas. Faz parte desse plano de prioridades", explicou José Costa Pereira.

A 7ª ronda de Consultas Bilaterais entre os dois países realizou-se em Portugal a 24 de junho de 2022 e foram co-presididas pelo vice-ministro das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Alvin Botes, e pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, Francisco André.

Portugal e África do Sul analisaram o conjunto de instrumentos bilaterais em vigor, sobre Fiscalidade, Serviços Aéreos e Cooperação Científica e Tecnológica. Na altura, os dois países manifestaram vontade em celebrar novos instrumentos bilaterais a curto prazo, nomeadamente nos domínios da Defesa, Turismo e Pescas, segundo o Governo sul-africano.

Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa será recebido no Palácio Presidencial Union Buildings, em Pretória, a capital do país, pelo Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal na África do Sul.

Na ótica do embaixador português "é uma ocasião de renovar um diálogo, de reforçar um diálogo", salientando que "está na senda de outras coisas que já se sucederam como a visita da ministra sul-africana dos Negócios Estrangeiros a Lisboa há coisas de 15 dias", sublinhando que "registámos também nota do interesse que existe da parte dos sul-africanos em terem uma relação mais próxima com connosco".

Pretória considera que os dados do comércio bilateral para 2020 e 2021 foram "positivos". As exportações sul-africanas em 2021 ascenderam a 2,8 mil milhões de rands (133,7 milhões de euros), enquanto as importações de Portugal rondaram os 4,6 mil milhões de rands (219,7 milhões de euros) no mesmo ano. Os alimentos constituem cerca de 50% das exportações sul-africanas para Portugal.

Dados oficiais divulgados por Pretória, indicam que "existem cerca de 500.000 sul-africanos de ascendência portuguesa e cerca de 200.000 portugueses que residem na África do Sul de forma permanente, servindo como um importante elo económico entre a África do Sul e Portugal".

"A melhor forma que temos de proteger a nossa contribuição para a sociedade sul-africana é mantermos uma relação próxima, uma relação forte com as autoridades deste país, e daí que este encontro que amanhã irá acontecer entre os dois presidentes será uma oportunidade muito interessante para discutir, não apenas os temas ligados à comunidade portuguesa, eles aparecerão seguramente na agenda da reunião, mas também outros aspetos em que Portugal e a África do Sul têm interesse em colaborar, que seja no plano multilateral", salientou José Costa Pereira.

Todavia, questionado se os dois chefes de Estado conseguirão um "aperto de mão" tendo em conta o "desalinhamento" de Pretória no atual quadro internacional relativamente à guerra na Ucrânia, o embaixador português respondeu: "Mas então, acha que nós só devemos apertar a mão aqueles que pensam como nós? A diplomacia morria nesse dia", vincou.

"É necessário muitas vezes compreendermos as posições que são diferentes das nossas e claro está com certeza que o Presidente Ramaphosa vai aproveitar a oportunidade de ter aqui o senhor Presidente da República para lhe explicar precisamente esta chamada iniciativa africana de paz que ele é um dos atuantes, dos seis chefes de Estado africanos que deverão estar proximamente quer na Ucrânia quer na Rússia para apresentarem uma iniciativa que eles acham, e têm o direito de achar, que pode conduzir a uma redução do conflito, a uma solução do conflito", adiantou.

Portugal quer conhecer "em pormenor" o plano sul-africano de paz para a Ucrânia, avançou o diplomata português, salientando que "será uma boa ocasião lá estar para perceber melhor o que é que eles querem e é isso que a reunião vai permitir com certeza e o senhor Presidente da República explicará com certeza também aquele é a posição portuguesa".

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