Discurso de Putin fez lembrar "os de Hitler". "Não sei em que mundo vive"
Na ótica de José Milhazes, o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado New START, o último acordo bilateral de desarmamento nuclear entre Moscovo e Washington, "leva o mundo ao ponto mais perigoso da antiga Guerra Fria e coloca problemas enormes".
© Global Imagens
País Ucrânia/Rússia
Considerando que o presidente russo, Vladimir Putin, ‘brindou’ o seu país com “uma grande seca” no primeiro discurso sobre o Estado da Nação em quase dois anos, o historiador e jornalista José Milhazes destacou, esta terça-feira, que a situação começa a assemelhar-se à corrida ao armamento da Guerra Fria, “onde quem tem dedos é que vai tocar a guitarra”.
“Acho que o discurso foi uma grande seca, como de costume. Ideias novas, não há grandes. Há, sim, um certo aumento do tom de agressividade na voz de Putin e nas propostas que faz”, começou por dizer o comentador, durante a rubrica ‘Guerra Fria’, na SIC Notícias.
Milhazes apontou também o dedo ao chefe de Estado russo por “acusar o Ocidente de ser o culpado de tudo e de praticamente estar a dizer que a Rússia ia ser invadida e que vai ser invadida”, bem como de “falar em valores tradicionais, quando no país dele esmaga completamente todos os valores e mais alguns, não só tradicionais, como atuais”.
“Putin faz toda uma campanha de um mundo paralelo”, disse, complementando que “os discursos dele fazem-me lembrar muito os discursos de [Adolf] Hitler, que são um mundo à parte”.
“Não sei em que mundo é que vive Putin”, reiterou.
Na ótica do historiador, o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado New START, o último acordo bilateral de desarmamento nuclear entre Moscovo e Washington, que tinha sido prorrogado até 5 de fevereiro de 2026, “leva o mundo ao ponto mais perigoso da antiga Guerra Fria e coloca problemas enormes”.
“Praticamente toda a estrutura do direito internacional do pós-Segunda Guerra Mundial está a ser destruída por Putin de uma forma absolutamente dura”, indicou, atirando que “isto não tem nada a ver com o conflito na Ucrânia”.
Usando uma das declarações do presidente russo como exemplo, que referiu que “quanto mais longo for o alcance dos mísseis fornecidos pelo Ocidente à Ucrânia, mais longe as tropas russas avançarão para garantir a sua segurança”, Milhazes equacionou que, “tendo em conta o avanço das tropas russas em metros e quilómetros, a Portugal ele é capaz de chegar dentro de um século, talvez”.
Contudo, o comentador reforçou que é com este tipo de ameaças “que Putin tenta vergar a vontade do mundo perante um ato que foi cometido por ele, que é a invasão da Ucrânia”.
“Estamos a entrar numa situação muito semelhante à corrida aos armamentos mais complicados da Guerra Fria, e também há a tentativa de alargar este conflito a outras regiões do mundo. Putin quer de toda a forma ganhar aliados, e está disposto a fazer o que fez a União Soviética”, disse, recordando que à data da queda do Império Português investiu “quantidades enormes de dinheiro para que Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde ficassem na zona de influência soviética”, uma das razões que determinou o fim da URSS.
“Vamos entrar numa corrida aos armamentos e numa luta em termos internacionais onde quem tem dedos é que vai tocar a guitarra. Acho que os chineses continuam a ter uma posição ambígua e permitiram este discurso”, resumiu.
De notar que o discurso de Putin aconteceu três dias antes de ser assinalado o primeiro aniversário da ofensiva militar russa na Ucrânia, iniciada na madrugada de 24 de fevereiro de 2022.
A ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram mais de oito mil civis desde o início da guerra e 13.287 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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