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"Almada colonial". Autarca criticada após retirar palavra a munícipe

Munícipe usou expressão que desagradou a autarca e Inês de Medeiros retirou-lhe a palavra, assumindo "todas as consequências desta decisão". No Facebook, sublinhou que "a cidadã achou que poderia proferir acusações insultuosas e gratuitas contra a Câmara e Almada". Ao Notícias ao Minuto, Renata Camargo apontou a necessidade de se "pensar em mudanças estruturais".

"Almada colonial". Autarca criticada após retirar palavra a munícipe

"Almada colonial". Esta é a expressão que está no centro de uma nova polémica na cidade, após ter sido proferida por uma cidadã brasileira durante uma sessão em que foi dada a palavra aos munícipes - quando se discutia o realojamento das famílias do Bairro 2.º Torrão - e que levou, em seguida, a uma reação da autarca Inês de Medeiros. O Notícias ao Minuto pediu esclarecimentos à autarquia de Almada e falou com Renata Camargo, a outra 'protagonista' da questão.

Nas imagens, que circulam nas redes sociais, após a cidadã mencionar tal expressão, a presidente da Câmara de Almada interrompe-a e afirma: "Renata, a próxima vez... vou-lhe já cortar a palavra. Para mim, a palavra 'colonial' ou 'colonialista' é um insulto. Já não é a primeira vez que a senhora a utiliza. E, portanto, ou retira imediatamente a expressão que usou ou eu retiro-lhe imediatamente a palavra e assumo todas as consequências desta minha decisão". 

Em tom exaltado, Inês de Medeiros prossegue: "A senhora retira ou não retira a expressão 'Almada colonial'? A senhora retira ou não retira a expressão 'Almada colonial'?"

Em resposta, a cidadã "convida" a autarca a "discutir" o tema "noutro momento". Mas a presidente da Câmara de Almada reitera: "Eu não quero discutir consigo. Dona Renata, acabou o seu tempo, muito obrigada. É favor desligar o microfone desta senhora, eu considero-me insultada por esta senhora. Passaram os dois minutos regimentais, acabou a intervenção". 

Estas palavras espoletaram uma polémica nas redes sociais, com internautas a acusarem Inês de Medeiros de levar a cabo um "atentado à Democracia", negando um "passado racista e colonialista". 

Instada pelo Notícias ao Minuto a fazer um comentário a esta questão, a Câmara de Almada remeteu para um post de Inês de Medeiros no Facebook. Neste, publicado na noite de terça-feira, a autarca sublinha que "ontem, pela segunda vez, a cidadã Renata Camargo achou que poderia proferir acusações insultuosas e gratuitas contra a Câmara e Almada".

"Em assembleia municipal, qualificou a ação de realojamento da população em risco da vala do 2.º Torrão como um ato de racismo e de colonialismo. Em reunião de Câmara, opta por dissertar sobre o colonialismo de Almada", assevera ainda Inês de Medeiros, acrescentando que "Almada é uma cidade e uma população que se orgulha da sua história de luta pela liberdade e pela igualdade, do seu legado progressista e de ser um dos municípios mais multiculturais do país."

"A título pessoal lamento ter que lembrar o meu percurso, as posições políticas e cívicas assumidas sempre com a mesma frontalidade, e o meu trabalho como realizadora", salienta ainda, recordando que, "há mais de 20 anos, em 2001", realizou o seu primeiro "documentário de longa metragem sobre as heranças nefastas do colonialismo."

"Por isso, seja a nível pessoal, mas sobretudo como representante máxima de Almada e das Almadenses, considerei e considero estas afirmações, cujo o único intuito é de criar um caso para as redes sociais e de se aproveitar de causas relevantes e dignas de respeito para proveito próprio, intoleráveis", frisa, concluindo que "nem Almada nem os serviços municipais que têm sido incansáveis no apoio e na salvaguarda das pessoas do 2.º Torrão, têm lições a receber da cidadã em causa".

Em declarações ao Notícias ao Minuto, Renata Camargo explica que a expressão "Almada colonial", por ela proferida na sessão camarária, surgiu da necessidade de se "pensar em mudanças estruturais" para resolver as questões das pessoas do Bairro 2.º Torrão: "Estamos a falar de um bairro com cerca de 70 anos [...] onde retornados e afrodescendentes encontraram um lar". 

Para a cidadã, este local "tem, na sua existência, uma estrutura de exclusão". "Trata-se de um problema estrutural que é também uma herança colonial", considera. E o 2.º Torrão, na sua visão, precisa uma "resolução para que as pessoas deste bairro não sejam colocadas numa situação pior", ou seja, há a necessidade de um "processo integrado de realojamento". 

"Respondo ao vereador Filipe Pacheco [PS] que afirmou as famílias foram retiradas e colocadas em melhores condições", recorda, revelando que há alojamentos provisórios "deploráveis", com pessoas "em muito piores condições do que aquelas em que estavam". 

Quanto às palavras e ao tom a si dirigido por Inês de Medeiros, Renata Camargo aponta uma "atitude antidemocrática de uma pessoa que não aceita o debate" e que "acredita que não tem nada a aprender". "Estou a revelar um problema estrutural, não pessoal. Não é uma questão pessoal, nem minha, nem dela [Inês de Medeiros]", conclui. 

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