Debate sobre futuro das relações Europa-África junta especialistas
Responsáveis e analistas europeus e africanos discutem na terça-feira em Lisboa o futuro das relações Europa-África, no rescaldo da cimeira deste mês entre as duas regiões, quando o mundo está a sofrer profundas modificações.
© Reuters
País Lisboa
"Esta conferência tem como objetivo debater as conclusões que saíram da cimeira [EU-África de 02 e 03 de abril em Bruxelas], mas também debater o que está a acontecer do ponto de vista das dinâmicas globais", disse à Lusa o investigador Fernando Jorge Cardoso, do Instituto Marquês de Valle Flôr, um dos organizadores da conferência "O Jogo Global Mudou. Qual o papel das relações Europa-África?"
Organizada em parceria com o Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, o Centro Europeu para a Gestão das Políticas de Desenvolvimento e a rede EARN de investigação, a conferência reúne na Gulbenkian responsáveis da Comissão Europeia, da União Africana e de instituições de investigação de ambos os continentes.
Segundo Fernando Jorge Cardoso, o encontro começa, após um discurso do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, com uma análise dos resultados da cimeira de Bruxelas.
Passa depois por uma reflexão sobre "acontecimentos relativamente recentes", como "a transformação de antigos recebedores de ajuda em novos doadores de ajuda", os chamados países emergentes, como a China, a Índia ou o Brasil, "que neste momento têm um papel fundamental" nesta área.
Finalmente, os participantes vão refletir sobre o futuro do relacionamento Europa-África, num momento em que "o mundo está a sofrer profundas transformações e o relacionamento Europa-África está cada vez mais baseado numa relação comercial e de investimento" e menos nas questões de cooperação para o desenvolvimento, defendeu Fernando Jorge Cardoso.
Segundo o investigador, a importância da Europa na ajuda ao desenvolvimento de África é hoje muito menor, por um lado porque "há uma entrada maciça de outros atores, em particular a China, que levou a uma mudança das regras do jogo".
Por outro lado, a unidade africana está posta em causa, porque "existe novamente um conjunto de conflitos e problemas desagregadores ao nível do continente que levam a um desvio de atenções deste relacionamento Europa-África", afirmou.
Sublinhando falar em seu nome apenas, o especialista antecipou que se verifique no futuro uma perda de importância das organizações regionais no relacionamento entre os dois continentes, já que os países africanos não estão interessados em que a União Africana assuma o papel de ator único no relacionamento com a União Europeia.
"Eu penso que o que vai acontecer é uma perda de importância das organizações regionais no relacionamento e um aumento de importância dos fluxos de investimento, comércio e cooperação política para alguns países, enquanto outros ficam cada vez mais votados a um lugar de vítimas de flagelos, conflitos, etc.", afirmou.
Esta situação, argumentou, tem a ver com o momento atual, em que "o capitalismo global é um capitalismo claramente extremista, em que as classes médias deixam de ter importância e aquilo que é importante é a expansão dos investimentos para cada vez maiores territórios, um empobrecimento generalizado da população, e contraditoriamente um aumento da qualificação da mão de obra".
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