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Migrações. Informar sobre riscos "não chega", é preciso dar alternativas

O combate à migração irregular de África para a Europa costuma ser feito com base em campanhas de informação, mas a investigadora da universidade Nova Carla Batista defende que é preciso criar alternativas, nomeadamente formação profissional.

Migrações. Informar sobre riscos "não chega", é preciso dar alternativas
Notícias ao Minuto

08:28 - 18/09/22 por Lusa

País investigadora

"O que a União Europeia mais faz são campanhas de informação sobre os riscos [de empreender uma viagem para migrar para a Europa], mas os estudos mostram que dar informação não chega, até porque muitas destas pessoas estão conscientes de que vão enfrentar risco de vida", afirmou a professora e investigadora da universidade.

Por isso, os especialistas, nomeadamente os que estiveram presentes na 15ª Conferência Internacional "Migrações e Desenvolvimento", que decorreu no final desta semana em Carcavelos, Lisboa, consideram que é imprescindível apresentar alternativas.

"Dar formação profissional, por exemplo", avançou à agência Lusa Carla Batista.

"Potenciar a formação profissional a pessoas com baixos níveis de qualificações em profissões básicas como a construção de pequenos eletrodomésticos, como telemóveis, dá-lhes a hipótese de migrarem mesmo ali na região da África Central, por exemplo, para o Senegal, em vez de tentarem ir para a Europa", referiu a investigadora, argumentando que, nesses casos, os riscos são muito menores ou inexistentes.

A conclusão foi tirada na sequência de estudos do NovaAfrica Knowledge Centre sobre as migrações irregulares da África Ocidental para a Europa.

As evidências mostram que "quando uma pessoa sai da África Ocidental para ir para a Europa, percorrendo o chamado caminho do Mediterrâneo Central, atravessa o deserto do Saara, o que é muito perigoso porque é feito em carrinhas de caixa aberta e quando alguém cai, fica no deserto e acaba por morrer", contou Carla Batista.

Mesmo quando passam esta etapa, os migrantes enfrentam outros perigos ao chegar à Líbia.

"Muitas vezes ficam aí, em situações de trabalho forçado, porque apanham traficantes ilegais que cobram montantes exorbitantes para pessoas que tipicamente vêm de sítios muito pobres", recorda.

Depois destes riscos, os migrantes ainda têm de fazer a travessia do Mediterrâneo, ponto da viagem sobre o qual há mais informação.

Segundo Carla Batista, apesar de os números indicarem que uma em cada três pessoas a fazer a travessia morre pelo caminho, esta "é a parte menos arriscada neste caminho".

A formação profissional não servirá só para que as migrações aconteçam com menos riscos e sejam mais regionais do que internacionais: também será útil para quem, mesmo assim, siga para a Europa.

"Torna mais fácil aos migrantes arranjarem uma autorização de trabalho, porque já têm uma qualificação certificada pela União Europeia", explicou Carla Batista.

Uma das coisas que foi tentada foi dar dinheiro a pessoas na Gâmbia - o país da África Ocidental com maior taxa de imigrações irregulares - para poderem, nomeadamente, pagar um bilhete de autocarro e experimentarem ir ao Senegal e encontrarem trabalho.

"Fizemos também um documentário com outros migrantes que já estavam no Senegal para mostrar que realmente há ali oportunidades de trabalho e que a viagem não tem riscos e nem sequer é preciso um passaporte nem visto", contou, adiantando que "muitos estão agora a ir mais de forma permanente para essas zonas do Senegal".

A conferência, que decorreu no final da semana em Lisboa, foi organizada pela NovaAfrica Knowledge Centre, pela Agência Francesa para o Desenvolvimento e pelo Banco Mundial e juntou especialistas mundiais para discutir a forma como as migrações impactam a nível económico e social os países de origem e de destino.

Leia Também: OIM resgata 50 migrantes da África Ocidental no deserto a norte do Níger

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