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Técnicos de manutenção de aeronaves têm altos níveis de fadiga

Os técnicos de manutenção de aeronaves apresentam níveis acima do normal para a população portuguesa de sonolência e fadiga, sobretudo os que trabalham por turnos, com sinais sugestivos de 'burnout' face aos que não trabalham por turnos.

Técnicos de manutenção de aeronaves têm altos níveis de fadiga
Notícias ao Minuto

15:54 - 11/08/22 por Lusa

País Estudo

As conclusões são do estudo "Saúde e Sono dos Técnicos Portugueses de Manutenção de Aeronaves", levado a cabo pelo Centro de Medicina do Sono (CENC), a pedido do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (Sitema), coordenado pela neurologista e especialista do sono Teresa Paiva e que teve como investigadora principal Cátia Reis.

O estudo contou com a colaboração de 348 técnicos de manutenção de aeronaves, dos quais a maioria (85,1%) trabalha por turnos.

A análise concluiu que 60% dos inquiridos sofria de sonolência diurna e 70,3% referia sonolência durante o horário de trabalho.

Adicionalmente, 60,9% dos inquiridos reconheceu ter dificuldades em adormecer, enquanto 61,1% reportou dificuldades em acordar e também fadiga ao acordar (75,9%).

Do total de inquiridos, 77,9% revelou não dormir o suficiente.

"No cômputo geral, os indicadores deles estão um bocadinho acima do que é reportado para a população geral, temos valores elevados para a nossa população, mas os deles são maiores, apesar de serem uma população relativamente jovem", disse à Lusa a investigadora Cátia Reis, que também já desenvolveu estudos do mesmo género com pilotos da aviação.

Para a investigadora, isto está associado ao trabalho por turnos.

"O facto de trabalhar por turnos tem esta condicionante, é muito mais difícil conseguirmos suprir as necessidades de sono, pelas condicionantes do próprio trabalho, e depois temos de pensar noutra questão: um trabalhador não é uma máquina, tem uma família por trás, têm filhos, eles são relativamente jovens e grande maioria tem filhos pequenos e isto faz com que, se calhar, saiam do turno da noite e em vez de ir dormir, que era o que deveriam fazer, querem estar com os filhos aquele bocadinho antes de entrarem para a escola", explicou Cátia Reis.

O estudo observou também níveis sugestivos de 'burnout' (esgotamento profissional) nos técnicos de manutenção de aeronaves.

"Vimos que, efetivamente, havia sinais sugestivos de 'burnout' no grupo de trabalho por turnos e não no grupo de trabalho dos que não faziam turnos", apontou a investigadora.

Em comunicado, o presidente da direção do Sitema, Paulo Manso, referiu que "o desgaste fruto de uma profissão por turnos é natural, mas este estudo revela que há um elevado risco de 'burnout' nos TMA [técnicos de manutenção de aeronaves], fruto de um descanso de fraca qualidade".

"A maioria sente que faz o seu trabalho sozinho, sem apoio de colegas ou chefias, o que demonstra que há cada vez mais falta de pessoal", acrescentou o dirigente sindical.

O estudo concluiu também que 14,1% dos inquiridos já teve acidentes ao voltar para casa no final de um turno, sendo que 9,5% reportou que os acidentes ocorreram após o turno da noite.

Dos participantes, 61% disse sofrer de doenças crónicas, sendo a patologia músculo-esquelética a mais reportada (48,6%), seguida por doenças respiratórias (14,2%) e por doenças neurológicas (11,5%).

A doença cardiovascular surge em quinto lugar (6,5%), a seguir às doenças dermatológicas (7.7%).

Para melhorar estes valores, são deixadas algumas recomendações, como a rotatividade para a frente dos turnos (manhã-tarde-noite), o que não estava a acontecer no caso dos inquiridos, e formações aos profissionais, para que consigam lidar com o trabalho por turnos.

Foram convidados a participar neste estudo 600 trabalhadores associados do Sitema, tendo-se obtido 348 respostas válidas, com uma taxa de resposta de 60%.

A colheita de dados foi realizada entre maio e junho de 2019, 'online', numa amostra com média de idade de 40,3 anos, a maioria homens (96,3%), casados (75,9%) e com filhos (70,1%).

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