"Jorge Sampaio foi uma das personalidades que mais marcaram a minha vida profissional. As primeiras referências datam dos meus tempos de universitário. Na crise de 1962, constituiu-se em exemplo de lucidez e coragem cívica para os que, em Coimbra, sondavam um novo rumo fazendo luto académico e renunciando amargamente à queima das fitas", disse à agência Lusa José Narciso da Cunha Rodrigues.

Cunha Rodrigues recordou ter conhecido, depois, Jorge Sampaio como membro da Comissão Europeia dos Direitos do Homem. "Em Estrasburgo, juntávamo-nos em serões de conversa em que descobri melhor o homem e o político, o seu modo de usar a radicalidade como forma de resistência e de transformação do mundo e a moderação como modo de promover o progresso e a paz social".

Para o antigo PGR, Jorge Sampaio "era um Homem bom" de quem se tornou amigo.

"Tornámo-nos amigos. Depois, como PGR, pude beneficiar do seu humanismo, do seu sentido de Estado, da sua sensibilidade e da sua compassividade", enfatizou Cunha Rodrigues, lembrando que Jorge Sampaio foi "uma presença constante" no exercício das suas funções como PGR.

"Culto, dotado dos saberes e da intuição de insigne jurista, relacionava-se com a Justiça com um distanciamento institucional e uma proximidade afetiva que tornaram o seu magistério verdadeiramente exemplar. Curvo-me perante a sua memória, concluiu Cunha Rodrigues.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital Santa Cruz, em Lisboa.

Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.

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