Em comunicado, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) realça a "grande importância" das doações, "que valorizam e reforçam" o acervo do museu instalado no palácio do Monteiro Mor, em Lisboa, desde 1985.
Além dos acervos do bailarino e coreógrafo Armando Jorge, de 83 anos, e o do encenador e ator Rui Mendes, de 84 anos, foram também recebidos uma coleção de manuscritos do dramaturgo Carlos Selvagem (1890-1973), doada pela família, e o espólio da pintora, cenógrafa e figurinista Vera Castro (1947-2010).
O museu recebeu ainda um óleo de Manuel Amado (1938-2019), "A ceia dos polichinelos" (2005), que fez parte da sua exposição "O espetáculo vai começar...", dedicada ao teatro, que, em 2007, esteve patente na Galeria D. Luís, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. Esta tela encontra-se exposta na entrada do museu.
A DGPC refere que Manuel Amado foi "sempre ligado ao Teatro" e a assessoria de imprensa da tutela disse à agência Lusa que o processo de doação foi iniciado ainda com o pintor.
Armando Jorge dançou no Círculo de Iniciação Coreográfica, de Margarida de Abreu, e fez parte dos Bailados Verde Gaio. No Canadá, "viria a afirmar como bailarino clássico", fazendo parte dos Grands Ballets Canadiens.
Jorge foi professor e codiretor do Ballet Jazz de Montreal e fez um estágio de direção artística no Ballet do 20e siècle, de Maurice Béjart. Em Portugal, fez parte do Ballet Gulbenkian, onde se iniciou como coreógrafo. De 1978 a 1993 foi diretor da Companhia Nacional de Bailado.
"O seu espólio não só tem a maior importância para a história da dança em Portugal, como também para o conhecimento da evolução da dança a nível internacional, uma vez que Armando Jorge, além da carreira internacional referida, foi também um exímio colecionador de objetos e de documentação associados à dança europeia", assinala a DGPC.
O espólio de Vera Castro foi doado pelo seu irmão Rui Morais e Castro.
Para Rui Morais e Castro, em declarações à Lusa, "é importante disponibilizar o espólio da artista ao público, apesar das memórias afetivas".
Vera Castro criou figurinos para obras de Olga Roriz, Paulo Ribeiro, Né Barros, Rui Lopes Graça e Mehmet Balkan, entre outros coreógrafos. Como pintora, está representada na coleção do Ministério da Cultura, além de várias coleções privadas.
Por seu lado, o ator e encenador Rui Mendes, que protagonizou séries televisivas como "Duarte & Cia" doou a sua biblioteca e espólio.
Rui Mendes começou a estudar arquitetura e tornou-se ator profissional em dezembro de 1956 no Teatro da Trindade. Fez parte de várias companhias como o Teatro Popular de Lisboa, Teatro Moderno de Lisboa, Teatro Nacional Popular, Grupo 4/Teatro Aberto, de que foi um dos fundadores, Teatro Adóque, Teatro da Cornucópia, Teatro Nacional D. Maria II e Teatro da Malaposta.
A partir de 1975 iniciou-se na encenação tendo dirigido, entre outras peças, "Três Irmãs", de Tchekov (1988) no Teatro da Cornucópia, "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare (1991) na Malaposta, ou "A Louca de Chaillot", de Jean Giraudoux (1995) no Nacional D. Maria II.
No cinema, participou em cerca de vinte películas, nomeadamente "Raça" (1961), de Augusto Fraga, "O Fim do Mundo" (1992), de João Mário Grilo (1992), ou "O Milagre Segundo Salomé" (2004), de Mário Barroso.
"A par da atividade como ator, Rui Mendes trabalhou como cenógrafo e foi, durante duas décadas, professor da Escola Superior de Teatro e Cinema (1980-2000)", refere a DGPC, realçando que "o espólio de Rui Mendes contempla também a sua uma vasta e rica biblioteca teatral e um núcleo documental do ator Henrique de Albuquerque [1880-1942], seu avô".
Para a DGPC, a doação pela família de Carlos Selvagem "trata-se de uma coleção da maior importância para a preservação e para o conhecimento da dramaturgia e do teatro português".
Carlos Selvagem é "um dos mais vigorosos dramaturgos portugueses do período que se seguiu à I Guerra Mundial [1914-1918]".
Segundo a DGPC, "tendo iniciado a sua carreira teatral com um drama rural de intensa ação dramática, 'Entre Giestas' (1917), enveredou depois pela alta comédia, aliando à aprofundada observação dos carateres uma cuidadosa análise do enquadramento social".
"A derradeira fase da sua obra compreende algumas peças de alto nível", como "Espada de Fogo" (1949), "O Anjo Rebelde" (1962) ou "A Bela Impéria" (1966).
Leia Também: Mais de 30 espetáculos e uma dezena de novas exposições na Culturgest