Ponta Delgada e Lagoa? Não foram aceites todas as justificações

No primeiro dia em vigor das cercas sanitárias criadas em São Miguel para conter o surto da covid-19, só passou entre os concelhos de Ponta Delgada e Lagoa quem apresentou uma declaração que justificasse o motivo da deslocação.

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Lusa
03/04/2020 15:40 ‧ 03/04/2020 por Lusa

País

Covid-19

 

Durante a manhã de hoje, na zona entre o Livramento, em Ponta Delgada, e a Atalhada, na Lagoa, uma fila de dez carros aguardava a vez para passar na cerca sanitária que impede as deslocações entre concelhos.

"Estou aqui há dez minutos a aguardar a minha vez. Tenho um prédio na Lagoa e tenho de ir dar de comer aos animais", começou por dizer à agência Lusa Jaime Branco, de 84 anos, que foi interrompido por um dos dois polícias no local, que se encontram acompanhados por outros dois funcionários vestidos com um colete do Governo dos Açores.

Os agentes pararam carro a carro antes de autorizar ou de impedir a passagem. No caso de Jaime Branco, a entrada na Lagoa foi barrada, uma vez que não apresentava qualquer documento justificativo.

"Eu não posso pôr os animais dali para fora. Tenho lá um cão. Só quero que me digam como vou dar comida aos bichos", disse, quando já ia no sentido contrário para voltar para casa.

Os carros continuaram a chegar, mas a fila ficou quase sempre com a mesma extensão, uma vez que os guardas agilizavam a operação à medida que o trânsito parecia intensificar-se.

Os guardas da PSP no local acabaram por dizer à agência Lusa que a existência de engarrafamento num certo período da manhã se deveu a algumas pessoas que não apresentaram as declarações exigidas, situação a que os agentes procuraram responder com a explicação das condições em que é permitida a passagem.

Quem não demorou muito tempo na presença dos guardas foi o carteiro José Henrique, até porque a carrinha dos CTT que conduz já denuncia que irá prestar um serviço considerado essencial. Confessa que "já veio preparado" com todos os documentos necessários, mas acredita que profissionais como ele deviam ter "alguma prioridade" para não ficarem presos na fila de carros.

"Atrasa sempre um bocadinho. A minha sorte é que ontem [quinta-feira] já tinha entregado a maior parte das encomendas da zona da Lagoa. Acho que devíamos ter alguma prioridade. Mas é a função deles e concordo com a medida pela maneira que as coisas estão hoje em dia", afirmou.

Sorte diferente teve Mário Pacheco, pescador, que mora no Livramento e que pretendia ir à Lagoa para averiguar o estado de um dos seus barcos face ao mau tempo dos últimos dias. Não lhe foi permitida a passagem uma vez que os agentes entenderam que o título de propriedade das embarcações não servia como prova do motivo da deslocação.

"Isso não tem 24 horas desde que foi avisado. Se conhecem as pessoas e se há documentos deviam facilitar hoje. Não tenho a declaração, mas vou ter. O presidente do Governo está a dizer que a vida não pode parar, mas assim eu estou parado", apontou, referindo que não sabe o que irá fazer até "porque amanhã [sábado] é fim de semana" o que irá dificultar a obtenção da declaração exigida.

Segundo a resolução do Governo Regional que regulamentou os cercos sanitários, o "exercício de atividades do setor da pesca" está incluída entre as exceções permitidas para atravessar os cercos sanitários.

Contudo, a mesma resolução, não refere que documentos devem apresentar os pescadores aos agentes que se encontram nas fronteiras entre os concelhos.

Passada uma hora desde que a Lusa chegou à zona, os guardas da PSP abandonaram o local, ficando apenas os outros dois funcionários do Governo Regional a controlar as passagens.

Uma situação que já tinha acontecido ao início da manhã, segundo o relato de Eurico Lima, que se encontra a aguardar há cinco minutos, num dos últimos carros da fila.

"De manhã, não havia nenhum agente de segurança, zero. Isto não tem cabimento. Sei que estamos numa fase inicial e que possivelmente vai haver problemas, mas há muita coisa a melhorar", afirmou.

Eurico Lima é morador na Lagoa e foi levar a mulher, que trabalha no tribunal em Ponta Delgada. A passagem foi "relativamente breve", até porque apresentou os "documentos comprovativos", mas defende que é necessária a colaboração das forças militares no controlo entre as fronteiras dos concelhos.

"Quando me dizem que as Forças Armadas têm de estar acompanhas por um agente para poder intervir na área da segurança e eu chego aqui e vejo um funcionário da Câmara, só posso perguntar se um funcionário da Câmara tem mais autoridade do que um militar", destacou, referindo-se aos trabalhadores que vestiam um colete identificativo do Governo dos Açores.

Com o passar das horas, os carros passaram a ser menos frequentes naquela zona e o trânsito dissipou-se.

A Lagoa tem cerca de 14 mil habitantes e é composta pelas freguesias de Água de Pau, Cabouco, Nossa Senhora do Rosário, Ribeira Chã e Santa Cruz.

É neste concelho da costa sul de São Miguel que se encontra o porto dos carneiros, essencialmente piscatório, o centro de ciência viva Expolab e o parque tecnológico Nonagon.

De acordo com os censos de 2011, estão sediadas 1.121 empresas na Lagoa, equivalente a 2,3% das empresas sediadas nos Açores.

Nos Açores, registavam-se hoje 66 casos positivos para infeção pelo novo coronavírus: 31 em São Miguel, 11 na ilha Terceira, três na Graciosa, sete em São Jorge, nove no Pico e cinco no Faial.

Segundo a Autoridade de Saúde Regional, dos 31 casos de covid-19 em São Miguel, 19 são em Ponta Delgada, nove na Povoação, um na Lagoa, um no Nordeste e um na Ribeira Grande.

 

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