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Proposta classificação dos incêndios à semelhança de outros desastres

A equipa de investigadores do projeto FIREXTR criou um sistema para classificar os incêndios em diferentes categorias de intensidade, à semelhança do que acontece com outros desastres.

Proposta classificação dos incêndios à semelhança de outros desastres
Notícias ao Minuto

11:07 - 22/02/19 por Lusa

País Investigador

O sistema de classificação de incêndios foi criado no âmbito do projeto de investigação científica FIREXTR e propõe-se dividir os incêndios em sete categorias, disse à agência Lusa Fantina Tedim, coordenadora do projeto que junta várias instituições e especialistas de diversos países.

Para além da intensidade da energia libertada na cabeça de incêndio, o sistema inclui outros parâmetros, como a velocidade de propagação, a distância das projeções e a intensidade das projeções, entre outros.

"Os limites de cada uma das sete categorias foram estabelecidos com base em dados e resultados extraídos da literatura científica, recentemente publicada em diferentes partes do mundo, nomeadamente em Portugal", salienta Fantina Tedim.

O sistema de classificação consiste na identificação "de sete categorias de incêndios", com as categorias 1 a 4 a representarem incêndios designados por 'normais', em que estão dentro da capacidade de controlo e em que a energia libertada na frente de incêndio é inferior a 10.000 kW/m (quilowatt/metro).

Já nas categorias 5 a 7 estão integrados aquilo a que se designam os incêndios 'extremos', que não são controláveis "em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo, por mais numerosos, equipados, formados e treinados que sejam os operacionais", sublinha Fantina Tedim.

Com base nos cálculos feitos pela Comissão Técnica Independente (CTI), a investigadora refere que nenhum dos incêndios de 2017 atingiu a categoria 7, que considera apenas incêndios com intensidade superior a 100.000 kW/m e que poderão ter uma velocidade de propagação de mais de 300 metros por minuto (18 km/h), e chamas que atinjam uma altura de 100 metros (sensivelmente, o tamanho do Cristo Rei).

Com base nos relatórios da CTI, quer o incêndio de Pedrógão Grande, em junho de 2017, quer os incêndios de outubro de 2017 com origem na Sertã (que se estendeu à Pampilhosa da Serra) e em Pataias (que queimou grande parte do Pinhal de Leiria) atingiram a categoria 6, alcançando, em determinado momento, uma intensidade de 60.000 kW/m, 80.000 kW/m e 55.000 kW/m, respetivamente.

Ainda este ano, a equipa de investigadores pretende publicar uma versão ampliada da classificação, que integra para cada uma das sete categorias as ameaças potenciais a que as populações e operacionais estão sujeitos, "assim como o tipo de danos potenciais que as infraestruturas podem sofrer", explicou.

Para Fantina Tedim, a classificação permite caracterizar melhor os incêndios rurais, alterando também a perceção que a sociedade tem deste fenómeno.

"A imagem que habitualmente passa para a sociedade é que os incêndios rurais são todos iguais e que a única forma de os diferenciar é em função da área ardida", afirma, considerando que esta dimensão pouco esclarece sobre as características do incêndio.

Ou seja, mais do que saber quanto é que ardeu num determinado incêndio, importa, por exemplo, saber a altura das chamas. É "completamente diferente" para os operacionais estar perante chamas de um metro de altura ou de dez metros, nota.

"Num incêndio de categoria 1, para além de ser fácil a extinção do incêndio, as características do mesmo não colocam grandes problemas de sobrevivência às pessoas sem deficiência. Pelo contrário, quando estamos perante um incêndio extremo, as condições de sobrevivência são muito difíceis, mesmo para pessoas sem deficiência, mas é possível sobreviver em determinadas condições que devem ser consideradas, quer na prevenção, quer na preparação dos cidadãos", salienta a coordenadora do projeto.

De acordo com a responsável, "há uma semelhança entre o enfoque que é adotado nesta classificação e o que acontece com outros perigos naturais, como os furacões ou os sismos. Por exemplo, quando se fala de um furacão de nível 1, as pessoas compreendem que a situação não é tão difícil como se o furacão tiver nível 4 ou 5. Neste último caso, o vento será muito mais forte e o potencial de destruição é muito mais elevado".

"As pessoas reconhecerem a existência de diferentes tipos de incêndios e que estes representam diferentes níveis de ameaça é fundamental para que seja devidamente organizada a prevenção e a preparação das populações", fundamenta.

Segundo a investigadora da Universidade do Porto, a implementação deste sistema será importante para "que a sociedade desenvolva a capacidade de "coexistir com o fogo", em vez de continuar a fazer "guerra ao fogo", ignorando os limites da capacidade de extinção dos incêndios e os seus custos crescentes".

O Firextr é um projeto de investigação multidisciplinar, que envolve oito instituições de Portugal, da Austrália, Canadá, França, Itália e EUA.

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