Em declarações à agência Lusa no final da cerimónia com que a Universidade Católica Portuguesa (UCP) outorgou ao cardeal de Boston o Doutoramento Honoris Causa, Manuel Clemente lembrou tratar-se de "uma das figuras mais interessantes" que há no protagonismo eclesial e, mais ainda, muito próximo do papa Francisco.
"É uma das figuras mais interessantes que temos no protagonismo eclesial e muito próximo ao papa Francisco. Pertence àquele grupo que escolheu e que está a preparar uma reorganização dos serviços centrais da Igreja, tem estado em várias frentes, todas elas importantes, e a desempenhá-las muito bem", referiu.
Para o cardeal patriarca de Lisboa, O'Malley é uma personalidade "muito querida", quer da e na Igreja americana, quer da e na universal, com Portugal a ter a sorte de ser associado a um "laço especial".
"Contactou sempre muitos portugueses [bem como brasileiros e cabo-verdianos] na América, aproximou-se realmente deles, a partir da língua que fala com facilidade. Manteve aquele seu bom humor que herdou dos seus avós irlandeses, que desenvolveu na América e que nos faz bem a todos. Faz-nos ficar bem dispostos, mesmo quando diz verdades, o que nos cria uma disposição ainda maior para servir toda a gente", notou.
Sobre a intervenção de O'Malley na aceitação do Doutoramento, em que destacou a dicotomia entre as celebridades, que não ajudam, e os cuidadores, que tratam da fé, Manuel Clemente observou que o cardeal de Boston, além de cristão, é capuchinho, um franciscano.
"Francisco de Assis, no seguimento de Jesus, é exatamente o exemplo de uma personalidade preenchida. Nenhum dos dois, nem Jesus e nem Francisco de Assis, procuraram protagonismo fácil e não lhes faltavam qualidades. No entanto, pela profundidade e pela verdade com que viveram, continuam a influenciar-nos a todos e muito especialmente ao nosso estimado cardeal O'Malley", explicou.
"[O doutoramento foi] muito bem atribuído, pela relação antiga e quase constitutiva da UCP que tem com a lusofonia americana, com a luso-descendência americana e com os seus bispos e arcebispos. Na figura do cardeal O'Malley temos a melhor ponte entre as duas margens do Atlântico", concluiu.
O'Malley, 73 anos, natural de Lakewood, no Estado norte-americano de Ohio, onde nasceu a 29 de junho de 1944, foi hoje doutorado Honoris Causa pela UCP, sob proposta da Faculdade de Teologia, como reconhecimento pelo apoio à comunidade portuguesa nos Estados
Doutorado em Literatura Espanhola e Portuguesa, o cardeal norte-americano, nomeado arcebispo a 01 de julho de 2003, é membro de várias congregações e conselhos da Santa Sé e integra o chamado 'G9', o grupo restrito de cardeais que o papa escolheu para se pensar as reformas da cúria romana e das instituições da Igreja.
Um dos seus livros, "Anel e Sandálias", publicado pela Paulinas Editora (2010), está traduzido em português. O lema das suas armas cardinalícias é "Quodcumque dixerit facite" ("Fazei tudo o que Ele vos disser"), a frase que Maria, Mãe de Jesus, diz aos serventes nas bodas de Caná (Jo 2, 5).
Em 1985, foi agraciado com a Comenda da Ordem Infante D. Henrique, em reconhecimento pelo "notável trabalho" junto da comunidade de luso-americanos. Em 2016 foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, por serviços prestados às comunidades portuguesas nos Estados Unidos, nomeadamente em Washington e depois em Fall River.