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Swissair 111: O dia em que uma pequena vila ouviu um avião cair no mar

Um desastre aéreo que mudou para sempre a pequena comunidade de Peggys Cove, na Nova Escócia, Canadá. Há 19 anos, um avião da Swissair caiu no mar, após um incêndio no cockpit, causando a morte a todas as 229 pessoas a bordo.

Notícias ao Minuto

08:31 - 02/09/17 por Anabela de Sousa Dantas

Mundo Desastre

No dia 2 de setembro de 1998, o voo 111 da Swissair partiu do aeroporto JFK, em Nova Iorque, com destino a Genebra, na Suíça, com 215 passageiros e 14 tripulantes a bordo. Cerca de cinquenta minutos depois da descolagem, os pilotos começaram a sentir um cheiro estranho no cockpit, que acabaram por determinar ser cheiro a queimado proveniente do sistema de ar condicionado.

Quando começou a surgir fumo, emitiram um sinal de socorro e receberam autorização para aterrar de emergência no Aeroporto Internacional de Halifax, na Nova Escócia. Não foram a tempo. Às 22h31 (hora local), os habitantes de Nova Escócia que moravam mais perto da costa sentiram as suas casas tremer com o embate do McDonnell Douglas MD-11 nas águas do Oceano Atlântico, a apenas 13 quilómetros das margens da comunidade de Peggys Cove, que fica a 43 quilómetros a sul de Halifax.

A última mensagem a ficar gravada foi “temos de aterrar imediatamente”. Eram 22h24 e seis minutos depois o aparelho despenhou-se no Atlântico.

Morreram todas as 229 pessoas a bordo, sendo a maioria de nacionalidade americana, francesa e suíça. A identificação visual de um corpo só foi possível em apenas uma das 229 vítimas.

“Foi como uma onda de choque”, indicou na altura Randy Daniel, habitante local. “Saímos de casa para ver onde tinha caído o trovão. Foi quando começámos a ouvir as sirenes e soubemos que algo terrível tinha acontecido”, descreveu.

'Operação Persistência' numa pequena comunidade de 60 pessoas

A pequena vila canadiana de Peggys Cove – cerca de 60 habitantes na altura – transformou-se neste dia 2 de setembro, assim como todo o país. Os relatos eram sofredores. Foram os pescadores locais a ajudar na procura por sobreviventes, foram os habitantes a receber os familiares das vítimas em suas casas, a comunidade ficou com a cicatriz daquele incidente nas suas margens de forma indelével, também através do memorial em pedra que ainda hoje lá se encontra, com os nomes de todos os que morreram naquele mar.

A ‘Operação Persistência’, levada a cabo para recolher destroços e restos mortais, acabou por conseguir reunir 98% do avião e cerca de 15 toneladas de carga. Entre os objetos perdidos, lembrava a canadiana CBC em 2013, estavam diamantes, jóias e até uma pintura de Pablo Picasso – ‘The Painter’ -, cujo valor estava na altura estimado em 1,5 milhões de dólares.

Incêndio ditou uma tragédia que seria impossível de evitar

Foram identificadas onze causas prováveis que terão contribuído para a queda do aparelho, de acordo com o relatório final da TSB (Transportation Safety Board of Canada). De uma forma geral, a principal causa terá sido a certificação inadequada dos materiais inflamáveis a bordo.

“Consequentemente, um material inflamável propagou um fogo que começou por cima do teto do lado direito do cockpit, perto da parede traseira do mesmo. O fogo espalhou-se e intensificou-se rapidamente, de tal modo que degradou os sistemas do aparelho e o ambiente do cockpit, levando à perda do controlo do avião”, terminava o relatório das autoridades.

A investigação encontrou provas de curto-circuito nos fios do sistema de entretenimento durante o voo mas foi incapaz de determinar se foi esta a causa primordial do incêndio. As autoridades esclareceram, ainda assim, que mesmo que a tripulação se tivesse apercebido do incêndio logo quando começou o odor e tivesse iniciado manobras para aterrar de emergência, seria impossível uma aterragem em segurança em Halifax por causa das condições criadas no cockpit.

Todos os passageiros tiveram morte imediata

A tripulação só se apercebeu de que se tratava de um incêndio tarde, uma vez que não soou nenhum alerta no cockpit. Mesmo depois de se começar a ver fumo dentro do cockpit, não havia informação sobre a sua procedência (e o que fazer para o controlar). A dada altura, todos os painéis do cockpit falharam e o piloto foi obrigado a manusear o avião sem nenhuma indicação de altitude, velocidade ou localização.

A recuperação das caixas negras, e a análise dos indicadores de altitude e de velocidade, mostrou que o aparelho embateu na água a 560 quilómetros/hora, de nariz para baixo e quase invertido. A força do impacto no oceano foi de 350 vezes a força da gravidade. Todos os passageiros tiveram morte imediata devido à força do impacto e à desaceleração.

De acordo com a publicação da Associação Médica Canadiana, foi possível identificar apenas um corpo à vista desarmada. Foram recuperadas 15 mil partes de corpos que foi preciso identificar e catalogar, num trabalho que envolveu exames de ADN a cerca de 100 corpos, registos dentários respeitantes a cerca de 90 e impressões digitais ou raios-x tirados 'ante-mortem' (em vida) para cerca de 30 vítimas. Uma articulação com as famílias que ficou concluída em outubro desse mesmo ano.

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