Na manhã de 15 de julho de 1997, Gianni Versace saiu da sua mansão em Miami Beach, na Florida, para um passeio, um café e para comprar revistas. Naquele dia tinha ainda um jogo de ténis marcado para mais tarde com um amigo. Mas quando estava prestes a entrar em casa, um homem surgiu e assassinou-o com dois tiros.
O responsável pela morte da figura que marcou de forma indelével a indústria da moda foi Andrew Cunanan, um filipino-americano de 27 anos, com um QI elevado, cadastro por pequenos delitos, homossexual assumido e que, apesar de origens humildes, se habituou a um vida de luxos sustentada por homens mais velhos com quem mantinha relações.
Oito dias depois do homicídio, o corpo de Cunanan foi encontrado numa poça de sangue num barco atracado que lhe servia de casa. Junto ao corpo estava uma arma. Era a mesma arma que Cunanan usara para matar Versace. A mesma que usou para tirar a sua própria vida. Nenhuma carta de suicídio foi deixada. Mas este desfecho violento tinha tido o seu início cerca de três meses antes, a quase dois mil quilómetros de distância, em Minneapolis.
De homicida a serial-killer
A 27 de abril de 1997, Cunanan matou Jeffrey Trail, um antigo oficial da marinha com quem privara. O homicida usou um martelo e escondeu depois o corpo no armário do arquiteto David Madson, um antigo amante seu, como recorda a ABC News.
Baleado mortalmente, David Madson tornar-se-ia a segunda vítima de Andrew Cunanan, que se preparava para passar de homicida a serial-killer.
Uma semana depois, a 4 de maio daquele ano, Cunanan estava já em Chicago onde faria, de forma brutal, a sua terceira vítima. O corpo do magnata Lee Miglin, de 72 anos, foi encontrado com as mãos e pés atados, com a cabeça coberta, a garganta degolada e dezenas de ferimentos resultantes de golpes dados com uma chave de fendas.
À terceira morte, o nome e rosto de Cunanan chegavam à lista dos Dez Mais Procurados pelo FBI. Mas cinco dias após a terceira morte, o serial-killer fazia uma quarta vítima, um funcionário de um cemitério em Nova Jersey: William Reese, de 45 anos.
As autoridades encontraram por perto o carro que pertencera a Miglin. Já a carrinha pick-up vermelha de William Reese desaparecera. Só seria encontrada quase dois meses depois. Foi abandonada em Miami Beach, junto à casa de Versace.
Na altura em que matou Versace, Cunanan estava já no radar das autoridades, mas continuava a escapar. Até que a morte do estilista levou mais agentes às ruas.
Cerca de mil, no país inteiro, estavam cada vez mais atentos a qualquer passo em falso do serial-killer. "Isso obrigou-o a mudar o padrão", explicou na altura William J. Esposito, do FBI, citado pelo New York Times. O cerco apertava-se, o que poderá ter precipitado o desfecho.
O mistério que fica
Ao longo da sua carreira, Versace vestiu e privou com gente da nobreza europeia às estrelas da música, passando por figuras de Hollywood.
Meses depois da morte de Versace, Elton John lançaria o álbum ‘The Big Picture’, que dedicou ao estilista e amigo pessoal.
O corpo do estilista foi cremado e as cinzas levadas para Itália. O império de moda continuou na família Versace.
Vinte anos depois da morte de Gianni Versace, são muitas as dúvidas que ainda persistem sobre o que terá levado a este trágico desfecho. Entre vinganças e homicídios que terão resultado de um momento de oportunidade, muito se especulou sobre o que levou o serial-killer nesta viagem de violência e morte.
Depois de uma primeira temporada em torno do caso OJ Simpson, a premiada série ‘American Crime Story’ irá dedicar a sua próxima temporada precisamente a Andrew Cunanan.
Entretanto, sobram ainda perguntas sobre o que levou Cunanan a uma série de homicídios brutais, que culminou no seu suicídio. Talvez as palavras que Richard Barreto, chefe da polícia de Miami Beach na altura, disse há 20 anos à CNN tenham sido proféticas: “Não sei se alguma vez iremos saber as respostas”.