"Tragédia que assolou o mundo" foi há oito anos e "falta fazer tudo"

Foi há oito anos que o voo 447 da Air France caiu sobre o oceano Atlântico, causando a morte de todas as 228 pessoas a bordo. Presidente de uma associação de apoio aos familiares das vítimas continua luta por justiça. "Perder um filho é uma coisa muito séria, não dá para transformar em palavras. Eu perdi um filho".

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Anabela de Sousa Dantas
31/05/2017 08:00 ‧ 31/05/2017 por Anabela de Sousa Dantas

Mundo

Acidente

No dia 31 de maio de 2009, às 19h29 (hora local) o voo AF447 descolou do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro com destino a Paris, França. Cerca de quatro horas depois de ter levantado voo começaram os problemas. Uma forte turbulência causou uma falha técnica que desligou o piloto automático e obrigou os pilotos a efetuarem manobras para manter o avião estabilizado.

Nesta altura, estavam no cockpit do Airbus A330 apenas o copiloto e um piloto em treino porque o comandante estava no período de descanso programado. Os dois funcionários fizeram a leitura da velocidade nos painéis do cockpit, que apresentaram discrepância durante um minuto, e reagiram de forma errada. O alarme disparou e o comandante foi de imediato para o cockpit, procedendo a várias tentativas de manter o avião estabilizado, mas sem sucesso.

A aeronave começou a perder altitude e em apenas três minutos e 30 segundos caiu sobre o oceano Atlântico. Todas as 228 pessoas a bordo perderam a vida.

Nelson Marinho, presidente da Associação de Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447), falou por telefone com o Notícias ao Minuto para fazer um ponto de situação sobre o caso. O brasileiro de 74 anos perdeu o filho, Marcelo, no acidente.

A busca pela verdade que "ainda não apareceu"

“Falta fazer tudo”, respondeu, quando questionado sobre o que faltava fazer em relação a este caso. “Até agora o processo, tanto na França como no Brasil, não foi concluído, nós temos aqueles resquícios de mentiras e não foram ditas as verdades. Fizemos uma campanha logo no início chamada ‘Em Busca da Verdade’. E essa verdade até agora não apareceu”, acrescentou.

As causas do acidente foram, de acordo com as conclusões finais do Departamento de Investigações e Análises (BEA), uma combinação de falhas técnicas e humanas. Uma opinião que é refutada pelas famílias, que acreditam que os problemas com o painel de navegação destes aparelhos da Airbus não são novos.

“Esse avião quando foi projetado e construído, quando voou pela primeira vez, foi uma tragédia. Na inauguração morreram três pessoas, só que o piloto não morreu, Michel Asseline. Foi perseguido, foi preso e ele não tinha culpa”, indicou.

Marinho refere-se a um voo inaugural da Airbus, a 26 de junho de 1988. O voo 296 da Air France explodiu no final da pista do aeroporto, em França. O piloto, Michel Asseline, foi condenado a pena de prisão e sempre se declarou inocente, culpando o painel de navegação por mostrar valores errados. O piloto da Air France, Norbert Jacquet, questionou a segurança do avião e até publicou um livro sobre o caso. Foi despedido da companhia, impedido de voar e declarado mentalmente instável.

"É uma coisa vergonhosa, a justiça francesa está a dever-nos muito"

O inquérito à queda do avião da Air France prossegue para apurar responsabilidades sobre a morte de 228 pessoas: se é da Airbus, da fabricante do avião, da Air France, da companhia aérea, ou da reação dos pilotos. No início deste ano, a justiça francesa ordenou uma nova perícia sobre o acidente.

Quem contratou essa perícia foi a Airbus, foi paga pela Airbus. É uma coisa vergonhosa, a justiça francesa está a dever-nos muito. A juíza que está à frente do caso bateu o martelo e disse que os culpados eram os pilotos e toda a gente começou a questionar. Saiu da mão dela e foi para instâncias superiores e estamos a acompanhar palmo a palmo”, indicou o presidente da AFVV447.

Nelson sublinha que a Airbus é “um consórcio de França, Alemanha e Inglaterra, e tem peças fabricadas nos Estados Unidos”. “O governo francês mentiu, eles não querem saber da verdade, eles não mostram a verdade. Eles devem muito às famílias que perderam os seus familiares nesse maldito A320”, afirmou.

"Perder um filho não dá para transformar em palavras. Eu perdi um filho"

Quando o voo 447 desapareceu dos radares foram iniciadas buscas mas, devido a fortes tempestades que se faziam sentir naquela área remota do oceano Atlântico, só seriam encontrados os primeiros destroços a 2 de junho. Na tarde desse mesmo dia, o governo brasileiro viria a confirmar a queda do avião e morte de todos os passageiros e tripulantes.

No dias que se seguiram foram recuperados 51 corpos e no dia 26 de junho de 2009, após mais de uma semana sem encontrar nada, as autoridades brasileiras encerraram as operações de busca, continuando o BEA encarregado de encontrar as caixas negras.

“Logo após a tragédia veio aquela cortina de fumo: ‘vamos ajudar com psicólogos’… Foi tudo uma farsa, o psicólogo durou dois, três meses e depois eles largaram-nos da mão”, lamentou Nelson, destacando que “indemnizações nem todos receberam” e que “os problemas são das famílias que perderam os seus entes queridos”.

Dois anos depois, a 4 de abril de 2011, graças a novos estudos estatísticos, foram encontrados novos destroços no fundo do oceano, com corpos ainda presos à fuselagem. No dia 1 de maio foram finalmente encontradas as caixas negras. Até novembro do mesmo ano foram recuperados mais 104 corpos, 103 foram identificados. No oceano, permanecem 74 vítimas que nunca foram recuperadas.

“A senhora já imaginou. A senhora é mãe? Se fosse mãe a senhora ia entender melhor o que eu vou dizer. Perder um filho é uma coisa muito séria, não dá para transformar em palavras. Eu perdi um filho”, lamentou Nelson Marinho, jurando não largar esta luta até trazer alguma justiça para si, para a sua mulher, Eva, e para todos os familiares das 228 vítimas.

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