António Guterres foi eleito sem vetos, por unanimidade e aclamação para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas pelos 193 estados-membro da Assembleia-geral. Hoje, dia 1 de janeiro de 2017, assume oficialmente o cargo.
O antigo primeiro-ministro português não conseguiu este consenso por acaso. Entre 2005 e 2015 esteve à frente do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), onde encabeçou uma série de reformas que melhoraram o funcionamento do órgão, tornando-o um dos mais bem sucedidos da organização. A experiência de Guterres como alto-comissário para os Refugiados traduziu-se numa redução de custos com pessoal de 41% para 22% do orçamento. Muitos vêm esta experiência no terreno como um bom sinal para as exigência que o seu novo cargo irá transportar.
Guterres foi primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002, apoiado pelo Partido Socialista, e enquanto ocupava o cargo foi, durante alguns meses, presidente do Conselho Europeu.
Nascido em Lisboa, licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade Técnica de Lisboa, Guterres começou o seu percurso político mesmo à porta do 25 de Abril, tendo aderido ao PS em 1973. Estreou-se como deputado à Assembleia da República em 1976 e em 1992, num congresso que o opôs a Jorge Sampaio, foi eleito secretário-geral do PS. Chefiou os XIII e XIV Governos Constitucionais, apresentando a sua demissão em 2001 após uma pesada derrota do PS nas autárquicas.
Uma das suas mais-valias, conforme descrevem os seus apoiantes, é o seu carisma e força política. Em Portugal, a sua candidatura foi apoiada da esquerda à direita no espetro político, tendo sido encarada sem contornos partidários.
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, disse sobre a candidatura de António Guterres que “foi um fator de união para os 230 deputados da Assembleia da República” e definiu-o como o “homem certo”. “Era óbvio para todos nós, na Assembleia da República, que o engenheiro António Guterres era o homem certo no lugar certo e no tempo certo”.
O secretário-geral assume este domingo o cargo que o seu antecessor, Ban Ki-moon, definiu como “o trabalho mais difícil do mundo” e as expetativas são sérias.
Espera-se uma reforma interna de uma organização pouco ágil e burocrática, estando na agenda a reabilitação da imagem das Nações Unidas, manchada com a falta de ação em tragédias como a de Alepo, na Síria, com escândalos como os abusos sexuais cometidos por capacetes azuis na República Centro-Africana ou o surto de cólera atribuído às forças de paz nepalesas mobilizadas para o Haiti.
Em entrevista à SIC, na última semana de 2016, mostrou confiança nos seus planos para “construir pontes” ao longo dos próximos cinco anos de mandato. “A maior parte dos conflitos que se resolveram no mundo tiveram a sua solução precedida por muito tempo de diplomacia discreta”.
“Há essa necessidade de multiplicar contactos, mesmo que não tenham imediatamente resultados, procurando progressivamente criar pontes em cima das quais seja possível no futuro construir soluções”, indicou António Guterres.