Amiga de casal McCann contactada por Julia Wandelt: "Senti-me zangada"

Fiona Payne e o marido eram um dos casais que estavam com Kate e Gerry McCann na Praia da Luz, no Algarve, Portugal, na altura em que a pequena Madeleine McCann desapareceu. Esta quarta-feira, na audiência em tribunal, a propósito do julgamento de Julia Wandlet - que alega ser a menina de 3 anos -, revelou ter descoberto mensagens perturbadoras no spam enviadas pela polaca.

"Fomos contactados por várias pessoas ao longo dos anos, mas nunca fomos contactados por ninguém que achasse que pudesse ser a Maddie", começou por dizer Fiona, depois de ser questionada pelo procurador se tinha sido abordada por Wandlet, cita o Mirror.

Na audiência foi apresentada aos júris uma gravação de Fiona a desligar uma chamada depois de Julia Wandelt se ter identificado. A amiga do casal McCann disse que recebeu inúmeras mensagens da polaca através do Facebook Messenger no ano passado, mas que só as descobriu na semana passada quando foi dar uma 'vista de olhos' à pasta do spam.

"Descobri inúmeras mensagens de uma pessoa chamada 'Julia Julia', incluindo fotografias de testes de DNA", contou, acrescentando que numa dessas mensagens - que leu para o júri -, Julia escreveu: "Olá, daquilo que percebi é uma das pessoas que ainda acredita que a Madeleine está viva. Preciso de ter as minhas amostras de ADN comparadas com os pais da Madeleine. Por favor, ajude-me. Não estou a mentir, lembro-me deles".

Fiona Payne adiantou ainda que Julia Wandelt também entrou em contacto com a sua filha, explicando que as mensagens era similares às que havia recebido, mas que "talvez fossem mais emotivas". 

"É muito difícil. Ela [a filha] é uma jovem adulta vulnerável que foi afetada pela desaparecimento da Madeleine, então teve o bom senso de ignorar [as mensagens]. Senti-me zangada por ela a ter tentado manipular", continuou.

Já questionada sobre o que tinha sentido depois de ver as mensagens de Julia Wandelt, Fiona disse ter sido "perturbador".

Antes de Fiona, o marido, David Payne, também foi ouvido e foi mostrada mais uma gravação de Julia após o ter tentado contactar: "Poderia, por favor, pôr-me com contacto com a Kate e o Gerry. Não desligue a chamada". Já numa outra disse: "Eu acredito mesmo que sou a Madeleine. Eu só quero saber". 

Julia Wandelt, recorde-se, está detida desde fevereiro e é acusada de perseguição à família McCann, assim como de ir à casa deles em Leicestershire. É ainda acusada de enviar cartas, e-mails, mensagens, fazer chamadas e deixar voice-mails a Kate e Gerry, assim como aos filhos gémeos, Amelie e Sean.

Amelie e Sean também (já) foram ouvidos

Amelie McCann, hoje com 20 anos, contou em tribunal, na passada quinta-feira, dia 9 de outubro, através de videoconferência, que Julia Wandelt estava "desesperada" por convencê-la de que era a sua irmã mais velha, Madeleine - desaparecida desde 2007, em Portugal.

Amelie revelou ainda que Wandelt lhe tinha enviado inúmeras mensagens nas redes sociais. A primeira foi em 2024 e dizia: "Sei de tantas coisas. Não sei se esta é a conta verdadeira da Amelie McCann, mas posso contar-te as minhas memórias". 

Já Sean McCann, que depôs por escrito, salientou que Julia Wandelt causou "muito stress" à sua família. Disse ainda que a afirmação constante da jovem ser Madeleine era "profundamente perturbadora". Mas, revelou sentir-se "culpado" por pensar assim, uma vez que acredita que a jovem polaca sofra de algum problema de saúde mental. 

E os pais? Que disseram?

Na quarta-feira, dia 8 de outubro, Kate e Gerry McCann, os pais de Maddie, como era conhecida Madeleine, testemunharam no julgamento. O relato de ambos foi feito atrás de uma tela azul, de forma a manter a privacidade, como lembra a BBC.

Contam os meios de comunicação social britânicos que o relato do casal impressionou todo o tribunal. Ao juiz, Kate McCann disse que o assédio durou anos e trouxe-lhe muita ansiedade.

"O nível de stress e ansiedade que isto me causou aumentou com o tempo", relatou a certa altura a britânica, assegurando que só se sentiu "realmente mais tranquila" após a detenção de Julia Wandelt, em fevereiro deste ano.

De recordar ainda que, na segunda-feira, dia 6 de outubro, na primeira sessão do julgamento, a Julia Wandelt chorou em tribunal, ao ouvir o procurador Michael Duck KC, que deixou desde logo claro que Julia não é Maddie.

"Poderíamos ficar tentados a pensar que isto tem alguma credibilidade. Mas, nesta fase inicial do julgamento, podemos deixar claro que Julia Wandelt não é Madeleine McCann", referiu o procurador.

Madeleine McCann tinha três anos quando desapareceu na Praia da Luz, no Algarve, em maio 2007, enquanto dormia no quarto de um apartamento de um aldeamento turístico, com os irmãos de 2 anos. O caso que se tornou muito mediático, dando origem até a documentários, continua sem desfecho.

Em 2023, Christian Brückner foi constituído arguido pelo Ministério Público pelo desaparecimento de Maddie McCann. O nome do alemão surgiu pela primeira vez na lista de suspeitos no rapto em junho de 2020. No entanto, nunca foi acusado, por falta de provas por este crime. Depois de cumprir pena de prisão pela violação de uma idosa, em Portugal, Brückner saiu da cadeia recentemente.

Leia Também: Família McCann acusa polaca que fingiu ser Maddie de assédio. "Abalada"