Irmãos de Madeleine McCann ouvidos em tribunal: "Foi perturbador"

Depois de Kate e Gerry McCann terem testemunhado, na quarta-feira, durante o julgamento da jovem polaca Julia Wandelt, de 24 anos, - que alegou ser Madeleine McCann, - foi agora a vez dos filhos gémeos, Amelie e Sean McCann, que à data do desaparecimento da irmã tinha apenas dois anos de idade.

O julgamento de Wandelt, recorde-se, começou esta semana, em Leicester, no Reino Unido. A polaca está acusada de quatro crimes de perseguição e encontra-se detida desde fevereiro.

Amelie McCann, hoje com 20 anos, contou em tribunal, através de videoconferência, que Julia Wandelt estava "desesperada" por convencê-la de que era a sua irmã mais velha, Madeleine - desaparecida desde 2007, em Portugal.

Amelie revelou ainda que Wandelt lhe tinha enviado inúmeras mensagens nas redes sociais. A primeira foi em 2024 e dizia: "Sei de tantas coisas. Não sei se esta é a conta verdadeira da Amelie McCann, mas posso contar-te as minhas memórias". 

Acrescentou ainda que era "bastante perturbador ela [Wandelt] falar dessas memórias", uma vez que não se tratava da sua irmã.

"Fez-me sentir bastante desconfortável porque é muito assustador ela dar aqueles detalhes e a tentar brincar com as minhas emoções", disse. 

As mensagens tornaram-se "persistentes" com Julia Wandelt a pedir para que Amelie e a mãe, Kate, fizessem um teste de ADN. Enviou ainda fotografias que "claramente foram alteradas ou editadas".

Houve, aliás, um momento em que a jovem polaca, de 24 anos, terá imprimido fotografias suas e de Amelie e enviado para o endereço da residência da família McCann.

"Ela claramente editou as fotos para me deixar mais parecida com ela. Foi perturbador", notou, acrescentando que Julia "é polaca e tem família polaca que são os seus pais".

No seu depoimento, citado pela Sky News, Amelie McCann afirmou ter ficado assustada com uma mensagem de Julia Wandelt, onde afirmava que "faria qualquer coisa para provar a sua identidade". "Isso mostra até onde ela iria para ser ouvida, o que é um pouco assustador, porque não se sabe o que ela poderia fazer a seguir".

Inundada de mensagens, Amelie decidiu bloquear Wandelt nas redes sociais. No entanto, salientou que as ações da polaca acabaram por ter um forte impacto na mãe, Kate.

"Definitivamente teve um impacto negativo sobre ela e o seu bem-estar. O telefone dela estava sempre a tocar e era a Julia", explicou.

Depois da alegada visita de Julia e da sua amiga Karen Spragg, de 61 anos, à residência da família McCann, em dezembro, a segurança foi reforçada. Revelou que, em caso de necessidade, havia "um botão de pânico" que tanto Amelie como Sean poderiam acionar e, desta forma, alertar a polícia.

O irmão gémeo de Amelie, Sean, também depôs em tribunal esta quinta-feira. No entanto, o seu depoimento foi por escrito.

Sean McCann salientou que Julia Wandelt causou "muito stress" à sua família. Disse ainda que a afirmação constante da jovem ser Madeleine era "profundamente perturbadora". Mas, revelou sentir-se "culpado" por pensar assim, uma vez que acredita que a jovem polaca sofra de algum problema de saúde mental. 

"Se ela tiver plena consciência de que não é a Madeleine, mas continuar com as alegações de que é, será muito perturbador para mim", acrescentou.

O jovem de 20 anos também referiu ter recebido mensagens no Instagram, mas que optou por bloquear Julia imediatamente.

Amiga da família McCann diz ter recebido mensagens "implacáveis"

A última testemunha a ser ouvida, esta quinta-feira, foi uma amiga da família McCann, Ellie McQueen. No seu depoimento, contou que recebeu mensagens online "implacáveis". 

Tudo começou em junho de 2024, através do Facebook. Na mensagem, Julia pedia ajuda para entrar em contacto com os McCann. "Ela parecia ter conhecimento de que a minha mãe era próxima da Kate".

Depois recebeu uma outra mensagem onde Julia questionava o porquê de Kate e Gerry não terem comparecido numa vigília de homenagem a Madeleine - onde a polaca esteve. 

Já noutras mensagens, Julia terá referido de que "se lembrava" da sua vida com Kate e Gerry e afirmou que tinha  a mesma "mancha no olho direito" - uma característica física de Madeleine McCann.

O julgamento continuará a decorrer nos próximos dias. 

Kate e Gerry já foram ouvidos: "Se visse uma foto dela, reconheceria a minha filha"

Na quarta-feira, dia 8 de outubro, Kate e Gerry McCann, os pais de Maddie, como era conhecida Madeleine, testemunharam no julgamento. O relato de ambos foi feito atrás de uma tela azul, de forma a manter a privacidade, como lembra a BBC.

Contam os meios de comunicação social britânicos que o relato do casal impressionou todo o tribunal. Ao juiz, Kate McCann disse que o assédio durou anos e trouxe-lhe muita ansiedade.

"O nível de stress e ansiedade que isto me causou aumentou com o tempo", relatou a certa altura a britânica, assegurando que só se sentiu "realmente mais tranquila" após a detenção de Julia Wandelt, em fevereiro deste ano.

A polaca terá começado a entrar em contacto com a família McCann há três anos. A partir daí o que se seguiu foi uma "perseguição" e "assédio" constantes, garantiram Kate e Gerry.

Tanto que Kate chegou "quase [fazer] um teste de ADN para resolver o problema", mas resistiu porque, ao ver as suas fotos, confirmou que ela era "polaca... não faz sentido".

"Não sei como é que Madeleine é neste momento, mas se visse uma foto dela, reconheceria a minha filha", assegurou Kate, segundo a Sky News.

Recorde-se que, na segunda-feira, dia 6 de outubro, na primeira sessão do julgamento, a Julia Wandelt chorou em tribunal, ao ouvir o procurador Michael Duck KC, que deixou desde logo claro que Julia não é Maddie.

"Poderíamos ficar tentados a pensar que isto tem alguma credibilidade. Mas, nesta fase inicial do julgamento, podemos deixar claro que Julia Wandelt não é Madeleine McCann", referiu o procurador.

Madeleine McCann tinha três anos quando desapareceu na Praia da Luz, no Algarve, em maio 2007, enquanto dormia no quarto de um apartamento de um aldeamento turístico, com os irmãos de 2 anos. O caso que se tornou muito mediático, dando origem até a documentários, continua sem desfecho.

Em 2023, Christian Brückner foi constituído arguido pelo Ministério Público pelo desaparecimento de Maddie McCann. O nome do alemão surgiu pela primeira vez na lista de suspeitos no rapto em junho de 2020. No entanto, nunca foi acusado, por falta de provas por este crime. Depois de cumprir pena de prisão pela violação de uma idosa, em Portugal, Brückner saiu da cadeia recentemente.

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