A invulgar visita de Xi Jinping ao Tibete é marcada por simbolismo político, ao ocorrer após o 14.º Dalai Lama ter reafirmado que só a Fundação Gaden Phodrang, por ele fundada, tem autoridade para reconhecer a futura reencarnação do líder espiritual.
Pequim, por seu lado, insiste que o sucessor do Dalai Lama "deve ser procurado no interior da China e receber a aprovação do Governo central".
Xi exortou na quarta-feira as autoridades da região a construírem um Tibete "unido, próspero, civilizado, harmonioso e belo", de acordo com a agência de notícias estatal Xinhua, apesar das persistentes críticas internacionais à situação dos direitos humanos e da liberdade religiosa nesta região dos Himalaias.
Sem mencionar diretamente o Dalai Lama, Xi acrescentou que "a estabilidade deve ser garantida" e "o budismo tibetano deve ser orientado na sua adaptação à sociedade socialista", sublinhando "a importância de manter a liderança do Partido Comunista Chinês [PCC]" na região.
Entretanto, o principal conselheiro político da China, Wang Huning, sublinhou hoje, numa cerimónia comemorativa, com a presença de Xi, que o Tibete entrou no "melhor período de desenvolvimento".
O responsável sublinhou os "importantes projetos e políticas nacionais que transformaram a região", conduzindo a "uma melhoria dos padrões de vida e a um Tibete socialista vibrante e moderno".
"Isto demonstra plenamente a forte liderança do PCC e as importantes vantagens políticas do nosso sistema socialista", acrescentou.
Xi chegou ao Tibete na quarta-feira, na segunda visita como chefe de Estado, para participar nos eventos comemorativos.
Imagens transmitidas hoje pela emissora estatal CCTV mostravam dezenas de pessoas na praça do Palácio de Potala a erguer uma gigante bandeira chinesa, bem como a insígnia do PCC e retratos de Xi, que construiu um forte culto de personalidade depois de assumir a presidência chinesa, em 2013.
A primeira visita de Xi Jinping ao Tibete como Presidente ocorreu em 2021, por ocasião do 70.º aniversário da chamada "libertação pacífica" de Pequim, quando, após a entrada das tropas comunistas, foi assinado o Acordo dos 17 pontos, selando a incorporação da região na República Popular da China.
O aniversário que agora se celebra comemora a criação da região autónoma do Tibete, em 1965.
Pequim apresenta este estatuto como um mecanismo destinado a assegurar a participação das minorias étnicas na política e a preservação da identidade cultural destas, enquanto ativistas tibetanos e organizações de defesa dos direitos humanos acusam o Governo chinês de repressão, assimilação forçada e restrições à liberdade religiosa.
Por outro lado, a região continua a ser de grande importância estratégica devido à fronteira com a Índia, país com o qual a China tem disputas territoriais e onde o Dalai Lama vive desde 1959.
A chegada de Xi coincide com uma visita, esta semana, do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, a Nova Deli, onde as duas partes se comprometeram a melhorar as relações após os confrontos fronteiriços de 2020.
Além disso, em julho, a China iniciou a construção em território tibetano daquela que vai ser a maior barragem hidroelétrica do mundo, um projeto que suscitou preocupações precisamente em países vizinhos como a Índia e o Bangladesh.
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