As conclusões são da diretora executiva do Comité de Contraterrorismo (CTED) da ONU, Natalia Gherman, que indicou que também no Afeganistão e na Ásia Central essas táticas estão ativas.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU em que foi apresentado o relatório estratégico semestral do secretário-geral sobre a ameaça representada pelo Estado Islâmico no Iraque e no Levante, Natalia Gherman explicou que o grupo terrorista utiliza filiais regionais e nacionais e recebe donativos globais substanciais, recorrendo a centros regionais e a redes financeiras transfronteiriças.
Os métodos de financiamento utilizados pelos terroristas combinam inovações digitais com canais tradicionais, dificultando a deteção e a supressão dos fluxos financeiros que apoiam o terrorismo.
Este ano, o CTED realizou visitas aos Camarões, Chade, Hungria, Malta, Noruega e Somália, de forma a identificar necessidades de assistência técnica e a fornecer recomendações personalizadas face às ameaças.
Na Europa, as visitas demonstraram a necessidade persistente de vigilância, "dado que a ameaça terrorista continua a desenvolver-se com os meios sofisticados a que os terroristas recorrem", incluindo Inteligência Artificial e redes sociais para recrutamento e propaganda, disse hoje Gherman.
O CTED concluiu que, apesar dos esforços internacionais contínuos, o Daesh (acrónimo árabe do Estado Islâmico) continua a ser uma ameaça persistente à paz e à segurança internacionais devido à sua capacidade de adaptação e de exploração da instabilidade, particularmente em partes de África ou Médio Oriente, como no Iraque e na Síria - países onde o grupo mantém até 3.000 combatentes.
Na Síria, por exemplo, o Estado Islâmico tem procurado tirar partido do cenário volátil de segurança que o país atravessa e da grave situação humanitária e de direitos humanos que se vive nos campos do nordeste.
De acordo com a ONU, esses ambientes apresentam sérios riscos de radicalização para o terrorismo.
Na reunião de hoje esteve igualmente presente o chefe do Escritório das Nações Unidas para Contraterrorismo (UNOCT), Vladimir Voronkov, observando que, na Síria, a situação mantém-se frágil desde a tomada de poder liderada pelo grupo Hayat Tahir al-Sham (HTS).
O Estado Islâmico continua a explorar brechas de segurança, a realizar operações secretas e a incitar tensões sectárias no país.
"A preocupação do secretário-geral com a possibilidade de 'stocks' de armas caírem nas mãos dos terroristas infelizmente materializou-se", lamentou Voronkov.
O Estado Islâmico apreendeu armamento pesado mantido pelo anterior governo sírio e procurou recrutar combatentes locais insatisfeitos, combatentes terroristas estrangeiros e ex-soldados do regime de Damasco.
O chefe do UNOCT disse ainda que, embora vários líderes do Estado Islâmico tenham morrido nos últimos anos, o grupo conseguiu manter a sua capacidade operacional.
"Não há indícios de que o assassínio do seu vice-líder responsável pelo planeamento operacional, resultante das operações de combate ao terrorismo no Iraque em março, traga diferenças. Segundo os Estados-membros, o grupo poderá recuperar desta perda no prazo de seis meses", afirmou.
Sobre a situação no Afeganistão, o Estado Islâmico "continua a representar uma das mais graves ameaças à Ásia Central e fora dela", onde o grupo tem como alvo civis, grupos minoritários e estrangeiros, explorando o descontentamento com as autoridades de facto, lideradas pelos talibãs.
Os grupos terroristas continuam a utilizar plataformas de mensagens encriptadas para proteger as suas comunicações, a alavancar sistemas de financiamento coletivo para angariar fundos e a experimentar cada vez mais ferramentas de Inteligência Artificial para impulsionar a propaganda.
Voronkov garantiu haver relatos de que o grupo terrorista poderá estar a procurar recrutar especialistas em cibersegurança, possibilidade que considerou "extremamente preocupante".
Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos manifestaram o seu compromisso com o desmantelamento de organizações terroristas, admitindo profunda preocupação com as operações contínuas e as expansões territoriais destes grupos.
Washington apelou aos Estados-membros da ONU para que aumentem a cooperação visando abordar a crescente adaptabilidade dos grupos terroristas, particularmente a utilização de drones, criptomoedas e redes descentralizadas que evitam a deteção e sustentam as operações.
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